Assisti Frozen (2013) de Chris Buck e Jennifer Lee no Telecine Play. Frozen é da Disney, baseado em um conto de Hans Christian Andersen. Eu reluto um pouco de ver filmes que dão grandes comoções e esse foi um desses. É bem bonitinho, mas eu fiquei altamente frustrada. Eu era crente que era a história da Frozen, mas a pobrezinha sofre o filme inteiro e só a irmã que acaba tendo dois pretendentes e casa. A Frozen fica sozinha e só fazendo a vontade dos outros, fazendo pista de gelo para os cidadãos, patins para a irmã. Ela vive só para agradar os outros. Espero que no segundo arrumem um amor pra ela.
A história é da irmã. As músicas são muito bonitinhas, mas a mais famosa não me agrada tanto. Achei mais pra criança mesmo. Eu amei o boneco de neve e o alce. Fofos demais.
Terminei de ler Heróis Demais (2009) de Laura Restrepo da Companhia das Letras. Descobri essa autora em um sebo. Li dela A Noiva Escura que comentei aqui. Atrás do livro tinham indicações de Isabel Allende e Gabriel García Marquez, comprei sem conhecê-la. Amei! Depois ela ficou mais conhecida, veio até na Flip para falar desse seu último livro e comprei esse em uma promoção de dia disso ou daquilo com 50% de desconto. Ela mistura ficção com a vida dela como faz no livro anterior.
Obra de Alfonso Ferro
Tempos paralelos transcorrem em Heróis Demais. A juventude de militância da protagonista na Argentina, a busca pelo filho de dois anos levado pelo pai e a viagem da mãe e do filho, este adolescente, para saber o paradeiro do pai. O pai comete uma das maiores crueldades que alguém pode fazer a outro e uma grande violência contra a mulher. Ele vai passar o fim de semana com o filho de dois anos e desaparece com ele. Por ser militante ele sabia muito bem forjar documentos e desaparecer sem deixar rastros. Em paralelo a mãe com o filho adolescente viajam para a Argentina porque o filho quer rever o pai.
Obra de Olga de Amaral
Muito interessante como a mãe vai contando ao filho tudo o que aconteceu. A sua história. Muitas vezes ela já contou essa história, alguns trechos inúmeras vezes, então o filho a corrige em vários momentos porque praticamente já decorou toda a trágica trama. Heróis Demais é incrível, essa autora é fascinante. Triste obra.
Tanto o compositor bem como os pintores são colombianos como a autora.
Assisti no cinema Que Horas Ela Volta? (2015) de Anna Muylaert. Queria muito ver esse filme desde que vi matérias quando era realizado. E mais ainda quando começou a chamar a atenção nos festivais internacionais e ganhar prêmios. Estranhamente aqui no Brasil ficou fora da competição no Festival de Gramado, passou em uma sessão especial, mas não concorreu. Confesso que não entendi porquê. E é simplesmente maravilhoso! É tudo o que dizem e mais um pouco.
A personagem da Regina Casé mora e trabalha no emprego. Sem função definida. Foi babá do garoto, mas acumula as funções de cozinhar, arrumar os quartos, regar o jardim, servir à mesa e nas festas. Estranhei no fato dessa família parecer que tem problemas de locomoção. A empregada é chamada para tudo, até mesmo para trazer um simples copo d´água. O adolescente que ela cuidou deixa do lado de fora do quarto, no chão, um prato e um copo do que comeu e bebeu, como se estivesse em um hotel e não pudesse ir as outras dependências. Nunca exploramos assim a minha família. Nunca deixamos copos pela casa. Assim que podíamos levar os pratos na pia, depois dos 4 anos, o fazíamos. E quando ficamos maiores cada copo usado tinha que ser lavado. Não ficavam copos na pia. Todos tinham funções na casa, independente se no período tínhamos alguém que limpava a casa. Eu estranho muito essa educação que cria reizinhos que não fazem nada em casa. A filha dessa empregada precisa vir para São Paulo para prestar vestibular e vai morar na casa dos patrões da mãe. A mãe começa finalmente a perceber a relação de servidão e abuso em que está inserida. Que Horas Ela Volta? não é um filme panfletário, são as sutilezas que mostram ao público e a essa empregada os abusos. O roteiro é muito inteligente. A empregada comete aquele erro básico de muitas brasileiras, ela se incomoda que abram a geladeira, é dela, ela que decide o que sai e entra ali.
Aparentemente os patrões são bacanas, a empregada é "como se fosse da família", mas sempre até a página dois. O tempo todo a empregada é lembrada de qual é o lugar dela e consequentemente o da filha. Incrível como essa família já julga a filha da empregada e duvida que ela seja capaz de entrar em um curso da elite, arquitetura e em uma faculdade como a USP, que é para quem estudou em bons colégios. Eles julgam a menina assim que ela chega e vão se surpreendendo em perceber como a menina é informada, diferente do filho da casa que também vai prestar vestibular, mas que ainda parece um adolescente. A menina é mais madura. Eu imagino que esse filme venha encantando a Europa pela questão dos imigrantes por lá. Embora a relação doméstica seja diferente na Europa, não tenham empregadas nesse formato, boa parte dos serviços domésticos são realizados por imigrantes ilegais que ficam praticamente invisíveis nas casas que trabalham.
Eu acabei vendo em um shopping onde tinha desconto do Vivo Valoriza e me surpreendi com os comentários no início. Uma moça disse "folgada" se referindo a filha da empregada. Só depois do meio do filme que os comentários cessaram e ficou um silêncio constrangedor. Regina Casé simplesmente arrasa, mereceu todos os prêmios que ganhou e que venham outros. Gostei de todo o elenco. Não conhecia a menina que faz a filha da empregada, interpretada pela Camila Márdila. Gostei muito do Lourenço Mutarelli fazer o pai, gosto dos textos dele e ele está ótimo como esse pai que perdeu a função na família, que tem uma esposa dominadora e está claramente entediado. O garoto é interpretado pelo Michel Joelsas, eu adoro esse ator desde O Ano em que meus pais saíram de férias. A mãe é interpretada por Karine Teles. A faxineira que ajuda a empregada é interpretada pela Helena Albergaria. Amei os cachorros.
Vários atores fazem participações: Luis Miranda, Theo Werneck, Luci Pereira, Alex Husznar e Joyce Pascowitch. A trilha sonora é do Fábio Trummer, líder da Banda Eddie que tem duas canções no filme. Que Horas Ela Volta? ganhou Prêmio do Júri no Festival de Sundunce 2015 e prêmio da Confederação de Cinemas de Arte e Ensaio na seção Panorama do Festival de Berlim.