Obra Amo29 de Levino Fânzeres
Gosto muito do estilo de Lúcio Cardoso. No início a narração é de Jacques. Casado, enfastiado, não vê a hora de sua esposa engravidar e ter o filho para ele sumir no mundo. Como sua esposa ficará ocupada com a criança, ele poderá partir. Inventa um trabalho em outra cidade para nunca mais voltar. Segue então a narração de sua esposa. Pouco dada a ser mãe, larga o filho recém-nascido com uma conhecida e vai atrás do marido. Volta desiludida, e passa a viver com a amiga que cuida do seu filho. Nunca fica claro se tem remuneração ou não essa fiel amiga que abdica sua vida sempre para viver a vida dos outros.
Obra Paisagem de São Carlos (1926) de Quirino da Silva
O livro segue então para a narração de Silvio, filho de Jacques. Criança, mirrado, passa a narrar seu tempo na escola e seu amigo Camilo. Depois as narrações são várias, vários personagens, que se misturam e se intercalam. A mãe, o garoto e a amiga vivem em Vila Velha. Eu acho fascinante como Lúcio Cardoso consegue criar pessoas tão infelizes, tão fora do padrão, que praticam muitas maldades por egoísmo. Jacques era um egoísta, queria a liberdade, mas quando se aperta com a nova companheira manda um homem pedir dinheiro a ex-mulher, que dá as poucas economias que tem. Mas a ex-esposa Clara é igualmente desprezível, nunca ligou para o filho e raramente se importava com a amiga que sempre se sobrecarregou para cuidar da casa, do filho da outra e da família. E pior, quando Jacques volta doente, Clara o aceita e expulsa a amiga porque incomodava ao marido.
Obra (1939) de Milton da Costa
Dias Perdidos foi escrito na época que as mulheres viviam em função de marido e filhos. Clara nunca pensa em refazer a sua vida depois de ser abandonada, passa a fazer costuras junto com a amiga para sobreviver. Sua amiga Áurea também nunca pensa em ter sua vida própria e filhos. Quando Jacques volta doente e dependente, Clara o aceita já que ainda é casada. Imagina se achar casada depois de anos de abandono. Sim, aceitar para cuidar do pai do filho pode ser, mas Clara coloca ele na cama com ela, como se nada tivesse acontecido. A submissão é uma característica muito forte nesses personagens. Sílvio vive submisso a Diana, uma mimada e volúvel garota que se torna uma mulher insuportável. Todas as vidas são desprezíveis, nos envergonham. Incrível como a autor consegue despir os personagens dando vergonha alheia. Vidas infelizes, aprisionadas e egoístas.
Beijos,
Pedrita