sexta-feira, 6 de março de 2020

Graças a Deus

Assisti Graças a Deus (2018) de François Ozon no TelecinePlay. Esse é um dos meus diretores preferidos, tinha ouvido falar nesse filme, logo comecei a assistir. Que filme difícil!

Começa mostrando a vida de um casal católico (Mevil Poupaud e Aurélia Petit) e seus cinco filhos. A narração lê a carta que o homem escreve para a igreja. Ele descobre que um padre (Bernard Verley e Yves-Marie Bastien) que achava afastado está em Lyon, como os filhos vão a igreja, estudam pra crisma, ele não quer o padre perto dos filhos dele já que ele foi abusado aos 11 anos mais de uma vez por esse padre. Ele escreve para a igreja, para um padre que diz que é contrário a pedofilia na igreja. Mas o que esse homem acaba vendo é que a igreja só quer uma conversa com os dois, o homem que foi abusado na infância e o padre pedófilo. O pedófilo nem pede perdão, diz que é assim mesmo, assume que fez, que é pedófilo. O homem continua pedindo uma posição da igreja até que vai a uma missa com a família e lá está o padre pedófilo rezando aquela missa com várias crianças de coroinhas. Revoltado esse homem leva a denúncia a polícia, mesmo que o crime já tenha prescrevido. Eu acho admirável pessoas que mesmo após horrores praticados por uma religião continuem naquela fé. Irmã Dulce é outra que admirei ou me revoltei que não abandonou a igreja após os absurdos que fizeram com ela por não concordarem a forma como ela queria efetivamente ajudar os pobres. Hoje em dia igreja católica enche o peito vangloriando-se da Irmã Dulce, mas queriam a todo custo afastá-la enquanto era viva. Quanta hipocrisia!
Eu fiquei me perguntando porque o filme teria tanto tempo de duração, mas a resposta acontece logo. Com a denúncia daquele homem, o caso é novamente aberto. Como sempre surgiam denúncias, o caso estava arquivado. Como abriu o caso novamente, outros que denunciaram voltaram a ser procurados. O primeiro é um ateu (Denis Ménochet). Ele, no primeiro momento, acha que o assunto está encerrado, não quer reabrir o caso. Está casado, passou muito tempo. Mas com a esposa (Julie Duclos), ele descobre pela internet, que o padre não só continua atuando, mas com crianças. Há várias fotos na internet dele mais velho com crianças. Revoltado, ele começa a procurar outros que denunciaram e formam uma associação. Além da investigação policial, ele vai a imprensa mesmo advogados e delegados insistirem que atrapalharia o caso. Ele acha que não, que todos devem saber, que é uma questão de informação, concordo completamente com ele. O silêncio em casos de abusos é devastador. Inclusive acabo de ler que o padre denunciado nesse filme tentou adiar a estreia, monstro. 
É com a denúncia de um homem (Swann Arlaud) que aparece que tudo ganha completamente outros contornos, o que era abominável com todos os outros, consegue ficar insuportavelmente pior. Ele foi abusado pelo padre por anos. A forma como o padre o masturbava deformou o pênis dele. Pelo vício, crianças se viciam em comportamentos sexuais antes da hora, ele se masturbava da mesma forma. Na vida adulta, mesmo após inúmeros tratamentos, terapia, e todo o tipo de acompanhamento, ele nunca conseguiu se aprumar. Usava drogas, não tinha trabalho, tinha um casamento abusivo, problemas sexuais pela curvatura enorme no pênis. É a hora que a compreensão da gravidade fica mais clara para quem ainda estivesse cego e achando que já tinha passado, que eles tinham refeito suas vidas, vários estão bem de vida, casados, com filhos. Alguns perguntavam, principalmente familiares, para que remexer em algo tão antigo. A questão é que o padre continuava rodeados de crianças e a igreja não fazia nada. Essa associação passa a culpar a omissão da igreja. Além das denúncias na polícia, muitos como o primeiro que aparece contaram em detalhes para padres que cuidavam da questão da pedofilia na igreja. Inclusive a igreja tenta mudar o nome desses abusos para minimizar a gravidade. Com as matérias na imprensa, a investigação, esse padre foi finalmente afastado, mas nunca julgado e nunca foi preso. Absurdo. Essa associação é L´Enfant Bleu Lyon e está nesse site

Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 4 de março de 2020

Colette

Assisti Colette (2018) de Was Westmorelend na HBO. Eu queria muito ver esse filme. Tinha visto Chéri sobre a escritora Gabrielle Colette e lido o livro A Vagabunda. Esse filme é sobre a juventude de Colette. Eu adoro a Keira Knigthley.

O filme começa com Colette vivendo com os seus pais no campo. Um pretendente a visita regularmente. Assim que ele vai embora ela vai escondida a um lugar ter relações com ele. Ele é o escritor Willy, na verdade, basicamente, ele não escrevia nada. Vivia contratando pessoas que escrevessem por ele. Dois rapazes escreviam os textos de jornais e Colette se incube de escrever as cartas. Ele pagava muito mal os funcionários porque vivia endividado. Gastava tudo em jogo, mulheres, luxos e em uma vida desregrada. Apesar dele não deixar a mulher gastar nada pra ela, eles tinham uma vida intelectual estimulante. Dominic West interpreta Willy.

O mais difícil de ver é que ele era muito autoritário e ela acabava cedendo. Mas é fato que ela se tornou a escritora porque ele a estimulava pra isso. Tenho muita dificuldade de lidar com histórias onde o homem de alguma forma estimulou e conseguiu que o lado artístico da mulher aflorasse, mas que eram verdadeiros monstros. Dá muita raiva imaginar que talvez Colette não fosse escritora se não tivesse casado com esse marido abusivo. Colette contava suas histórias de infância, adolescente, desesperado pra pagar as dívidas, sugeriu que ela escrevesse sobre essas histórias, surgiu então a série Claudine que quero ler. Pelos textos todos sabiam que as inspirações e tramas tinham vindo das histórias da Colette, mas não sabiam que era ela que escrevia. Virou um furor, eles ficaram muito bem de vida, mas nem tanto porque ele continuava a gastar em jogos, extravagâncias e mulheres.
Os dois tinham uma vida afetiva bastante liberal, até ela conhecer um outro grande amor, Missy. Denise Gough interpreta essa mulher. A relação dos dois já estava muito desgastada com ela eternamente de coadjuvante nos livros. Essa paixão deu a coragem que ela precisava pra se libertar. No final textos contam que Colette entrou na justiça e conseguiu provar que a série Claudine fora escrita por ela. 

Beijos,
Pedrita

segunda-feira, 2 de março de 2020

O Advogado e O Imperador de Gilberto de Abreu Sodré Carvalho

Terminei de ler O Advogado e O Imperador - A História de um Herói Brasileiro (2015) de Gilberto de Abreu Sodré Carvalho da Duna Dueto. Eu vi esse livro na Feira do Livro da USP. Em breve vai ser lançado o filme Prisioneiro da Liberdade sobre o Luiz Gama, então queria ler mais detalhes da história, embora já conhecesse um pouco.
O marcador de livros é em couro.

Luiz Gama nasceu livre de mãe negra e pai branco, senhor de engenho, que nunca assumiu a paternidade. Quando ele tinha 8 anos a mãe precisou fugir porque era procurada por ter ajudado em uma fuga de escravos, a mãe achou que o pai cuidaria do filho. Mas o pai gastava muito em jogo, bebidas, perdeu tudo, então resolveu vender o filho como escravo com ajuda da igreja que o rebatizou como escravo. Quando chega a maioridade é que passa a estudar. Depois passa a estudar muitos livros de direito. No Império existiam só duas faculdades de direito, a de São Paulo e a de Recife, mas os números de casos eram muito maiores que os advogados formados. Então o Império credenciava pessoas para atuarem nos processos, e outros provisionados para defender os mais pobres que ficavam sem advogados. Luiz Gama consegue se destacar e lutar principalmente por homens livres tido como escravos. Na época era proibido traficar escravos, mas o contrabando continuava. A igreja ajudava nos batismos como tinham feito na infância do Luiz Gama e senhores de escravos também trocavam documentações de escravos mortos pelos contrabandeados da África já que o tráfico continuava clandestinamente. Luiz Gama passa a incomodar e a sofrer todo o tipo retaliação. É demitido da polícia que trabalhava, não tem autorização para ser ouvinte em aulas de direito, não tem autorização para defender pessoas.
Altivo, Luiz Gama nunca se curvava. Incomodava muito a corte que reclamava que ele não ficava no "lugar dele".

Foto do filme.

Trecho de  O Advogado e O Imperador de Gilberto de Abreu Sodré Carvalho:


“A coragem do Gama está em defender, mediante a lei, os africanos vindo à força, em um ambiente político no qual o Bragança é omisso e conivente com o tráfico ilegal. Seu destemor está em enfrentar juízes corruptos – eles próprios contrabandistas, em grande número -, ministros da Coroa Imperial que se valem do cargo para manter escravos ilegais e funcionários públicos que são beneficiários dos contrabandistas. E mais: o Gama opõe-se aos padres que batizam os africanos, atestando serem eles nascidos no país e, assim, passíveis de sujeição pérfida: opõe-se aos políticos do alto prestígio que substituem escravos mortos por africanos contrabandeados a quem lhes fazem tomar a identidade e a documentação correspondente. Triste Brasil! Os engodos feitos pelos padres enojam o tribuno. Ele se lembra do próprio caso: a formalização de dois assentamentos de batismo, um de menino livre e outro de escravo, o que deu a seu pai, medonho senhor de escravos, o arbítrio de o poder vender como peça. Triste Igreja!

A hipocrisia dos governantes e dos homens públicos é apavorante. Todos eles fingem ser decentes, gente de bem. Mas é raro se ver um correto e limpo no coração! Mais que todos, são torpes os juízes; porque deles se esperaria alguma isenção.”
Beijos,
Pedrita

domingo, 1 de março de 2020

Todas as Canções de Amor

Assisti Todas as Canções de Amor (2018) de Joana Mariani no TelecinePlay. Eu tinha curiosidade de ver esse filme! No começo estava estranhando, mas depois embalei. Que filme delicado e bonito! Me emocionei!

Um casal chega em um apartamento. Todo apaixonados, acham um aparelho antigo de discos e fita cassete e há uma fita no aparelho escrito a mão: Todas as Canções de Amor. Eles começam a ouvir e ficam pensando quem seriam as pessoas da fita.

O filme passa a entrecortar com o casal apaixonado que acaba de ir morar junto e o casal do passado em processo de separação. O roteiro é muito delicado, as músicas são lindas e são do período do casal do passado. É triste ver esse casal em processo de separação. Acharam que devem se separar, mas não é por brigas, só mesmo por desalinhamento. O tempo desgastou a relação.

Muito lindo quando a personagem nos dias de hoje fala que a fita é para uma separação, mas as músicas são verdadeiras declarações de amor. Interessante que o apartamento nos dias de hoje vai recebendo as mudanças, aos poucos os móveis vão sendo colocados, enquanto o do passado vai se esvaziando. O casal nos dias de hoje é interpretado por Marina Ruy Barbosa e Bruno Gagliasso.

O casal do passado por Luiza Mariani e Julio Andrade, como gosto desses atores. Os outros dois estão muito bem também. É lindo demais o apartamento com ambientes amplos, muito iluminado. No final a câmera se afasta e mostra o belíssimo prédio. Li em uma matéria que é em um prédio da Praça da República.
Beijos
Pedrita