Terminei de ler
A Nau dos Insensatos (1962) de
Katherine Anne Porter. Comprei esse livro em um sebo por R$ 10,00 que foi publicado para aquelas edições de banca da
Abril Cultural. Quando fui procurar a capa do livro, só encontrei estrangeiras, porque o livro só é encontrado agora em sebos, não há edições na língua portuguesa disponíveis.
Obra de Clyfford Still (1965)
A Nau dos Insensatos é sobre uma viagem de barco do México para a Alemanha, antes do início da Segunda Guerra Mundial. A Nau dos Insensatos aborda todo o tipo de preconceito. Há uma exacerbação contra os judeus pelo momento histórico, mas todos trazem algum traço de preconceito com algum ser humano. A começar pelas 866 pessoas que viajam como bichos na terceira classe. Todos das outras classes conseguem se divertir, ir na piscina, dançar, mesmo vendo os da terceira classe sendo tratados como animais. Alguns inclusive acham mesmo que são animais, já que não são homens de bem, leia-se com algum poder aquisitivo.
Obra
Page 42, Paragraph 1 (Short Stories) (2000) de
Robert Rauschenberg
A Nau dos Insensatos é um livro intenso, triste e dramático. Páginas e páginas de desrespeito ao próximo, individualismo. Há um cachorro na história. Ele se perde. Todos se perguntam o que o cachorro faz andando no meio do baile, mas ninguém faz nada. Depois reclamam que o barco teve que parar para salvar o cachorro, mas ninguém se sente responsável pelo atraso por não terem feito nada para levar o cachorro de volta a cabine de seus donos. Os textos são contundentes, bem como o estilo de Katherine Anne Porter. É realmente uma pena que não se ache mais em livrarias obras dessa autora no nosso idioma. Katherine Anne Porter ganhou o Prêmio Pulitzer em 1965.
Obra de James Rosenquist -1992
A Nau dos Insensatos de Katherine Anne Porter é uma obra para se ler na íntegra, mas anotei alguns trechos para que sintam a complexidade de seu texto:
“Agosto de 1931 – A cidade portuária de Veracruz é, para o viajante, um pequeno purgatório encravado entre a terra e o mar; seus moradores todavia, sentem-se muito satisfeitos consigo mesmos e com a cidade que ajudaram a criar.”
“Como posso falar a uma mulher mais velha, a não se que ela me dirija a palavra primeiro?”
“Os negros chegavam pela porta dos fundos, naturalmente – disse Jenny -, e nunca vi um índio ou mesmo um hindu à nossa mesa de jantar; toda sorte de pessoas eram excluídas por uma razão ou outra, em geral por serem mal-educadas ou maçantes. Mas isso era uma mera observância dos costumes locais, explicavam-se eles, ou então estavam exercendo o seu direito natural de escolher a sociedade que mais lhe convinha; e tanto uma coisa como a outra eram fatores importantes de boas maneiras e da civilidade.”
“Contratei há pouco tempo um médico para iniciar uma série de artigos, muito eruditos, muito científicos, advogando o extermínio de todos os incapazes, quer ao nascerem, quer assim que se revelem incapazes. Método indolor, já se vê: nós realmente pretendemos ser clementes com eles, assim como todo o mundo. Não só as crianças defeituosas e imprestáveis, mas também os velhos – todas as pessoas acima de sessenta anos, ou sessenta e cinco talvez, ou quando quer que percam a utilidade; os doentes, os exaustos, que tanto dispêndio de energia custam aos bem-dotados, aos moços e aos fortes de nosso país... Para que sobrecarregá-los com semelhante fardo? O doutor está preparando para apresentar essa tese com argumentos poderosos, exemplos e provas fornecidas pela pesquisa e pela clínica médica, tem como pelas estatísticas sociais. Os judeus também, evidentemente, e todos os frutos de cruzamentos ilegítimos, raça branca com raças de cor, chineses, negros.. tudo isso. E quanto aos brancos condenados por crimes sérios.. bem, quanto a esses – concluiu, piscando o olho maliciosamente para ela -, se não os eliminamos, pelo menos o Estado tomará as necessárias medidas para que não ponham mais criaturas de sua espécie no mundo!
-Que maravilha! – exclamou Lizzi, extasiada. – Se isso fosse posto em prática, não teríamos por aí esse anão, nem tampouco aquele horrendo homenzinho da cadeira de rodas... nem esses espanhóis.”
Beijos,
Pedrita