Terminei de ler
Jean Barois (1913) de
Roger Martin du Gard. Esse autor é mais um da lista dos ganhadores de
Nobel. A edição que comprei em um sebo é aquela de capa dura branca, que saíram vários autores ganhadores de
Prêmio Nobel publicada no Rio de Janeiro, em 1964, pela antiga Editora Delta. Há outras edições que achamos em sebos, nenhuma mais recente. Tradução de
Vidal Oliveira. É uma edição com estilo antigo que por sorte vem perdendo espaço no Brasil. O livro é grande demais, pesado demais, com textos muito espaçados, páginas em branco, letras enormes entre margens enormes, muito espaço desperdiçado. E ainda textos sobre o autor,
Nobel, de discurso para o recebimento do prêmio. O livro poderia ser bem menor e mais fácil de carregar, eu precisava ler em uma mesa. Economizaria papel. As páginas também são muito grossas, quase cartolinas, é um livro muito difícil de manusear. Não gosto do recurso inverso, livros pequenos demais e espremidos demais, mas desperdiçar como esse e ainda dificultar a leitura, não vejo muita praticidade. É possível achar essa obra só em sebos.
Obra Le Dessert (1908) de Henri Matisse
Eu não me identifiquei muito com Jean Barois, que no Brasil foi publicado como o Drama de Jean Barois. Nosso protagonista faz várias discussões sobre religião e não ter fé. Ele na infância se torna um fervoroso católico, pede inclusive que sua avó o leve a cidade de Bernadette. Depois ele questiona a fé e começa o caminho para não ter religião. Só que é com o olhar de um católico, mesmo quando ele não acredita mais em Deus. Seu olhar é cheio de culpa como os católicos. Eu tinha lido há muitos anos A Montanha Mágica de Thomas Mann e no sanatório um trio discuste fé e a existência ou não de Deus, mas o grupo é mais eclético. Então em Jean Barois não me atraiu muito aquele olhar religioso negando a fé. Tanto que no final, quando nosso prota-gonista doente resolve voltar ao catolicismo, ele tem medo que o fato de ter negado Deus por tanto tempo, mesmo confessado, não fosse para o céu e sim para o inferno. Estranhei ele acreditar em céu e inferno e ele não pensar que o que define um homem bom ou não, não é a religião ou falta dela e sim seus atos e os atos de nosso protagonista eram de um homem bom. Me surpreendi o protagonista achar que o livre pensamento é um pecado tão grande quanto matar ou roubar. Também me incomodou a vitimização de sua esposa. Ele separa dela fisicamente porque ela não aceita ele não crer em Deus e o culpa a vida toda por ter desgraçado a vida dela. Ele aceita não se divorciar, vai morar em outra cidade, ela continua casada e se faz de coitada a vida toda, de ter sofrido e não sabe viver e ser feliz. Ela ficou na casa dela, na cidade dela, indo a igreja, com a filha, com uma situação financeira confortável, é patético se dizer infeliz, e dentro da religião dela, até pecado e ingratidão com tanta boaventura e fartura.
Obra
Paris à Janela (1913) de
Marc Chagall
Marc Chagall nasceu na Rússia e morreu na França, é considerado russo e francês.
Gostei muito no meio da obra quando nosso protagonista é dono de um jornal e começa a escrever e debater sobre o caso Dreyfuss. Não conhecia nada sobre esse momento histórico, precisei pesquisar na internet. Dreyfuss foi acusado e condenado injustamente por anti-semitismo. Há várias discussões e julgamentos relatadas em detalhes em
Jean Barois inclusive com a presença de muitas personalidades históricas como
Emile Zola.
Obra Femme au Tombeau (1894) de Maurice Denis
Anotei alguns trechos de Jean Barois de Roger Martin Du Gard:
“Buis-la-Dame (Oise), ano de 1878.”
“Que é a morte? A desorganização do ser que sou, do qual minha consciência faz a unidade. E então? Desaparecimento da consciência, da alma?”
“Quando vem as decepções, as doenças, a ameaça final é a derrota: nós os vemos recorrer bem depressa aos contos de fadas que consolam...”
“Ah! Senhor padre, foi o grande achado da sua religião o ter sabido convercer o homem de que não deve mais procurar compreender.”
A música e as pinturas do post são francesas do período que a obra foi publicada.
Música do post: Cantiga de Jean Racine de Gabriel Fauré
Beijos,
Pedrita