Assisti no cinema
Flores Raras (2012) de
Bruno Barreto. Há anos acompanho as matérias sobre a realização desse filme, desde quando começaram escolher as atrizes para interpretar a poeta
Elizabeth Bishop e a arquiteta
Lota de Macedo Soares. O meu interesse por esse filme contagiou minha mãe no último ano que igualmente passou a assistir entrevistas sobre a sua realização. Em uma das entrevistas, os produtores falaram da dificuldade de conseguir patrocínio para um filme que falaria do amor entre duas mulheres. Nós adoramos
Flores Raras.
Eu amava os poemas de
Elizabeth Bishop e me surpreendi em saber que ela viveu 20 anos no Brasil e que parte de sua produção foi escrita aqui, inclusive a obra
Norte & Sul que levou a poeta a ganhar o
Prêmio Pulitzer.
Não conhecia o trabalho da arquiteta Lota de Macedo Soares, responsável pelo parque do Aterro do Flamengo. Elizabeth Bishop vem ao Brasil passar poucos dias em uma viagem de barco para relaxar e no Rio de Janeiro vai visitar uma antiga amiga, a companheira de Lota. Elizabeth resolve logo ir embora, mas uma alergia por ter comido caju, faz com que ela fique mais tempo e ela e a Lota se apaixonem. Surge então um difícil triângulo amoroso, imposto por Lota que quer continuar a amizade com sua outra companheira Mary. Outra dificuldade foi superar a diferença entre as duas, mas pelo tempo que viveram juntas, elas conseguiram harmonizar por muitos anos os seus temperamentos. Belíssima a forma como Flores Raras retrata esse romance. Glória Pires e Miranda Otto arrasam nas personagens.
Os figurinos são belíssimos. E a casa construída por Lota em Petrópolis é lindíssima. Carlos Lacerda é interpretado por Marcello Airoldi. A Mary por Tracy Middendorf. A Joana por Luciana Souza.
Chemin de Fer - poema de Elizabeth Bishop
Tradução de Paulo Henriques Britto
Sozinha nos trilhos eu ia,
coração aos saltos no peito.
O espaço entre os dormentes
era excessivo, ou muito estreito.
Paisagem empobrecida:
carvalhos, pinheiros franzinos;
e além da folhagem cinzenta
vi luzir ao longe o laguinho
onde vive o eremita sujo,
como uma lágrima translúcida
a conter seus sofrimentos
ao longo dos anos, lúcida.
O eremita deu um tiro
e uma árvore balançou.
O laguinho estremeceu.
sua galinha cocoricou.
Bradou o velho eremita:
“Amor tem que ser posto em prática!”
Ao longe, um eco esboçou
sua adesão, não muito enfática.
Beijos,
Pedrita