Terminei de ler Diário de Um Pároco de Aldeia (1936) de Georges Bernanos. Eu sempre tentava entender porque tinha comprado esse livro, não sou religiosa, então relutei muito em ler, mas é incrível. Eu comprei em um sebo, por R$ 10,00, da coleção Grandes Romancistas da Abril Cultural. Não é dessa capa, hoje no Brasil, esse livro pode ser encontrado pela editora Paulus. Na biografia do autor no livro falam que ele é considerado "criador da moderna literatura sacerdotal". Eu logo no início já me encantei com a biografia desse francês. Dois anos depois de escrever esse livro, em 1938, ele se muda para o Paraguai, fica algumas semanas e se estabelece realmente no sul do Brasil, mora uns 7 anos por lá. Eu fiquei curiosa em ler os livros que ele escreveu nesse período no Brasil, ver se algo mudou em seu olhar deprimido. Realmente Georges Bernanos parece um homem desiludido. Diário de Um Pároco de Aldeia é um livro triste, sobre pessoas tristes e desiludidas. Descobri que há um filme baseado nesse livro, que agora quero muito ver.
Obra Massif de fleurs près de la rivière (1946) de André Bauchant - pintor francês cristão
Esse pároco é muito jovem e bem desiludido. Tem um problema no estômago e com isso realiza uma dieta assustadora e pouco produtiva, toma sempre vinho de péssima qualidade com açúcar e pão. Cismou que verduras e legumes fazem mal. Começa a ter um aspecto horrível, roupas sujas, magro demais. A aldeia tem pena dele, mas não algo que o ajude, é uma pena de desprezo, menosprezo. Ele acaba enfrentando uma menina, nessa época as pessoas achavam as crianças eram más e não fruto da má educação que tiveram. Essa menina ganha poder demais do pai, não é tratada como criança, e pelas costas apronta. Ela difama tanto o pobre do padre que tudo que é ruim fica pior ainda.
Obra Jeune Femm Lisant en Kimono (1887) de Emile Bernard
Não é um texto que debate Deus e religião. Na verdade é um olhar desiludido sobre uma aldeia de gente cruel e egoísta. Diferente dos livros Jean Barois de Roger Martin du Gard e a Montanha Mágica do Thomas Mann, não debate sobre religião. Esse pároco no máximo questiona termos como vocação, infância, ele acha estranho que Deus enalteça tanto as crianças que ele acha tão cruéis. Como é um diário, algumas páginas ele arrancou, outras são pensamentos sobre algo que nós não vimos, esse ar de mistério é fascinante nesse livro. Nós sabemos tudo por poucos comentários, ele não explica nada já que escreve pra ele mesmo, ele sabe o que aconteceu. Essa dinâmica de literatura é tão apurada e sofisticada que me fascinou.
Obra Duas figuras (1906) de Pierre Bonnard
Trechos de Diário de Um Pároco de Aldeia de Georges Bernanos:
“A minha paróquia é uma paróquia como as outras. Todas as paróquias se parecem. As paróquias de hoje, naturalmente.”
“Uma paróquia é, forçosamente, suja. A cristandade é ainda mais suja.”
“Minha boa irmã não era uma verdadeira dona-de-casa: uma verdadeira dona-de-casa sabe que sua casa não é um relicário.”
“Os ódios de família são os mais perigosos de todos; porque, no contato contínuo entre as pessoas, vão-se, aos poucos, satisfazendo; são como abcessos abertos que envenenam o organismo, lentamente, sem febre.”
Tanto o compositor como os pintores são franceses do período que o livro foi publicado.
Coloquei um layout de literatura para acompanhar esse post. No próximo volta ao que era.
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Youtube: Compositor Émile Paladilhe
From Mata Hari e 007 |
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