Terminei de ler
Reparação (2001) de
Ian McEwan. Eu tinha visto no ano passado o filme
Desejo e Reparação, um dos meus preferidos e como o
Paisagens da Crítica sempre fala nesse autor, comprei no ano passado esse livro na bela
Livraria Nobel da
Avenida Paulista. Fui ler agora quando vi que o filme ia estrear no
Telecine, já revi alguns trechos e quis ler o livro pra rever o filme, agora vou ver quando passa de novo que quero rever na íntegra. O filme está impecável. O que muda um pouco é a ordem dos fatos, já que são duas linguagens diferentes, mas a cada trecho do livro revia as cenas exatamente como as tinha me maravilhado no filme. Desse autor eu já havia lido
Amsterdam e comentado aqui.
Reparação é bem diferente de
Amsterdam. O
marcador de livro que escolhi para desfrutar essa obra foi a
Bailarina de 14 anos do
Degas que tem muito a ver com esse texto.
No livro fica muito claro o tormento que se passa na menina que tinha uns 13 anos e que cria uma história na sua cabeça, já que adorava escrever. Ela tem seu primeiro contato com atos de amor e palavras obscenas e pela sua juventude se horroriza e acredita realmente que sua irmã corre perigo e não que está apaixonada. Como já tinha dito no post do livro, a menina faz uma confusão tremenda, até é explicável, mas que a polícia acredite totalmente em uma menina de 13 anos como testemunha é demais. Mas no livro fica claro que a cada depoimento que essa menina dá, ela tem mais convicção de sua história inventada.
O vestido verde maravilhoso que a personagem principal usa é mencionado detalhadamente no livro.
Obra
Window for Tate Gallery St Ives (1992-3) de
Patrick Heron De novo sofri com a impossibilidade da Reparação. Atos ou fatos que passam por nossa vida e que podem mudar totalmente o rumo dela, sem a possibilidade de refazermos ou retormamos. É uma visão muito realista e pessimista da vida, muito diferente das correntes de hoje em dia que pregam a possibilidade de uma vida plena, basta um bom pensamento e boas ações. Reparação mostra que nem sempre uma vida bem estruturada fica livre de um fato trágico. E a impossibilidade de Reparação. Isso é o que mais gosto nessa obra, a realidade atropelando todos os sonhos, projetos e amores. Porque acho que infelizmente a vida não é tão maravilhosa e às vezes um único momento pode destruir muitos os projetos. Que na ficção podemos inventar o desfecho que quisermos, mas que a vida real nem sempre é tão generosa conosco. Esse banho de realidade do livro é o que mais me fascina. Me emociono muito com esse texto!
Obra
Woldgate Woods (2006) de
David HockneyAnotei muitos trechos de Reparação de Ian McEwan, vou selecionar alguns para colocar aqui:
"A peça – para a qual Briony havia desenhado os cartazes, os programas e os ingressos, construído a bilheteria, a partir de um biombo dobrável deitado de lado, e forrado com papel crepom vermelho a caixa pra guardar dinheiro – fora escrita por ela num furor criativo que durara dois dias e que a levara a perder um café da manhã e um almoço."
“Briony era uma dessas crianças possuídas pelo desejo de que o mundo seja exatamente como elas querem.”
“Agora o tom de humor fora substituído pelo melodrama, ou pelo queixume. As perguntas retóricas tinham algo de repulsivo; o ponto de exclamação era o primeiro recurso daqueles que gritam para se exprimir com mais clareza. Ele só perdoava essa pontuação nas cartas da mãe, onde cinco exclamações enfileiradas indicavam uma piada das boas. Ele girou o tambor da máquina e datilografou um “x”. “Cee, acho que a culpa não é do calor.” Agora o humor desaparecera, e um toque de autocomiseração se insinuara. Seria necessário recolocar o ponto de exclamação. Claramente, a função do tal ponto não era apenas a de aumentar o volume.”
“Os dois tinham em comum o horror às brigas, e a regularidade daqueles telefonemas noturnos, embora ela não acreditasse no que ele dizia, tinha o efeito de confortar a ambos. Se essa falsidade era hipocrisia convencional, Emily tinha de admitir que a hipocrisia tinha lá sua utilidade. Havia coisas em sua vida que lhe davam contentamento – a casa, o parque e, acima de tudo, os filhos; para preservá-las, ela não questionava Jack. E sentia falta menos de sua presença que de sua voz ao telefone. Aquelas mentiras constantes, embora não fossem amor, eram uma forma de atenção; certamente ele haveria de gostar dela para inventar mentiras tão complexas durante tanto tempo. A falsidade de Jack era sua maneira de afirmar a importância de seu casamento.”
Os pintores e o compositor são ingleses.
Música do post: Stadsknapenkoor-Gorcum_CD1996_22_Eternal-father-strong-to-save_Dykes_descant-Britten
Beijos,
Pedrita