sábado, 12 de abril de 2008

Terras do Sem Fim


Terminei de ler Terras do Sem Fim (1943) de Jorge Amado. Comprei esse livro em um sebo por R$ 6,00, na verdade esse o atendente me deu de presente já que eu levava vários outros. Minha irmã que falou que eu tinha feito uma ótima escolha e me ajudou a me decidir para ler essa obra agora. E acertou em cheio, devorei a obra, a minha curiosidade por toda a trama era incrível que eu não queria fazer outra coisa a não ser ler o livro. Eu não vi a novela de 1981.

Obra Dois Meninos Jogando Bilboquê de Belmiro de Almeida
Terras do Sem Fim narra de forma fictícia a posse e exploração do cacau na região de Ilhéus e Itabuna, antes mesmo da cidade ser nomeada Itabuna.
Nossos protagonistas são dois coronéis rivais. Tem bastante a estrutura de folhetim, amores, sofrimentos, doenças, a dificuldade de sobrevivência em uma terra liderada a bala. Me afeiçoei aos personagens, estilo clássico de Jorge Amado que nos faz questionar sobre o certo e o errado, a verdade e a mentira, o amor e a traição. Todos os personagens são complexos e apaixonantes.


Obra Moça com Livro (1850) de Almeida Júnior

As mulheres sofriam muito naquela sociedade rude e sem os refinamentos que aprenderam em escolas para crianças abastadas. Me afeiçoei muito a Ester que estudou em um colégio refinado e vai parar na casa de um parente em Ilhéus, onde aceita se casar com um dos coronéis sem gostar dele. Ela sofre muito com o medo das cobras da mata, com o jeito rude do marido. É uma comovente história.

Obra Tropical de Anita Malfati
Trechos de Terras do Sem Fim de Jorge Amado:

"O apito do navio era como um lamento e cortou o crepúsculo que cobria a cidade."

“Um dia, muitos anos antes, quando a floresta cobria muito mais terra, quando se estendia em todas as direções, quando os homens ainda não pensavam em derrubar as árvores para plantar a árvore do cacau que todavia não chegara da Amazônia.”

“Também Maneca Dantas não sabe por que diabo essa gente engana marido, com tanto perigo, ainda se dá ao luxo de escrever cartinhas de amor. Coisa de idiota...”


Com a republicação das obras de Jorge Amado é fácil achar esse livro em sebos e livrarias.


Música do post: Plangente de Chiquinha Gonzaga

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Beijos, Pedrita

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Estranhos no Paraíso


Assisti Estranhos no Paraíso (1984) de Jim Jamursch no Telecine Cult. No início havia uma abertura do Marcelo Janot que falou um pouco desse diretor que eu não conhecia. Ele comenta que o Telecine vai fazer um ciclo com filmes desse diretor, vou tentar conhecer outros. Gostei demais do filme e do estilo desse diretor. Em alguns momentos me lembrou o filme Os Cafajestes do Ruy Guerra. Um rapaz húngaro vai receber em seu apartamento uma prima porque a tia vai ficar uns dias em um hospital. Obviamente ele se incomoda e até que tem lá suas razões. Ele vive em um cubículo em Nova Iorque e precisa ficar com a prima em uma cama ao lado. Junta-se a esses dois outro amigo amalucado.


A relação dos três é muito interessante, toda cheia de má vontade e silêncios. O que recebe a prima não admite que seus parentes falem húngaro com ele, há uma nítida crítica ao paraíso americano. Quando eles viajam para a Flórida continuam com a mesma vida sem graça de antes, são sempre mal humorados, interagem mal entre si, estão sempre entediados. Há momentos muito engraçados. Todos estão no paraíso mas nenhum tem uma ocupação razoável. Ela é balconista de uma lanchonete e os dois jogam nos cavalos, pôquer, são viciados em jogo e nunca têm uma vida melhor.
Os três estão ótimos e são interpretados por: John Lurie, Eszter Balint e Richard Edson. Ela é a única atriz húngara do grupo.
O estilo da narrativa traz blackouts para mudar os momentos do filme, é muito interessante.
Estranhos no Paraíso é vencedor da Câmera de Ouro no Festival de Cannes em 1984.
A música é bárbara e vou colocar aqui. A música só aparece nas cenas pelo gravador da personagem.
Música do post e do filme: Jay Hawkins - I Put A Spell On You
Beijos, Pedrita

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Despertar de uma Paixão

Assisti O Despertar de uma Paixão (2006) de John Curran no Telecine Premium. Me surpreendi no começo, nos créditos que é baseado no livro do William Somerset Maugham e logo no início percebi que era um que já tinha lido. E é realmente, é O Véu Pintado que comentei com vocês aqui e amei. Também nos créditos vi que os protagonistas estavam na produção. Edward Norton que convidou Naomi Watts para participar do projeto. É muito fiel ao livro, tem toda aquela delicadeza e beleza da obra do Maugham que está entre os meus escritores preferidos. É poesia pura O Despertar da Paixão. O nome original do filme é exatamente o nome do livro. Minha mãe se emocionou muito com o filme. Há duas adaptações anteriores desse livro.



A adaptação está impecável. Eu me lembrava de cada detalhe, cada olhar, cada tempo dos personagens. Resumiram algumas cenas para o filme não ficar longe demais e resumiram muito bem, toda a essência estava ali. Inclusive no final tinha ficado com a sensação que resumiram bem e foi pegar o livro e eu tinha razão. Resumiram bem os sentimentos do final, mas suprimiram um período que esticaria muito o filme. O Despertar de uma Paixão começa na década de 20. Um médico desinteressante se casa com uma jovem ágil em Londres. Ele trabalha em Xangai e os motivos dela aceitar o casamento não tem nada a ver com o amor e sim com o interesse dela de se casar antes da irmã. Ela vai viver em um país que não tem absolutamente nada a ver com ela.



O casal é interpretado pelos ótimos Naomi Watts e Edward Norton. Alguns outros do elenco são: Liev Schreiber, Toby Jones, Diana Rigg, Juliet Howland, Anthony Wong Chau-Sang, Maggie Steed, Lorraine Laurence e Li Feng.
A direção de fotografia de Stuart Dryburgh e a de arte de Peta Lawson são impecáveis. A direção cênica também já que traz muita delicadez e poucos gestos, exatamente como sentimos o livro.

O Despertar de uma Paixão ganhou Globo de Ouro de Melhor Trilha Sonora que é realmente maravilhosa!

Música do post: Alexandre Desplat - Shanghai 1942


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Beijos,
Pedrita

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Anjos do Sol

Assisti Anjos do Sol (2006) de Rudi Lagemann no Cinemax. Sempre quis ver esse filme, não conseguir ver no cinema, mas não gostei muito. É um filme muito importante por abordar um tema complexo da prostituição infantil, mas não chega a ser um filme bem realizado. Há alguns problemas de andamento, alguns momentos é bastante lento, que diminuem a qualidade da obra. Mas é um filme ousado pela abordagem de um tema tão delicado e difícil.

Anjos do Sol começa no Nordeste com o pai vendendo a filha, ele e a esposa acreditam que quem a comprou vai arrumar um trabalho pra ela, mas eles não têm idéia do que irá acontecer com aquela criança de somente 12 anos. Ela é levada com outras crianças há um lugar muito distante onde a virgindade delas é leiloada. Depois de ser brutalmente desvirginada ela e uma outra garota são levadas para a Amazônia, para uma casa de prostituição onde estão muitas crianças. A menina, interpretada por Fernanda Carvalho, atua em seu primeiro filme e é impressionante o seu desempenho.

Anjos do Sol foi livremente inspirado em matérias que saíram na imprensa e talvez esse seja o motivo do enfraquecimento da trama que parece artificial. Sabemos que a infância de muitas crianças são perdidas, um tempo depois do lançamento do filme tivemos aquele caso horrível da menina na cela de homens em Belém do Pará. Mas a sensação é que em Anjos do Sol resolveram colocar na trajetória dessa garota e nas da sua volta tudo o que se ouviu dizer sobre esses abusos, o que acho que enfraqueceu o roteiro. A sensação que tive é que faltou algumas sutilezas. Entendo que o tema não traz sutilezas, mas a obviedade de algumas cenas soou artificial.

Há muitos bons atores em Anjos do Sol: Antônio Calloni, Mary Sheila, Bianca Comparato, Maurício Gonçalves, Otávio Augusto, Vera Holtz, Chico Diaz, Hylka Maria e Darlene Glória.

Anjos do Sol ganhou 6 Kikitos de Ouro no Festival de Gramado, de Melhor Filme, Melhor Ator (Antônio Calloni), Melhor Ator Coadjuvante (Otávio Augusto), Melhor Atriz Coadjuvante (Mary Sheila), Melhor Roteiro e Melhor Edição. Ganhou o Prêmio ACIE de Cinema de Melhor Ator (Antônio Calloni).
Música do post: Acalanto para Helena - Chico Buarque


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Beijos,

Pedrita

domingo, 6 de abril de 2008

Amsterdam

Terminei de ler Amsterdam (1998) do inglês Ian McEwan da Editora Rocco. Gostei muito! Fazia tempo que o Júlio Pimentel Pinto do Paisagens da Crítica tinha comentado sobre um livro desse autor, no blog dele. Eu coloquei vários do autor na minha lista de livros que desejo da Livraria Cultura e comprei esse recentemente. Me surpreendi com a estrutura da narrativa. Amsterdam começa em um enterro, dois amigos, ex-amantes da morta, o marido e outro ex-amante estão presentes. Esses quatro homens estão ligados profissionalmente entre si de alguma forma.

Obra The Tree (1988) de Allen Jones

Os dois amigos acabam se desentendendo porque de forma igual eles tomam atitudes horríveis para alcançar o sucesso profissional. Um quer elevar as vendas do jornal e resolve usar fotos de relações entre a morta e um grande político. O outro vê um homem brigar com uma mulher e arrastá-la, mas prefere parar em um lugar mais calmo pra compor sua música no momento de sua inspiração. Mas os dois só acham o outro culpado. O texto é complexo e cheio de nuances, incrível!



Obra Sidney (1990) de Patrick Heron

Trechos da obra Amsterdam de Ian McEwan:

“Aquela gravidade calma não era nem um pouco o estilo dele, que sempre fora ao mesmo tempo carente e austero;ansioso para ter amigos, mas incapaz de encarar a amizade como natural.”

“Ele não tinha nenhuma companheira, nenhuma esposa, nenhum George pra cuidar dele, o que talvez fosse uma bênção. Mas o que tinha em vez disso? Rolou de lado e puxou os cobertores em torno de si. O asilo, a tevê do salão durante o dia, o bingo e os velhos com seus cigarrinhos, seu mijo e sua baba. Isso ele não iria agüentar.”

“O índice ABC do último mês fora sete mil pontos mais baixo que o do mês anterior. O tempo estava se esgotando para The Judge. Ele ainda estava pensando se publicava ou não uma matéria sobre os dois irmãos gêmeos siameses unidos pelo quadril – um deles tinha o coração fraco, de modo que não podiam ser separados – que haviam conseguido emprego de funcionários públicos. Se a gente quer salvar esse jornal”, gostava de dizer Vernon na reunião editorial matinal, “todo mundo vai ter de sujar as mãos”. Todos assentiam, mas ninguém concordava.”

“Sabemos tão pouco uns dos outros. Jazemos quase que submersos, como blocos de gelo, mostrando apenas a parte branca e fria de nossos eus sociais. Ali estava uma rara visão, por baixo das ondas, do tumulto e da privacidade de um homem, da sua dignidade posta de cabeça pra baixo pela necessidade avassaladora de fantasia pura, de pensamento puro, por aquele elemento humano irredutível – a mente.”

Ambos os pintores das telas são ingleses.

Música do post: Ridiculous Thoughts de The Cramberries

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Beijos,

Pedrita