sexta-feira, 18 de junho de 2010

Diário de Um Pároco de Aldeia


Terminei de ler Diário de Um Pároco de Aldeia (1936) de Georges Bernanos. Eu sempre tentava entender porque tinha comprado esse livro, não sou religiosa, então relutei muito em ler, mas é incrível. Eu comprei em um sebo, por R$ 10,00, da coleção Grandes Romancistas da Abril Cultural. Não é dessa capa, hoje no Brasil, esse livro pode ser encontrado pela editora Paulus. Na biografia do autor no livro falam que ele é considerado "criador da moderna literatura sacerdotal". Eu logo no início já me encantei com a biografia desse francês. Dois anos depois de escrever esse livro, em 1938, ele se muda para o Paraguai, fica algumas semanas e se estabelece realmente no sul do Brasil, mora uns 7 anos por lá. Eu fiquei curiosa em ler os livros que ele escreveu nesse período no Brasil, ver se algo mudou em seu olhar deprimido. Realmente Georges Bernanos parece um homem desiludido. Diário de Um Pároco de Aldeia é um livro triste, sobre pessoas tristes e desiludidas. Descobri que há um filme baseado nesse livro, que agora quero muito ver.

Obra Massif de fleurs près de la rivière  (1946) de André Bauchant - pintor francês cristão

Esse pároco é muito jovem e bem desiludido. Tem um problema no estômago e com isso realiza uma dieta assustadora e pouco produtiva, toma sempre vinho de péssima qualidade com açúcar e pão. Cismou que verduras e legumes fazem mal. Começa a ter um aspecto horrível, roupas sujas, magro demais. A aldeia tem pena dele, mas não algo que o ajude, é uma pena de desprezo, menosprezo. Ele acaba enfrentando uma menina, nessa época as pessoas achavam as crianças eram más e não fruto da má educação que tiveram. Essa menina ganha poder demais do pai, não é tratada como criança, e pelas costas apronta. Ela difama tanto o pobre do padre que tudo que é ruim fica pior ainda.

Obra Jeune Femm Lisant en Kimono (1887) de Emile Bernard

Não é um texto que debate Deus e religião. Na verdade é um olhar desiludido sobre uma aldeia de gente cruel e egoísta. Diferente dos livros Jean Barois de Roger Martin du Gard e a Montanha Mágica do Thomas Mann, não debate sobre religião. Esse pároco no máximo questiona termos como vocação, infância, ele acha estranho que Deus enalteça tanto as crianças que ele acha tão cruéis. Como é um diário, algumas páginas ele arrancou, outras são pensamentos sobre algo que nós não vimos, esse ar de mistério é fascinante nesse livro. Nós sabemos tudo por poucos comentários, ele não explica nada já que escreve pra ele mesmo, ele sabe o que aconteceu. Essa dinâmica de literatura é tão apurada e sofisticada que me fascinou.

Obra Duas figuras (1906) de Pierre Bonnard 

Trechos de Diário de Um Pároco de Aldeia de Georges Bernanos:

“A minha paróquia é uma paróquia como as outras. Todas as paróquias se parecem. As paróquias de hoje, naturalmente.”

“Uma paróquia é, forçosamente, suja. A cristandade é ainda mais suja.”

“Minha boa irmã não era uma verdadeira dona-de-casa: uma verdadeira dona-de-casa sabe que sua casa não é um relicário.”

“Os ódios de família são os mais perigosos de todos; porque, no contato contínuo entre as pessoas, vão-se, aos poucos, satisfazendo; são como abcessos abertos que envenenam o organismo, lentamente, sem febre.”


Tanto o compositor como os pintores são franceses do período que o livro foi publicado.


Coloquei um layout de literatura para acompanhar esse post. No próximo volta ao que era.

Youtube: Compositor Émile Paladilhe 




From Mata Hari e 007
Beijos,
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Pedrita

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Minha Esperança é Você

Assisti Minha Esperança é Você (1963) de John Cassevetes no Telecine Cult. Descobri que ia passar esse filme na Folha de S.Paulo. Vi poucos trabalhos do John Cassevetes e queria ver esse. Grande elenco: Burt Lancaster e Judy Garland são os protagonistas. É um tema delicado e o nome original é bem mais pertinente: A Child is Waiting. O personagem do Burt Lancaster tem uma clínica para crianças especiais. Na época ainda não a chamavam dessa forma. É um internato. Os familiares podem visitar um dia da semana. Ainda não há a integração das crianças especiais na sociedade. Hoje até há na teoria, pelo menos tentam.

A personagem de Judy Garland vai trabalhar nessa escola. O dono da escola fala que lá não é lugar para caridade. A Child is Waiting aborda a piedade que não é bom para as crianças, tratá-as como coitadinhas, mimando-as e impedindo do aprendizado. Os textos são excelentes. É a época que todos acreditavam no QI, nessa clínica não. Em que os Estados Unidos preferiam investir em crianças "superdotadas", outro critério questionável, a investir em crianças diferentes. Ainda estão no elenco: a belíssima Gene Rowlands, Steven Hill e Bruce Ritchey



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Beijos,









Pedrita

terça-feira, 15 de junho de 2010

Juan Pons

Fui ao recital do barítono espanhol Juan Pons na abertura do Projeto Grandes Vozes 2010 no Theatro São Pedro. Maravilhoso barítono que foi ovacionado até mesmo quando entrou no palco para começar a se apresentar. Teatro cheio, Juan Pons se apresentou com sua filha Joana Pons ao piano. Um rico repertório com canções catalânias e italianas. No final ele cantou árias de ópera que o consagraram e o teatro veio abaixo, foi um belíssimo recital gratuito.

Ciclo “ ES DARRER VIATGE “ ( Música- Antoni Parera Fons,Lletra - Gillem d’Efak )
1-      Fou una Profecia
2-      A vela plena
3-      Amics , germans
4-    Anam allà on anam
Se equivocó la paloma (Carlos Gustavino)
Canción al árbol del olvido ( A.Ginastera )
Pueblito mi pueblo ( Carlos Guastavino )
Dança nº 5 ANDALUZA ( Enrique Granados )  Piano solo.
Cançó d’Amor i de Guerra: Les Neus de les muntanyes. ( R.Martínez Valls )
La del Soto del Parral: Y a mis horas felices ( R.Soutullo )
Ciclo Francesco Paolo Tosti
Malia
Vorrei Morire
Non t’amo piú
Intermezzo de la Opera CAVALLERIA RUSTICANA ( P.Mascagni ) Piano solo
Cortigiani, vil razza.Aria de Rigoletto ( G.Verdi )
L’ Onore ( G.Verdi )
Nemico della patria. Aria de Andrea Chénier. ( U.Giordano



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Beijos,










Pedrita

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Tempos de Paz

Assisti Tempos de Paz (2009) de Daniel Filho no Telecine Premium. Queria muito ver esse filme, acabei não vendo no cinema porque achei que minha mãe ia achar muito pesado e fiz bem, porque é realmente pesado. Grande filme! Grande elenco! O roteiro base de Bosco Brasil lembra o filme japonês A Escola do Riso de 2004. Na Escola do Riso um escritor tenta a aprovação de um texto por um censor e em Tempos de Paz um polonês tenta entrar no país passando por um funcionário da alfândega. Tony Ramos é o funcionário da alfândega e Dan Stulbach é o polonês. Os dois estão majestosos. Dan Stulbach foi ator em seu país, mas resolve ser agricultor no Brasil porque o país precisa de braços pra trabalhar. Tempos de Paz é ambientado no fim da Segunda Guerra Mundial em 1945.

É mais um momento que temos vergonha de ser brasileiro. O funcionário da alfândega está naquela função meio escondido, ele foi um torturador de possíveis comunistas, é o momento da anistia e os presos políticos ganham as ruas. Um padrinho o coloca lá pra ficar meio esquecido por um tempo. Também é o momento que ainda não se definiu as novas diretrizes para a entrada de estrangeiros, como o próprio funcionário diz, antes não podiam entrar judeus, agora não podem entrar nazistas. Ele não vê a hora de chegar as novas diretrizes dos Tempos de Paz. A Segunda Guerra Mundial já acabou, mas o Brasil ainda aguarda um papel burocrático para definir o que fazer. Esse funcionário viveu em um orfanato, nunca foi a um teatro, não conhece literatura, como muitos brasileiros que até mesmo em situação melhor não passeiam pela vida cultural.

Na trama do Brasil estão no elenco o próprio Daniel Filho, a irmã do funcionário é interpretada pela ótima Louise Cardoso. A senhora estrangeira que reconhece o ator polonês é interpretada pela própria mãe do Dan Stulbach, Ewa Stulbach (Ewa Maria Parszewska). No elenco complementar estão: Aílton Graça, a Maria Maya que nem tinha reparado nessa cena da foto, Anselmo Vasconcelos e Felipe Martins. A produção é impecável e a abertura belíssima. No final Tempos de Paz faz uma homenagem há vários alemães que vieram ao Brasil nesse período como: Bertha Loran, Otto Maria Carpeaux e Ziembinski.








From Mata Hari e 007

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