sábado, 12 de maio de 2018

Mal das Pedras

Assisti Mal das Pedras (2016) de Nicole Garcia no TelecinePlay. É baseado no livro da italiana Milena Agus que ganhou vários prêmios e agora quero ler. Gostei muito e realmente é claro o olhar feminino sobre a protagonista, tanto da autora quanto da diretora. No Brasil está com o péssimo nome de Um Instante de Amor, cafona e previsível. O original é infinitamente superior e original.

A protagonista vive em uma cidade provinciana e é interpretada brilhantemente por Marion Cotillard, incrível a entrega da atriz em uma personagem tão pouco convencional e racional. Ela se apaixona por um homem casado, mas ele não retribui. Ela faz um escândalo em uma festa da cidade. A mãe é insuportável. Depois de uma grave crise que ela tem por não suportar a rejeição, a mãe arranja um casamento. O futuro marido é interpretado por Alex Brendemühl. Ela conversa com o pretendente, diz que não gosta dele, ele diz que também não e se casam. Com o tempo eles acabam consumando o casamento e ela engravida. Mas tem o mal das pedras e vai para uma clínica na Suíça. Só aí que entendemos as dores que tinha na juventude e a mãe dizia que era fingimento.
Fiquei apavorada como tratavam pedras nos rins antigamente, isso porque o tratamento em clínicas de águas era para quem tinha dinheiro. Ela vai a uma estância de águas, toma muita água, banhos com jatos de águas nos rins, sauna. Sim, muita água ajuda a expelir pedras, mas depende de vários fatores. Muita água serve mais para prevenir pedras. Hoje existem muitos tratamentos para expeli-las e mesmo assim ainda são complexos e as crises continuam dolorosas, imaginem antigamente. Nessa clínica ela conhece um doente, um combatente da Indochina que está em tratamento porque seu único rim está com problema. Ele é interpretado pelo belíssimo Louis Garrel.
É bastante perceptível o olhar feminino nos conflitos dessa mulher. Sensível, passional, ela tem muita dificuldade de lidar com os sentimentos. Claramente a diretora e a autora são muito condescendentes com esses conflitos. Gostei muito! Filme delicado e triste!

Beijos,
Pedrita

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Sutil Violento

Assisti a peça Sutil Violento da Cia. Teatro de Heliópolis na Casa de Teatro Maria José de Carvalho. Tinha muita curiosidade de conhecer o trabalho dessa companhia. O resultado da peça vem em grupos de debates, estudos com encenação de Miguel Rocha. São quadros que relatam um pouco da violência nas comunidades.

É um espetáculo muito tenso, claustrofóbico mesmo, levando até uma catarse. Um texto em narração repte bastante a frase: "A gente se acostuma, mas não devia". Concordo plenamente. Ficamos anestesiados muitas vezes com a violência urbana. Gostei bastante. No elenco estão com Alex Mendes, Arthur Antonio, Dalma Régia, David Guimarães, Klaviany Costa e Walmir Bess Sutil Violento tem música ao vivo Giovani Bressanin (guitarra), Eduardo Florence (violoncelo) e Luciano Mendes de Jesus (percussão). Impressionante o registro vocal da Dalma Régia, como canta. Demais também do Alex Mendes. O trabalho corporal de Lúcia Kakazu também é incrível. E igualmente dos figurinos de Samara Costa. O grupo todo, inclusive músicos, direção, todos são muito coesos.

O espetáculo é muito forte, angustiante mesmo. Sutil Violento fica em cartaz até 8 de julho. O ingresso é como de outra peça que comentei aqui, pague quanto puder. Recebemos um envelopinho, colocamos lá o dinheiro e na saída em uma urna.

Eu adorei a Casa de Teatro Maria José. Sinto muito falta de casas em São Paulo. O jardim, com pedras rústicas, árvores no meio, a iluminação que fizeram, dá um teor bucólico ao lugar. 

Beijos,
Pedrita

terça-feira, 8 de maio de 2018

Salmo

Terminei de ler Salmo (1975) de Friedrich Gorenstein da Kalinka. Eu estava selecionando uns livros para ver qual compraria na feira da USP, Salmo estava na lista, e uma amiga ligou lá da USP perguntando se eu tinha esse livro. Fiquei eufórica, contei que estava na lista da feira e ganhei de presente. Não sou religiosa, mas tinha lido vários elogios, e queria muito ler. É fascinante!

Obra Última Jornada de Vasily Perov

Salmo tem um subtítulo que resume bastante o seu conteúdo: romance-meditação sobre os quatro flagelos do senhor. O livro é dividido em parábolas e faz paralelos com a trágica história da Rússia. As primeiras parábolas falam de tragédias na infância. A primeira ambientada na monumental fome dos anos 30 na Rússia. Uma mãe e vários filhos que vai dando os filhos e os abandonando pelo caminho. É a menina que narra essa parábola trágica. Dá muita agonia e dor com tanto sofrimento, fome, violência. Falta tudo. A segunda é ambientada na Segunda Guerra Mundial com o preconceito e perseguição aos judeus e é igualmente trágica, principalmente com as crianças. 

Obra Demônio Sentado (1890) de Mikhail Vrubel

Em todas as histórias está lá o Anticristo. Na primeira inclusive ele dá pão as crianças que tem fome, mas a mãe joga no chão e proíbe as crianças famintas de comer. Parece que o pecado de aceitar algo é pior que a fome. Esses pintores são mencionados em uma parábola onde um personagem vai a uma galeria com uns amigos e comenta as obras. As últimas parábolas são muito filosóficas. A história do Anticristo é baseada nos livros apócrifos livros que não foram reconhecidos pelos religiosos e não integraram o livro sagrado. Os textos de Salmo são absurdamente bem escritos, fiquei muito impactada com a erudição da obra, com a riqueza de vocabulário e com a filosofia do texto.

Friedrich Gorenstein (1932-2002) nasceu na Ucrânia, foi roteirista de filmes do Tarkóvski como O Sacrifício. No livro há um texto do tradutor russo Moissei Mountian que conta que Goresntein era judeu e nunca teve seus livros publicados na URSS. Depois passou a ser cultuado na Rússia. Salmo é o primeiro livro do autor traduzido no Brasil.

Beijos,
Pedrita