Assisti
Lado a Lado (2012) de
Claudia Lage e
João Ximenez Braga na
TV Globo. A direção é de
Cristina Marques e
André Câmara. Está entre as minhas novelas preferidas. Como vem acontecendo há um tempo, as novelas das seis vem se inovando muito mais. Em geral poucos que comentam assistem realmente pelo horário, então verificam só os aspectos tradicionais e esquecem de olhar com mais profundidade.
Lado a Lado inovou em várias questões. Em geral como a mocinha engravida de outro rapaz, costuma perder o bebê, apesar do bebê ter sido roubado, quando a mãe descobre ela quer educar o filho e quer casar com o mocinho, que precisa lidar com o filho de outro homem e ainda conviver com as visitas do pai biológico. E não é só um casal de mocinhos, são dois, interpretados incrivelmente por
Camilla Pitanga e
Lázaro Ramos, Marjore Estiano e
Thiago Fragoso.
Lado a Lado debateu várias questões históricas, integrando os personagens nos fatos. A novela falou de um período pouco retratado, 1910 e 1920. Dez anos após o fim da escravidão, quando os negros foram soltos a própria sorte, sem perspectivas e tiveram que viver na marginalidade. O primeiro fato histórico retratado foi o Bota Abaixo, quando os governantes quiseram transformar o Rio de Janeiro em algo parecido com Paris, alargando as ruas, destruindo os cortiços onde a maioria que morava era negra. Os negros passar a se instalar nos morros, sem saneamento básico. Depois retrataram a Revolta da Chibata. Dez anos após a escravidão, os negros tentando trabalho e melhores perspectivas, se inscreveram pra trabalhar na Marinha, mas eram tratados na maioria das vezes como escravos, sendo açoitados. O Governo fingiu aceitar o fim da chibata para os negros pararem de se rebelar. Mas um pouco depois mandaram embora todos os que se rebelaram. O futebol foi retratado, veio da Inglaterra e era um esporte só para ricos. O jornalismo é um forte em Lado a Lado, para ajudar a contar vários fatos históricos do período, dois jornais, e vários jornalistas, fazem matérias dos temas. E era uma época que a leitura era uma diversão, então vários personagens leem e mencionam livros importantes.
O preconceito a mulher também foi muito bem debatido. Uma personagem engravida de um homem, a mãe viaja com a filha, finge que está grávida e assume o neto como filho para a filha ser preservada. Ela é interpretada pela
Priscila Sol. E a questão do divórcio. A mocinha se divorcia, para poder mostrar o que uma divorciada passa, não fizeram ela se entender com o marido. Então ela passa a sofrer todo o tipo de punição, a família a renega, só a aceita se ela ficar na fazenda escondida. Ela não consegue emprego, amigas, é colocada a margem da sociedade.
O respeito as religiões e tradições afro também foram tema. A capoeira era proibida, muito bem feita as cenas quando todos queriam conhecer o mestre do Jiu Jitsu, em um país que proibia uma luta similar, mas de tradições afro. O desrespeito a outros credos foi debatido. Dona Jurema foi presa por ler búzios e a sociedade foi pedir que ela fosse solta. Gostei demais que o casamento final foi no Cadomblé.
Eu adorava o personagem da solteirona Celinha, interpretada brilhantemente pela Isabela Garcia. Ela se apaixona pelo jornalista falido interpretado pelo ótimo Emílio de Mello. Ele é dono de um jornal revolucionário que vai muito mal das contas. Amei que quem resolve as finanças, negocia com anunciantes, é o personagem do Lázaro Ramos. Celinha é toda atrapalhada e assim continua. Ele é um solteirão convicto que adora a Celinha, mas ama também a sua liberdade. O romance atrapalhado deles é uma graça.
Outro casal que adorei foi o da Alice e Jonas, os dois atores estão ótimos Juliane Araújo e George Sauma. Ela uma moça reprimida pela mãe e ele um pobretão jornalista. Eu adorei também a personagem Esther, que foi muito bem interpretada pela bela Rhaisa Batista. Outra jovem e bela atriz que encantou em um personagem complexo foi Gilda, interpretada também muito bem pela jovem atriz Jurema Reis. A ambientação de época estava incrível. A direção de arte é de Mário Monteiro. Vários assinaram a cenografia e os figurinos maravilhosos eram de Beth Filipeck e Reinaldo Machado.
O elenco é e está incrível. Vários vilões excelentes: Patrícia Pillar, Sheron Menezes, Cássio Gabus Mendes, Marcello Melo Jr. e Caio Blat. Ótimos os rapazes janotas: Rafael Cardoso, Daniel Dalcin e Klebber Toledo. No morro viviam os personagens de Milton Gonçalves, Zezeh Barbosa, Tião D´Ávila, César Mello, Ana Carbatti, Rui Ricardo Diaz e Laís Vieira. Outros atores que gosto muito faziam papéis importantes: Bia Siedl, Alessandra Negrini, Guilherme Piva, Débora Duarte, Cláudio Tovar, Susana Ribeiro, Christiana Guinle e Romis Ferreira. Werner Schünemann, apesar de estar no núcleo principal, aparece pouco. No teatro estavam os atores: Maria Padilha, Paulo Betti, Álamo Facó, Tuca Andrada, Maria Clara Gueiros e André Arteche. As empregadas tem participações determinantes: Luisa Friese e Ana Paula Lopes.
São muitas crianças no elenco e estão ótimas. Adorei o ator que interpreta o filho da Isabel,
Cauê Campos. A delicada menina que faz a filha do Edgar,
Eliz David. E ótimos também os atores que fazem as crianças no morro:
Marcio Rangel, Jorge Amorim, Ana Luiza Abreu e
Zeca Gurgel. Fizeram pequenas participações:
Beatriz Segall, Maria Fernanda Cândido, Maria Eduarda, Elisa Lucinda, Anna Sophia Folch e
Thiago Amaral. Essas últimas novelas inovadoras,
Cordel Encantado, Lado e Lado e alguns incluem
A Vida da Gente, fica difícil se animar em novelas tradicionais. Estou muito emocionada que a novela
Lado a Lado ganhou
Emmy Internacional.
Beijos,
Pedrita