sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Gritos Mortais

Assisti Gritos Mortais (2006) de James Wan no Telecine Premium. Vi esse filme sem me programar, o que é raro. Era uma noite sem opções, zapeando resolvi arriscar e que ótima surpresa. Eu gosto muito do gênero, gosto de filmes de suspense meio terror que trazem uma história profunda de mágoas, vingança, principalmente com texto psicológico. Não gosto do gênero terror que não precisa explicar, tudo é desculpa para violência principalmente física. Gritos Mortais tem um roteiro muito inteligente e muito bem conduzido. E apesar do elenco ser bastante jovem, tiveram um bom desempenho. Esse diretor nasceu na Malásia em 1977 e é bem jovem também.

A esposa de nosso protagonista recebe um boneco ventrílogo de presente e morre horrivelmente. O marido ouvia em criança em versinho horrível sobre bonecos ventrílogos, vai na caixa do presente e descobre que o boneco veio de sua cidade natal. Resolve voltar lá para investigar, ainda mais que ele está sendo acusado de ter matado sua própria esposa. O rapaz é muito bem interpretado pelo australiano Ryan Kwanten. A esposa pela canadense Lisa Ashen. Outros do elenco são: a bela Amber Valletta, Donnie Wahlberg, Michael Fairman, Michael Fairman, Judith Roberts e Bob Gunton.


A fotografia de Gritos Mortais, realizada por John R. Leonetti, é belíssima! Uma das cenas mais lindas é do enterro de sua esposa em sua terra natal. É uma cena com muitas folhas caindo, só música, pouco melodrama, mas de uma beleza surpreendente. A trama toda é muito bem agendada. Quando vamos compreendendo tudo, ainda somos supreendidos com ótimas soluções. Ficou com cara que permite continuação. Mas de qualquer forma, anotei o nome do diretor e quando ele lançar outros filmes, vou querer ver. Ele sabe criar climas de tensão, é muito habilidoso em nos manter tensos e curiosos. E Gritos Mortais não é daqueles filmes que enrolam pra ter ação e terror para economizar. Gritos Mortais é eletrizante do começo ao fim. Não economizam nada em efeitos, belas cenas, cenários gigantes, vários cenários. Muito bem feito!

Gostei também da trilha sonora.
Música do post: dead silence theme

Youtube: Dead Silence


Beijos, Pedrita

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Novo Mundo

Assisti Novo Mundo (2006) de Emanuele Crialese no Cinemax. Uma co-produção entre França e Itália. Foi uma noite de escolha difícil. Os canais da tv a cabo iam passar esse que foi vencedor do Festival de Veneza e em outro um filme dinamarquês vencedor do Festival de Cannes. Escolhi esse. Gostei muito! Novo Mundo é ambientado na Sicília no início do século 20. Os moradores de uma pacata região da Itália, cheios de crendices, estão com vontade de seguir para o Novo Mundo. Seguem então na viagem uma avó, um pai e dois filhos. Pedem que eles protejam mais duas moças e outra belíssima, interpretada pela Charlotte Gainsbourg, se junta a eles. O protagonista é o ótimo Vincenzo Amato. Os outros são interpretados por: Francesco Casisa, Filippo Pucillo, Aurora Quattrocchi e Andrea Prodan.

A única forma das mulheres ingressarem no Novo Mundo é pelo casamento. Ou arranjado por carta com quem já vive nos Estados Unidos ou indo casadas. Há momentos de muito surrealismo quando eles imaginam o Novo Mundo. Maçãs gigantes, cenouras gigantes, dinheiros que caem de árvores. São momentos preciosos do filme. No pôster, eles estão andando no rio de leite que há nos Estados Unidos, onde ninguém passa fome.
A direção de fotografia de Agnès Godard é impecável. E as cenas de aglomerações, principalmente no barco, são impressionantes.

Assusta os testes que passam para os imigrantes quando chegam nos Estados Unidos. Questionados, os americanos explicam que é porque eles descobriram que a falta de inteligência é hereditária e que eles não querem pessoas assim no seu país. Eles deportavam aqueles que não passavam nos testes de inteligência.

Nuovo Mundo ganhou o Leão de Prata de Revelação, Prêmio UNICEF, Prêmio Pasinetti de Melhor Filme, Prêmio FEDIC, Prêmio SIGNIS e o Prêmio CinemAvvenire, no Festival de Veneza. Esse filme representou a Itália no Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro.

Na trilha sonora toca a canção Feeling Good com a Nina Simone. Outra música é a que está no trailer.

Música do post: Nina Simone - Feeling Good
Youtube: Nuovomondo (The Golden Door) trailer - Better quality


Beijos, Pedrita

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Safo Novella

Terminei de ler Safo Novella (2008) de Silvana Ruffier Scarinci pela Algol Editora e Edusp. O sub-título é Uma poética do abandono nos lamentos de Barbara Strozzi, Veneza, 1619-1677. Essa obra foi uma pesquisa da autora realizada pela Fapesp sobre essa compositora, a Barbara Strozzi. A capa do livro é de uma tela feita da compositora, pelo seu irmão. Eu fiquei fascinada em conhecer a história dessa mulher que por ser filha bastarda, não tinha dote e não podia se casar. Mesmo assim ela teve quatro filhos ilegítimos. No final do livro há um CD belíssimo com composições de Barbara Strozzi interpretado pela autora na teorba, a soprano Marília Vargas, na viola de Gamba, Sérgio Álvares, e nos violinos, André Cavazotti e Luis Otávio Santos.

Obra The Penitent Magdalene de Francesco Furini

Pouco se sabe sobre Barbara Strozzi, mas há indícios de que teria sido uma cortesã. A autora pesquisa e mostra a condição da mulher em Veneza, ainda mais aquelas que não tinham a proteção de um dote ou um nome nobre. Por sorte o pai de Barbara Strozzi era um homem culto, que criou uma academia onde se reuniam os principais intelectuais da época, o que deve ter ajudado a Barbara Strozzi ter se tornado uma grande compositora de cantatas e lamentos. Safo Novella é um livro musicalmente bastante teórico, entremeado estão os estudos sobre o período em que Barbara Strozzi viveu e principalmente a condição das mulheres da época. Um dos capítulos que mais me atraiu foi: Barbara Strozzi e as Mulheres de Veneza. A autora fala bastante também sobre a influência dos poemas de Safo, que foi uma poetisa lírica da Antigüidade, que era voga na época de Strozzi e sobre o maneirismo que influenciou também a música e a poesia da época da compositora. Há vários poemas no livro.

Obra Sansão e Dalila de Luca Giordano

Eu anotei muitos trechos de Safo Novella de Silvana Ruffier Scarinci. Vou selecionar alguns:

“Filha ilegítima de Giulio Strozzi – por sua vez filho ilegítimo de uma importante família florentina – Barbara Strozzi não receberia um dote, talvez por sua condição de ilegitimidade, ou talvez pelas convicções libertinas de seu pai, membro da Academia veneziana onde mais ferozmente se discutiam questões relativas à mulher. O valor dos dotes, subin­do consideravelmente no final da Renascença, era indicador de status social, e servia de base para o sucesso econômico da nova família. O casamento era a única posição social plenamente aceita para uma mulher."

“Barbara Strozzi permaneceria circunscrita no espaço semi-doméstico da academia criada por seu pai. Continuam misteriosas as razões pelas quais ela não teria encontrado acesso ao mundo verdadeiramente público da grande novidade musical do momento – a recém-criada ópera.”

“Estupros em Veneza faziam parte do macabro cenário da vida das mulheres da Sereníssima, onde a violência sexual era fato comum, algo quase esperado e inevitável para as mulheres de classes inferiores. Pouca esperança teriam elas de que fosse feita justiça contra as agressões – muitas vezes cometidas por grupos de homem – uma vez que era aceita a idéia de que o corpo feminino podia ser violado. “

“A música de Barbara limitou-se, portanto, ao gênero mais restrito da Cantata. Con­siderada um gênero menor, a Cantata foi negligenciada pela musicologia, provavel­mente por causa da atração exercida pela ópera, desde seus primórdios, sobre público e teóricos. No entanto, a produção de Cantatas na Itália seiscentista é imensa, e a maio­ria dos compositores dedicou-se a ela. Absorvida avidamente por uma sociedade que praticava a civil conversatione, a Cantata pode ser mais bem compreendida ao exami­narmos os hábitos deste ambiente do ócio cortês, no qual o gosto pela arguzia e pela arte da finzione se tornaram modus vivendi do homem de sociedade.”

Barbara Strozzi

“Escutai, amantes, a razão, oh, Deus,
Que me traz o pranto:
No adorado e belo ídolo meu,
que tão fiel cria, a fidelidade está morta...

Mas se a fidelidade me é negada
Por aquele inconstante e pérfido,
Que ao menos fiéis se conservem
Até à morte, as lágrimas!”

Música do post: Hor Care Canzonette Monteverdi canta Ensemble Barbara Strozzi


Youtube: Strozzi-Giusta negativa & Monteverdi-Pur ti miro



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Beijos,
Pedrita

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Segredo de Alcova

Assisti Segredo de Alcova (1946) de Jean Renoir no Telecine Cult. Há uns anos o canal fez uma homenagem a esse diretor colocando na programação vários filmes. Eu não consegui ver. Agora achei essa preciosidade com a belíssima Paulette Goddard que interpreta uma arrumadeira. Esse filme é baseado no romance de Octave Mirbeau, The Diary of a Chambermaid, e readaptado anos depois por Luís Buñuel com a Jeanne Moreau, que igualmente amei e comentei no meu blog. Nossa protagonista é amarga. é interessante ver como as duas atrizes são diferentes entre si e as escolhas dos diretores foram tão diferentes. Moreau realmente parece uma moça amarga, enquanto Paulette parece mais doce e fútil. Perfis bem diferentes, mas ambas almejam sair daquela condição servil de tantos maus tratos, nem que para isso tenham que fazer qualquer casamento, com quem quer que seja.

É uma obra que fala muito da diferença de classes, do abuso de superiores com seus serviçais. Nessa versão, nossa protagonista foi contratada exatamente por ser linda, para que com sua beleza consiga segurar mais o filho da família na casa. É vergonhoso como a patroa manipula a jovem, a usa realmente, quase prostituindo-a para aproximar seu filho da família. E o filme mostra também que às vezes o excesso de beleza em alguém de uma classe desfavorecida é alvo de abusos. O resto do elenco também é excelente: Burgess Meredith, Hurd Hatfield, Francis Lederer, Judith Anderson, Florence Bates, entre outros.

Música do post: Carlos Gardel (D06) - 12 Oh Paris




Beijos,

Pedrita

domingo, 14 de setembro de 2008

Auto da Compadecida

Terminei de ler a peça de teatro Auto da Compadecida (1955) de Ariano Suassuna. É o terceiro livro que leio daquela Coleção da Folha que foi vendido em bancas. Queria muito ler essa obra que inspirou o maravilhoso filme! Incrível como o cinema consagrou e configurou em nossas mentes aqueles personagens e que eu os via sempre a cada frase que lia. A agilidade, a criatividade das frases, o roteiro inteligente me fascinou. Ficava pensando como alguém poderia ser tão genial para criar e pensar tudo aquilo. É muito inteligente a forma como Suassuna mostra a igreja que só tem interesse nos paroquianos ricos e devotos aos cofres da sacristia.

Obra O Cangaceira (1952) de Aldemir Martins
Trechos de Auto da Compadecida de Ariano Suassuna:
“Auto da Compadecida! O julgamento de alguns canalhas, entre os quais um sacristão, um padre e um bispo, para exercício da moralidade.”

“Chicó -Mas padre, não vejo nada de mal em benzer o bicho.
João Grilo -No dia em que chegou o motor novo do Major Antônio Moraes o senhor não benzeu?
Padre – Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.
Chicó – Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.”

Música do post: Catingueira

Youtube: Trailer - O Auto da Compadecida




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Beijos,
Pedrita