sábado, 17 de maio de 2008

Recital de Concurso

Fui ao Recital Aberto de Concurso de Efetivação para Professor Doutor de Acompanhamento e Repertório Vocal da USP no Auditório da Universidade de São Paulo. A prova com banca era do excelente pianista Ricardo Ballestero, que concorria a vaga de professor doutor para o departamento de música, na função de acompanhamento e repertório vocal na USP. Ele escolheu para participar do recital a maravilhosa Adélia Issa. Nas devidas proporções, tinha muita curiosidade de acompanhar um evento como esse. Eu quase participei de uma prova para a graduação de música. Na preparação para a prova resolvi mudar de curso. Imagino o nervosismo que deva ser. No início Ballestero comentou sobre o recital ser parte da prova do concurso e especificou as exigências do edital quanto ao repertório, muito interessante!

Foto de João Pires


O repertório era belíssimo. Começava com árias de Obras de Purcell (Dido & Aeneas), Mozart, Brahms (foto), Wolf, depois seguia para canções de Nepomuceno, Villa-Lobos e Guerra-Peixe. A segurança e a precisão dos músicos foi emocionante!
Música do post: I. Brahms Quintet (h-moll)
Beijos, Pedrita

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Gabrielle

Assisti Gabrielle (2005) de Patrice Chéreau no Telecine Cult. Uma co-produção entre França, Alemanha e Itália. Eu adoro esse diretor e a atriz principal Isabelle Huppert, não queria perder esse filme por nada e é absolutamente maravilhoso. Coincidentemente o tema é muito parecido com o do livro abaixo. É uma adaptação do livro do Joseph Conrad, O Retorno, que já anotei para ler. A estrutura de narrativa do Patrice Chéreau é maravilhosa. Tentei entender quais eram os motivos que fazem o filme estar em pxb ou colorido, mas não havia uma lógica óbvia. Começa com o marido indo para casa e nos relatando em pensamento a sua vida maravilhosa e sua ótima relação com sua esposa. Eles estão bem de vida, recebem amigos em eventos sociais, ele tem uma verdadeira adoração pela esposa.

Ele chega em casa e encontra um bilhete. É angustiante o quanto sofremos com ele sem saber o que ele leu, incrível essa forma de narrativa do diretor. Até que muito rapidamente aparece em uma tela negra o texto da carta. A mulher havia abandonado-o para viver com outro homem. Só que ela retorna. Então os dois passam a se agredir verbalmente e temos preciosidades maravilhosas. Um texto sublime interpretado magnificamente pelo casal. Ele é o excelente Pascal Greggory.
Nesse texto ela debate sobre a segurança de um não-amor. De uma relação já determinada até o fim dos dias do casal. Uma relação fria, mas mais segura que o amor. O amor é imprevisível, é visceral. O casamento estável, sem sobressaltos e sem amor traz segurança. Também ela tem uma vida burguesa muito estável. Me surpreendi com a quantidade de empregados que os despem e os vestem. Eles não fazem nada praticamente sozinhos. Há quatro empregadas vestindo-a, ela não abre um único botão.

Gabrielle ganhou César de melhor figurino e melhor produção de design.

Gabrielle é de uma beleza estética maravilhosa, um texto primoroso, atuações majestosas. Obra de arte!
Música do post: Fauré






Beijos, Pedrita

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O Amante de Lady Chatterley

Terminei de ler O Amante de Lady Chatterley (1928) de David Herbert Lawrence. Comprei esse livro da coleção da Editora Abril em um sebo por R$ 2,00, inacreditável não. E é um desses livros que se acha em lojas por baixo custo. Gostei bastante, mas Filhos e Amantes ainda é o meu preferido.O livro foi proibido um pouco depois de ser lançado por ser considerado pornográfico. Até acho que as relações sexuais do livro tenham incomodado, mas não duvido que o mais tenha incomodado foram duas questões, uma por ser uma relação entre classes sociais muito diferentes, onde a mulher deseja escolher o amante pobre ao marido bem nascido. E outra questão pelo fato dela querer abandonar o marido, mesmo ele sendo paraplégico e por ela não ter pena, nem achar que deva algum tipo de obrigação. Não duvido que essas questões tenham chocado muito na época, talvez até mais do que alguns detalhes da relação sexual dos dois.

Tela de Edmund Blair Leighton

Também deve ter incomodado o fato do casal ter conversado sobre ela conceber um herdeiro com outro homem e que o marido confiava em seu bom gosto. Eram textos revolucionários pra época. Se hoje talvez ainda causem alguma estranheza, que dirá naquela época.
Achei curioso O Amante de Lady Chatterley igualmente falar em minas de carvão como em Filhos e Amantes. Devia ser um universo comum para o autor, já que ele relata em bastante detalhe esse tipo de atuação e sobre cidades muito pequenas que vivem em torno das minas.
Eu não vi nenhuma adaptação dessa obra para o cinema.
Obra Dolce Far Niente (1904) de John William Godward

Anotei alguns trechos de O Amante de Lady Chatterley de David Herbert Lawrence:

“Vivemos numa época essencialmente trágica; por isso nos recusamos a tê-la como tal.”

“Havia padecido tanto que sua capacidade de sofrer se esgotara.”

“Tanto arriscara a vida e estivera tão perto de perdê-la, que o que dela lhe restava adquirira um valor imenso. O brilho dos seus olhos revelava o seu orgulho de não estar morto depois de tantas calamidades. Lá por dentro, porém, muita coisa morta marcava o seu desastre –muitos sentimentos mortos. Clifford tornara-se insensível.”


As obras ilustradas são de dois pintores ingleses que viveram no mesmo período que o autor do livro: Edmund Blair Leighton (1853-1922) e John William Godward (1861-1922)


Ralph Vaughan Williams é um compositor inglês (1872 - 1958)
Música do post: Stadsknapenkoor-Gorcum_MC1994_09_O-taste-and-see_Vaughan-Williams_PART-II_Orgelimprovisaties-5-themas_organist-Nico-D-Blom


Beijos, Pedrita

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O Elo Perdido

Assisti O Elo Perdido (2005) de Regis Wargnier no HBO Plus. Uma co-produção entre França, África do Sul e Inglaterra. Era uma noite de poucas opções, resolvi ver esse filme porque a Kristin Scott Thomas estava no elenco. Contracena com ela outro ótimo ator, Joseph Fiennes. Gostei bastante do filme que é muito indigesto e precisei de um certo esforço para continuar. No começo não entendemos ao certo. Os dois protagonistas mais negros caçam negros na floresta. Depois ficamos sabendo que um deles é cientista e acredita que os pigmeus estariam entre o macaco e os negros africanos na escala evolutiva da humanidade e querem aprisionar pigmeus para estudá-los. É difícil ouvir o cientista dizer que conseguiu caçar um macho e uma fêmea, como se aqueles seres humanos fossem animais. O Elo Perdido é ambientado em 1879, apesar de um período de muito estudo científico também de muita ignorância e preconceito.

O Elo Perdido não chega a ser um filme original, ele se remete a vários filmes que falam do ser humano utilizar outro como artista de circo para conseguir dinheiro. Do interesse desumano pelo exótico. Tema que já vimos em filmes como: O Garoto Selvagem do Truffaut, O Homem Elefante e King Kong. Mas é um filme bem realizado, esteticamente muito bonito, com uma fotografia belíssima dirigida por Laurent Dailland e uma bonita reconstituição de época com direção de arte de Zack Groebler e Nick Palmer.
Os dois jovens atuam muito bem e são interpretados por Lomama Boseki e Cécile Bayiha. Outros do elenco são: Hugh Bonneville, Iain Glen e Flora Montgomery.
Deve ter sido um filme difícil de interpretar pela forma complicada de comportamento de uma época tão claramente desumana. Não que hoje não existam questões complexas, mas são mais camufladas e politicamente incorretas.
O filme se arrasta um pouco em alguns momentos e o final força um pouco trazendo uma certa bondade a protagonista antes mercenária e transformando muito rapidamente um casal romântico de forma um pouco inverossímel, mas no geral é um bom filme que debate questões importantes sobre ciência e humanidade.
Música do post: 13 Shayalan Amabala


Beijos,
Pedrita

domingo, 11 de maio de 2008

O Segredo de Beethoven


Assisti O Segredo de Beethoven (2006) de Agnieszka Holland na HBO. Tinha curiosidade de ver esse filme, até mesmo quis ver no cinema, mas um amigo já tinha me avisado que era uma grande bobagem no ponto de vista do compositor, que valia mesmo pelo cuidado estético do filme. E é exatamente isso. Seria interessante terem criado uma mulher para que ela pudesse com o seu olhar acompanhar os últimos momentos de vida desse compositor, mas a forma como é construído é tão tolo e cheio de esteriótipos sobre o que acham ser um músico que dá enjôo.

A caracterização estética do Ed Harris como Beethoven está impecável e é muito linda a moça que aparece para ser a copista da Nona Sinfonia, moça que nunca existiu e foi interpretada por Diane Kruger. Há um olhar muito atual sobre as emoções. É forçado uma idosa que vive em um apartamento ao lado de Beethoven sem janelas dizer que todos a invejam por morar ao lado do compositor. Artistas nessa época não eram visto como celebridades dos dias de hoje. Eram vistos como excêntricos e Beethoven fui muito condenado por não aceitar religiões por parte de sua vida, o que isso criava repulsão, não atração.


Outra questão forçada é a copista reger no palco, no meio dos músicos para o maestro, já que ele não ouvia. Ela estaria escondida, o que é impossível em qualquer concerto. E ele não ter ouvido as palmas, já que ele ouvia um pouco e palmas de uma platéia inteira é impossível não se perceber. Outro momento patético foi ver o sobrinho chorando, para criar um momento de emoção. O sobrinho só o roubava, não tinha interesse em suas composições, fingir aquela reação lacrimosa foi demais.
Outra cena abominável é quando o protagonista quebra uma maquete de apresentação de um arquiteto. Por mais excêntrico que fosse, ele jamais praticaria um ato assim a não ser movido por algum grande motivo do que somente não ter gostado do projeto e não estar entre os decisores da obra.

Abstraindo-se Beethoven do filme e se pensando em um filme com um personagem totalmente fictício até que dá pra assistir.
Música do post: Beethoven cd 2 2




Beijos, Pedrita