sexta-feira, 6 de novembro de 2020

1917

Assisti 1917 (2019) de Sam Mendes no TelecinePlay. O 007 viu no cinema, disse que foi o último filme que viu antes da pandemia. Como todos nós, ele está com saudades de eventos culturais presenciais.
1917 é uma aula de cinema. Impressionantes as contínuas gravações que fizeram. Eu vi uma matéria que fala que em alguns pouquíssimos momentos tiveram que cortar as cenas. Algumas eu desconfiei, mas a maioria a gente não faz a mínima ideia.

Dois militares muito jovens, como a maioria que eles cruzam no caminho, recebem a missão de seguir para outro campo de batalha e tentar impedir o ataque. Os alemães que prepararam aquela investida, que seria uma armadilha. Com o ataque cancelado, 1600 homens poderiam ter suas vidas poupadas. 
Assim que o filme começa, a câmera acompanhando já começa. Eles estão descansando e são chamados para as trincheiras para receber a missão. George MacKay e Dean-Charles Chapman estão excelentes, o filme é praticamente eles o tempo todo. Fiquei pensando a dificuldade de produção. Primeiro o filme teria que ser todo arquitetado, para que cada cena fosse produzida anteriormente, para quando os personagens passassem, as cenas acontecessem. 

As cenas dificílimas no rio são impressionantes. 1917 ganhou inúmeros prêmios, merecidíssimo!

Durante a missão alguns grandes atores aparecem em pequenas participações: Colin Firth, Mark Strong, Richard Madden e Benedict Cumberbatch. Só uma única mulher aparece no filme interpretada por Clara Duburcq.

Beijos,
Pedrita

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Lykke-Per

Assisti Lykke-Per (2018) de Bille August na Netflix. Eu não vejo esse filme como de uma história de amor. Fala muito mais dos traumas perpetuados na vida adulta, das diferenças culturais, financeiras, preconceitos e religião castradora. É um filme bastante complexo e difícil, inspirado no livro do dinamarquês Henrik Pontopiddan, escrito entre 1898 e 1904. Impressionante que tenha sido escrito há tanto tempo e tenha tanta noção de psicologia. Esse livro é considerado o mais autobiográfico do autor que agora quero ler.

O protagonista é um homem muito difícil, ambicioso e egocêntrico. Mas conhecendo-o melhor, vemos que ele quer a todo custo provar a família castradora pela religião de que ele é capaz e vai ser bem sucedido em uma área que a família condena. Ele entra na faculdade de engenharia, mas o pai é contra, tinha outros planos pra ele, e diz que não vai dar o dinheiro caso ele siga com o projeto de fazer engenharia. 
O protagonista, na ânsia de ser bem sucedido, comete atos que passam do limite do aceitável. Mas talvez ele conseguisse realizar os seus projetos se tivesse uma condição financeira melhor. Me assustou muito como a religião tenta a força obrigar as pessoas a se curvar a sua vontade. O protagonista se recusa, até porque sofreu muita violência na infância. Sim, ele tem pouquíssimo jogo de cintura e para atingir os seus objetivos abusa de comportamentos não éticos e oportunistas. Outra grande personagem é a mulher por quem ele se apaixona. Sim, é principalmente por interesse, por desejar o luxo que ela vive, mas ela tem uma compreensão dos atos dele de modo surpreendente. Tanto que ela monta uma escola para pobres, sem vínculos castradores religiosos, para que as crianças consigam crescer equilibradas e se realizem profissionalmente e pessoalmente. A compreensão dessa mulher sobre a opressão do amado é admirável. Ela é judia, a família dele repudia a união, mas ela é desrespeitada em vários lugares por ser judia, o que acontecia muito e se pensarmos atualmente, há ainda muita intolerância religiosa aos que não são cristãos. O filme mostra muito o contraponto entre a família castradora dele e a família acolhedora dela, mesmo quando a mãe descobre o que a filha fez ela tem apoio incondicional. Ela realmente percebe a diferença de estar em uma família que apoia, ajuda, e a outra que condena, espanca e critica. Ela consegue tomar as decisões, enquanto ele vive confuso com suas escolhas, frustrações e reprovação familiar.
Os dois estão muito bem: Esben Smed e Katrine Greis Rosenthal. O elenco tem ótimos atores: Julie Christiansen, Rasmus Bejerg, Anders Rove, Benjamin Kitter, Tommy Kente, Claus Flygare e Sara Viktoria Bjerregaard Christensen. A direção de arte e reconstituição de época impressionam.

Beijos, 
Pedrita

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Brinquedo Assassino

Assisti Brinquedo Assassino (2019) de Lars Klevberg no TelecinePlay. Fiquei eufórica quando vi que estreou no canal. Recentemente comecei a procurar o original porque sabia que uma hora esse ia entrar na programação. Inacreditavelmente o original eu não vi. Logo eu que adoro o gênero. Ainda não achei pra ver. Sempre tive implicância com um boneco pequeno que com uma faca mata em série. Vou continuar procurando o original, quem sabe agora que esse estreou venham a colocar o original em alguma programação. A ideia original é de Don Mancini.

O começo é muito, mas muito bom. Esse filme de agora foi criado no auge da tecnologia, então faz todo o diferencial no brinquedo assassino. Fica mais crível ele conseguir matar, não tanto em alguns momentos, mas sim, parece menos impossível. Começa a loja dizendo que o brinquedo logo será lançado, que terá não só conexão com as crianças, mas com todos os aparelhos domésticos da casa. Tem até aspirador da máquina. O boneco vai controlar a TV,  os aparelhos domésticos da casa, acompanhar as tarefas da escola do amigo. O filme segue para a fábrica na China. Há uma pressão desumana para terminar os bonecos a tempo. Um homem (Johnson Phan) sofre assédio moral do chefe, fica irritadíssimo, vai no comando do boneco e tira rapidamente vários controles, controle de humor, tira as proibições a palavrões, e retira mais alguns outros comandos de bom comportamento, empacota o boneco. 
Uma mãe trabalha exatamente na loja de departamentos que vende os bonecos. Ela e o filho acabaram de se mudar para um bairro pobre, ele está com dificuldade de interação na região, sozinho, e a mãe está cheia de culpa por não ter tempo pra ficar com ele. Um boneco é devolvido, ela negocia com o homem que ia mandar o boneco de volta para a fábrica e leva o brinquedo defeituoso pra casa. E percebemos que é exatamente o modificado. Interessante mostrar que como os controles mudados foram de uma hora pra outra, sem avaliação, o boneco tem muito bug. 
Passada essa parte tecnológica o filme entra pra mais do mesmo, adolescentes querendo acabar com o boneco. Mas como disse, a parte tecnológica dá todo a verossimilidade ao boneco. Ele traz um carro da fábrica que ele controla, ele vai para a loja de departamentos e controla todos os eletrônicos e todos os bonecos, então não fica tão esquisito um boneco dar conta da matança. Gostei demais do garoto, Gabriel Bateman. Mas realmente é engraçado que o boneco não possa ser desligado. Eles colocam dentro de armário ligado, ao menos podiam ligar e desligar o boneco.

Apesar do elenco desconhecido, são bons atores e ótimos personagens. Adorei a mãe também, Audrey Plaza, personagem bem construído, uma mãe muito jovem, tendo que dar conta de tudo, do trabalho exaustivo, do filho adolescente e das despesas. Gostei muito do roteiro falar da culpa da mãe. Ele demora pra fazer amigos, mas gostei bastante da turminha que o ajuda: Marlon KasadiTy Consiglio e Beatrice Kitsos.

Gostei dos vizinhos da família. A mãe, Carlease Burkle, recebe visitas do filho policial Brian Tyree Henry. Ótimos personagens. Alguns outros do elenco são: David Lewis, Tim Matheson e Trend Hedcop. Mark Hamill faz a voz do boneco.

Beijos, 
Pedrita

domingo, 1 de novembro de 2020

Os Bebês de Auschwitz

Terminei de ler Os Bebês de Auschwitz (2015) de Wendy Holden da série Mulheres na Literatura da Coleção Folha. Demorei pra começar a ler porque sabia que não seria uma leitura fácil, mas achei que tinha que conhecer mais esse assunto. Como o livro diz o tempo todo e a autora me lembrou no Instagram, conhecer para não esquecer. Que esses horrores nunca sejam esquecidos para que não aconteçam novamente.

Quando fui escolher o marcador de livros, vi as borboletas e achei que bebês que sobrevivessem àquela adversidade seriam como borboletas. O livro faz uma analogia parecida no final, fiquei mais tocada ainda.

O livro conta a história de três mulheres judias Priska, Rachel e Anka, que estavam grávidas quando chegaram em Auschwitz no fim da guerra. Todas foram revistadas pelo médico monstro Mengele. O livro lembrou o horror de saber que esse monstro, após a guerra, se escondeu no Brasil, que vergonha. As três, por uma presença de espírito, mentiram ao médico e disseram que não estavam grávidas. O que fez essas três mulheres a resistirem a tanta fome, sede, frio e maus tratos, ainda terem os bebês e eles sobreviverem é algo que nem elas mesmas sabem explicar. Estranhamente elas não se conheceram, mesmo tendo estado nos mesmos lugares de horrores. Primeiro no campo de concentração, na mesma época, dias de diferença. 

Por serem fortes foram enviadas para uma fábrica de peças, inclusive de aviões e depois passaram por uma viagem interminável, prestes a dar a luz, até o campo de concentração de Mauthausen, na Áustria. Uma mãe e filha foram pra câmara de gás, nuas, com inúmeras outras, ficaram muito tempo, mas não tinham mais insumos pra matar, e a máquina tinha quebrado e foram soltas novamente, olha que horror! Extremamente debilitadas, morrendo de fome e sede, duas deram a luz nos vagões nessa viagem interminável. Anka começou a ter as contrações assim que desceu do trem e teve seu filho de pé, em uma carroça lotada. Como elas e seus bebês sobreviveram? Sorte talvez, dizem. Pode ser, porque parecia impossível elas e seus bebês de meio quilo resistissem a tanta fome, sede, piolhos e larvas. Um pouco depois do nascimento dos bebês, Hitler e sua esposa se suicidaram. Os policiais nazistas da SS começaram a matar a todos e queimar documentos. Novamente elas se salvaram por muito pouco. Os americanos oficiais ficaram atônitos quando viram inúmeras pessoas nuas ou com pedaços de roupas, de pé no pátio. Acostumados a contagem diária, já sem qualquer traço de humanidade, eles ficaram do lado de fora, no frio, totalmente fora de si. Na hora que viram que iam ser salvos, muitos gritaram, riram, choraram, pularam e morreram logo ali, caindo uns sobre os outros, não suportando tanta emoção. Com tanta subnutrição, o corpo não aguentou a carga emotiva da libertação.

Em geral tinha muita hostilidade com os judeus. Assim que eles foram obrigados a abandonar as suas casas e seguir para os guetos, tomaram suas casas, objetos, e não aceitavam devolver depois da guerra. Outros tinham medo de represálias. Uns foram mortos pelos soldados nazistas porque ajudaram judeus, ou mandado para campos de concentração. Então em geral eles ignoravam o sofrimento que viam, ou tentavam não ver. No máximo punham comida escondida em lugares que eles passavam, mas sem saber quem eram. A cidade de Horní Bříza na República Tcheca foi uma exceção. Quero muito conhecer essa cidade. Pouco viram da guerra, não viram vagões lotados de judeus, foi a primeira ve,z quando a guerra estava acabando que o trem fez uma rota diferente. Antonín Pavlíček cuidava da estação e quando viu os prisioneiros mortos de fome, negociou, negociou e negociou com os soldados nazistas para que a cidade levasse comida. A cidade inteira se mobilizou cozinhando. Os judeus avisaram que se não fosse direto nas mãos deles nunca veriam os alimentos. Então Pavlíček e outro homem foram levar as comidas. Eram mulheres famintas demais, os soldados se prontificaram a ajudar, então teve vagão que continuou sem água e sem comida porque eles desviaram os alimentos, mas muitas, muitas mesmo receberam alimentos, cobertores. Quando um viu o bebê e a mãe, correu para a mulher, relatou o ocorrido e ela mandou algumas roupas do bebê que esperava. Um médico viu uma grávida, era Anka, inerte já sem forças, e, mesmo correndo riscos, conseguiu ir até ela com um copo de leite que pode tê-la salvo e ao bebê. São relatos tão doloridos e emocionantes. Quanta tristeza dessa desumanidade. Sou muito descrente na humanidade. Uma dessas mães também não consegue acreditar na existência de um deus que poderia ter permitido todos esses horrores.
Os bebês Eva, Mark e Hana só souberam que outros bebês tinham nascido naquela viagem anos depois. Quando foram se encontrar em um evento do Holocausto, acharam que não tinham nada em comum e não iam se ver de novo. Logo que se encontraram viram que tinham na verdade muitas semelhanças. Hoje se consideram como irmãos.
No final do livro há uma extensa biografia que Wendy Holden usou para escrever o livro. Sem falar nas inúmeras viagens, entrevistas. É um trabalho impecável e admirável. Não sei se eu aguentaria passar tanto tempo em cima de um assunto tão difícil. Já foi um sofrimento a leitura do livro. 

 
Beijos,
Pedrita