sábado, 18 de agosto de 2018

A Sibila de Agustina Bessa-Luís

Terminei de ler A Sibila (1954) de Agustina Bessa-Luis da Coleção Folha Mulheres na Literatura. Eu queria muito ler uma obra dessa autora muito premiada. O blogueiro português Carlos Faria do Geocrusoe elogia muito essa autora e fiquei muito curiosa em ler. Amei que estava nessa coleção da Folha por R$ 19,90, mas era o último a sair, foi uma longa e ansiosa espera.

 Obra Aquarelas Consagradas (1919) de Varela Aldemira

A Sibila conta a história de uma família onde as mulheres são fortes e o esteio de todos. Os homens são mulherengos e desatinados com dinheiro. São elas que mantém a união familiar, as contas pagas, as regras.

Obra Natureza Morta com Flores de Eduarda Lapa

Até chegar em Sibila, a Quina. O vocabulário de Bessa-Luís é impressionante, logo no início já fiquei impactada. Os objetos e a casa também narram as histórias. Incrível!
Beijos,
Pedrita

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O Conto

Assisti O Conto (2018) de Jennifer Fox na HBO Go. Como eu tenho os canais HBO eu tenho acesso ao HBO no Now sem pagar adicional, está incluído no pacote. Eu tinha visto um trailer desse filme. Já aviso, é dificílimo, mas é fundamental. A diretora que escreve o roteiro baseado em sua vida.

A protagonista está filmando em outro país, quando chega há um recado desesperado de sua mãe. Ela encontrou um diário da filha quando tinha 13 anos e quer falar com ela. Muito estranho a documentarista não ligar logo para apaziguar a sua mãe. A documentarista é interpretada brilhantemente por Laura Dern, atriz que adoro, a mãe por Ellen Burystyn e a menina de 13 por Isabelle Nélisse. E esse comportamento estranho da documentarista continua. Essa é a grande importância desse filme, em geral filmes que falam de abusos de crianças e adolescentes são sempre como denúncia, com condenação. Esse quebra o tabu e fala de forma mais realista desses horrores. 
Essa documentarista não fica chocada com a lembrança, recebe o diário, começa a ler e tudo o que quer é reencontrar essas pessoas. Ela tinha 13 anos quando as conheceu, no filme tem 48 anos, portanto essas pessoas estão bem mais velhas. Logo ela relata a admiração que tinha pela mulher e que todas as meninas queriam ser como ela. É uma escola de hipismo. Ela ficou um tempo lá. A dona é casada e é amante do treinador. Os dois são interpretados por Elizabeth Debicki e Jason Ritter.

Esses dois começam a elogiar a menina, ela se torna a vencedora do grupo, eles contam segredos. A manipulação é assustadora. Os pais dessa menina estão brigando muito, são vários irmãos, de repente ela encontra duas pessoas que a colocam no centro do mundo, com toda a atenção, ela vai ficando fascinada. Já ouvi especialistas dizerem que algumas crianças acabam gostando da sensação do que fazem com elas e querem aquela experiência de novo. Essa menina de 13 anos, romântica, começa a ser seduzida pelo treinador. Eles leem poesias um para o outro, ele elogia o corpo dela, para uma adolescente que busca auto afirmação é tudo muito sedutor.

E essa mulher de 48 anos demora a mergulhar nos horrores de tudo o que foi. O noivo (Common) e a mãe brigam com ela, mas ela procura esse casal e se assusta que a mulher envelheceu. Todos sentem desconforto em encontrá-la. A mulher diz inclusive que se arrepende muito de coisas que fez no passado. Mas a documentarista continua fascinada pelas pessoas que encontra. São os outros que aos poucos vão dando um banho de realidade nela. Ela descobre que o casal tinha relações com uma estagiária. E essa estagiária, agora uma mulher, fica chocada quando a documentarista conta que também tinha relações com o treinador. Ela diz: "mas você só tinha 13 anos, a idade das minhas alunas". Um outro investigador acha o paradeiro do treinador e fala que vai com a documentarista na delegacia denunciá-lo. Mas ela diz que não, que só queria encontrá-lo.
No filme, só quando ela realmente começa a lembrar o que aconteceu após a sedução é que ela começa a entender o que ocorreu. Não sei se foi só no filme ou realmente a documentarista entendeu posteriormente. É o momento mais insuportável do filme. O treinador diz que é como o treino, que precisa tentar até conseguir, mesmo que doa, que a primeira vez dói, depois não. Eu imaginei, mas foi reforçado no final que as cenas de sexo há um dublê de corpo, uma mulher maior de idade. Mesmo que a atriz não participe das cenas de sexo, ela participa do processo de sedução, confesso que eu não permitiria que um filho dessa idade atuasse no filme, acho muito forte. Muito importante, mas acho difícil a menina não ter ficada impactada com o pouco que atuou. E a menina começa a ter horror do que acontece, vomita sempre depois. Inacreditável a coragem dessa menina. Ela levanta para ir passar o fim de semana como sempre, mas vomita. Volta a dormir e quando acorda ela telefona pra eles e termina tudo, diz que nunca mais vai lá e marca para buscar o cavalo depois. 
Outro tabu revelado é a questão familiar. A mãe desconfia em um momento porque o treinador vai buscar a adolescente na casa dos pais e leva presentes para os pais. Ela procura o marido e fala do estranhamento e ele a demove da ideia. Ela nem se dá ao trabalho de investigar após a cisma. A avó vê o instrutor beijar a menina na boca, a única coisa que ela faz é brigar com a menina. Não conta pra ninguém e muito menos fica indignada com o treinador. o filme tem muitas questões, é muito profundo, vai muito além dos debates sobre o tema. É insuportável, mas fundamental!

Beijos,
Pedrita

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Vozes de Paracatu e Bento

Assisti ao documentário Vozes de Paracatu e Bento (2018) na GloboNews. É um projeto realizado principalmente pelos moradores dessas cidades com supervisão de Walter Salles. O documentário mostra os horrores dessa monstruosa e enorme tragédia ambiental em Minas Gerais.

Assustadoras as primeiras imagens. Eles pegaram imagens dos celulares de moradores, e várias mostram o barulho da lama vindo, o som assustador e a poeira marrom, cobrindo todo o verde. Depois mostram moradores contando sobre a tragédia.

Mas as imagens e vídeos de celulares mostram a vida antes de toda a tragédia. Reuniões em família, aquele hábito mineiro de mesas fartas cheias de quitutes, varandas, muito verde. E os moradores contam suas histórias. Da esposa que pediu para o marido continuar a mexer no angu porque ia ao rio pegar lambaris para eles comerem com o angu e o arroz. Do time de futebol que ganhou campeonato.

O documentário é todo de cortar o coração. A moça que avisou a família mas seguiu de moto para avisar aos outros que a barragem tinha estourado, que encontrou um caminhão pegando as pessoas, mas aí a moto já não tinha mais combustível e ela seguiu avisando a pé. Eles subiram para o alto e quando anoiteceu foi só escuridão já que a lama tinha destruído toda a energia elétrica. Não via nada só ouviam o barulho da lama escorrendo. Uma diz que achou que no dia seguinte eles iam descer para limpar as suas casas, que nunca imaginou que nada mais ia existir. E até hoje os culpados continuam impunes. Que vergonha! Eles contam que foi uma briga para eles não continuarem em colchões em auditórios e terem casas. Eles viviam em sítios, em regiões rurais e passaram a viver em regiões urbanas. Só agora uma cidade recebeu promessa de reconstrução perto de onde moravam, mas nesse país o que não faltam são promessas, espero que cumpram. As outras cidades continuam brigando. Quanta vergonha!

Beijos,
Pedrita