Assisti ao documentário Infinitamente Guiomar Novaes (2005) de Norma Bengell no Canal Brasil. O filme conta um pouco dessa grande pianista brasileira. Aos 7 anos ela impressionou um professor que começou a dar uma aula semanal gratuita pra ela. Aos 13 anos ela foi para a Europa e se apresentou para um grupo onde estava Debussy, ganhou por unanimidade o apoio para os estudos na Europa. Guiomar Novaes viveu entre 1894 e 1979. No documentário há depoimentos de familiares, do jornalista e crítico Lauro Machado Coelho, do maestro Roberto Tibiriçá e de pianistas que tocam alguns obras e mencionam o estilo da Guiomar Novaes. Na década de 70 fizeram um outro documentário com a pianista que traz trechos nesse, ela mais velha dando aulas. Há ainda trechos de entrevistas de arquivo que estão guardadas no MIS - Museu da Imagem e do Som. Norma Bengell dirigiu três documentários com grandes pianistas brasileiros, esse é um deles e passa de vez em quando no Canal Brasil.
Assisti no cinema ao filme Robin Hood (2010) de Ridley Scott. Eu e minha mãe queríamos ver Alice, mas o shopping que gostamos de ir só tinha o filme na versão dublada. Como eu li elogios nos jornais e ela ouviu elogios na Rádio Eldorado, resolvemos ver Robin Hood. Nós duas gostamos desse herói meio torto, que rouba dos ricos pra ajudar os pobres. E eu gosto do Ridley Scott, é um grande diretor de filmes de ação e aventura. E é isso, Robin Hood é um grande e belo filme de aventura, sem o romance aumentado do lindo com o Kevin Costner. O marketing dizia que era de outro momento do Robin Hood, mas não é bem assim, é mesmo mais desculpa que fatos, mas como disse, é um bom filme de ação.
A ação é realmente o melhor do filme, eu e minha mãe ficamos impressio-nadas com a precisão e perfeição das cenas de ação. A fotografia de John Mathieson é simplesmente maravilhosa. O romance não é realmente o ponto forte, é bem morno realmente. Russell Crowe está ótimo e a Cate Blanchett também. Esse Robin Hood é bastante violento, mas impecável. O elenco também é incrível, estão ainda: William Hurt e Max Von Sydow. Eu gosto muito também do ator que faz o vilão, o Mark Strong. E está muito bem o Príncipe João interpretado pelo Oscar Isaac.
Terminei de ler De Castelo em Castelo (1957) de Louis-Ferdinand Céline. Eu comprei esse livro há uns anos no stand da Companhia das Letras na bienal em uma promoção. Comprei sem saber nada do autor e do livro, totalmente às cegas, mas como confio na editora, não hesitei em comprar. Recentemente perguntei ao Rodrigo Gurgel sobre o autor e ele falou do estilo ácido. Gostei bastante. Céline é racista, foi nazista, não sei se é correto dizer que é nazista, ele escreveu e publicou artigos a favor do nazismo durante a guerra. O livro mistura fantasia e autobiografia. Nosso protagonista é muito ranzinza, a guerra acabou e ele não se conforma da miséria que o abate. É médico, a clientela não o quer como médico, nem eu iria querer.
Obra Allées et venues (1965) de Jean Dubuffet
Inteligente, muito crítico, Céline cutuca a sociedade que se utiliza do social pra se promover. Na obra há um glossário que elucida as personalidades citadas ou mesmo menciona quem é que tem aquele apelido na obra de Céline. Pode ser que em alguns momentos as críticas venham de uma profunda dor de cotovelo, mas gostei muito do quanto ele cutuca pessoas que se aproveitam da dor do outro pra se promover e ganhar dinheiro, muito dinheiro, algo que acontece excessivamente nos dias de hoje. Gostei de ver o olhar de Céline sobre personalidades que já li outras obras como Sartre, ver um olhar diferente e arguto sobre alguém que tenho admiração. Céline incomoda, dá um olhar de outro ângulo, gostei muito. No texto que fala do livro nessa edição, comenta que Céline relata um episódio da história não muito nobre, nem sempre mencionada, com uma clareza surpreendente. Realmente é isso, um período que poucos comentam, com um olhar cínico e ainda de outra perspectiva. Rodrigo Gurgel disse que eu devo ler outro dele: Viagem ao Fim da Noite, que ele gosta mais.
Obra Two Clowns With Their Arms Raisedde Bernard Buffet
A Veja publicou o início do livro e vou colocar trechos aqui. O estilo de Céline é difícil de ler, cheio de reticências e texto entrecortado.
Trechos da obra De Castelo em Castelo de Louis-Ferdinand Céline:
"Para falar francamente, cá entre nós, estou terminando ainda pior do que comecei... Ah!, não comecei nada bem... nasci, repito, em Courbevoie, Sena... repito pela milésima vez... após inúmeras idas e vindas estou mesmo terminando muito mal... tem a idade, você me dirá... tem a idade!... tudo bem!... aos 63 anos e picos, é dificílimo recomeçar a vida... refazer a clientela... aqui ou acolá!... Ia esquecendo de lhe contar!... sou médico... a clientela médica, só entre nós, que ninguém nos ouça, confidencialmente, não depende apenas de ciência e consciência... mas antes de tudo, acima de tudo, de charme pessoal... charme pessoal depois dos 60 anos? ... você ainda pode ser manequim, figurante num museu de cera... quem sabe? ... interessar alguns maníacos, catadores de enigmas? ... mas e as senhoras? o coroa todo perequeté, perfumado, pintado, gomalinado?... espantalho! clientela ou não clientela, medicina ou não medicina, é de dar nojo!... se for cheio da grana?... ainda passa!... tolerado? humm! humm! ... mas e o grisalho pobre?"
"... a clientela de um médico é feita pelas mulheres! não estão do seu lado? ... vá correndo se afogar! ... essas suas senhoras são débeis mentais, idiotas de matar?... melhor ainda! quanto mais tacanhas, teimosas, mais completamente debilóides, mais soberanas serão! ..."
Tantos os pintores como o compositor, Eugenio Bozza, são franceses e criaram essas obras em um período próximo a publicação do livro do Céline.
Assisti O Beijo da Mulher Aranha (1985) de Hector Babenco no Canal Brasil. Uma co-produção entre Brasil e Estados Unidos. Sempre quis ver esse filme, é de uma época que o cinema brasileiro agonizava e alguns diretores procuraram outros caminhos pra tentar realizar projetos. O Brasil virava as costas para o nosso cinema, censurava, não patrocinava. O Beijo da Mulher Aranha é um filme meio andrógino, curioso, baseado na obra de Manuel Puig. Dois homens estão presos em uma mesma cela, um homossexual que abusou de um menino e um preso político. William Hurt interpreta maravilhosamente o homossexual, o papel lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator e ainda Melhor Ator no Festival de Cannes. O outro preso é interpretado pelo Raul Julia.
Para passar o tempo, o personagem do William Hurt narra um filme nazista que adora, ele não liga pra questão política do filme e sim, segundo ele, para o grande romance que há no filme. Com um filme dentro do filme, aparece trechos desse filme com interpretações da Sonia Braga. Integram o elenco principal José Lewgoy e Milton Gonçalves. Depois há participações de um elenco primoroso: Miriam Pires, Herson Capri, Denise Dummont, Nuno Leal Maia, Fernando Torres, Miguel Falabella, Antônio Petrin, Wilson Grey, Walter Breda e Claudio Curi. A música é do John Neschling.
Assisti ao documentário A Negação do Brasil (2000) de Joel Zito Araújo no Canal Brasil. Eu já tinha visto trechos há uns anos e revi todo agora. É um ótimo documentário que relata como os negros são retratados no cinema e na televisão. A televisão sempre é mais atrasada, os negros por anos só fizeram empregados em geral sem histórias próprias. Esse documentário traz entrevistas com grandes artistas como Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Zezé Motta, Cléia Simões, Léa Garcia e Maria Ceiça. Esse documentário fala da novela Escrava Isaura que romanceou a questão do negro e a protagonista era branca. O próprio fim da escravidão foi romanceado. Fala da novela Sinhá Moça que já mostrou os negros revoltos e com mais realismo na libertação dos escravis onde todos ficaram sem trabalho e muitos vivendo na marginalidade. No documentário não comentam que a primeira versão da Sinhá Moça sofreu censura e que na versão mais atual puderam colocar todos os textos políticos que falavam dos desatinos praticados contra os negros não só nas senzalas, mas em toda a sociedade que não os incluíam.
Tony Tornado contou que haviam três final em Roque Santeiro, que um deles que nem chegou a ser mencionado a viúva Porcina ficaria com seu dedicado motorista e guarda-costas interpretado por Tony Tornado, mesmo que as duas outras duas possibilidades fossem mais incoerentes, ela acabar com um dos dois que a menosprezavam, não colocaram a mais viável que seria acabar com um negro. Maria Ceiça comenta do esteriótipo de beleza convencionado que exclui os negros onde é considerado belo pernas finas, quadris mais estreitos, sem falar nas características dos rostos, nariz afilado, rosto fino e cabelo liso. O documentário A Negação do Brasil ganhou o prêmio de Melhor Documentário e Melhor Pesquisa: É Tudo Verdade / It’s true - 6º Festival Internacional de Documentários - 2001. SP-RJ, o Troféu "Gilberto Freyre de Cinema" e Troféu de "Melhor Roteiro de Documentário"; 5º Festival de Cinema do Recife - 2001 e teve o Roteiro premiado pelo Concurso Nacional de Documentários do Ministério da Cultura de 1999, por A Negação do Brasil. Esse documentário é excelente e passa de vez em quando no Canal Brasil.