sábado, 24 de fevereiro de 2018

Dias Perdidos de Lúcio Cardoso

Terminei de ler Dias Perdidos (1943) de Lúcio Cardoso da Editora Nova Fronteira. Linda essa capa da obra O Farmacêutico de Figueras Procurando Absolutamente Nada de Salvador Dalí. Mas confesso que acho estranho um livro brasileiro ter uma obra estrangeira na capa com tanto artista plástico incrível daqui. Quando soube desse autor por uma adaptação de teatro, fui procurar seus livros, não achei o que queria, A Crônica da Casa Assassinada, mas achei esse. Só que antes de ler esse achei na biblioteca da vizinha o da crônica e li antes. A Crônica é muito difícil de achar, deviam reeditá-la. Só agora então é que fui ler esse da postagem.

Obra Amo29 de Levino Fânzeres

Gosto muito do estilo de Lúcio Cardoso. No início a narração é de Jacques. Casado, enfastiado, não vê a hora de sua esposa engravidar e ter o filho para ele sumir no mundo. Como sua esposa ficará ocupada com a criança, ele poderá partir. Inventa um trabalho em outra cidade para nunca mais voltar. Segue então a narração de sua esposa. Pouco dada a ser mãe, larga o filho recém-nascido com uma conhecida e vai atrás do marido. Volta desiludida, e passa a viver com a amiga que cuida do seu filho. Nunca fica claro se tem remuneração ou não essa fiel amiga que abdica sua vida sempre para viver a vida dos outros.
Obra Paisagem de São Carlos (1926) de Quirino da Silva

O livro segue então para a narração de Silvio, filho de Jacques. Criança, mirrado, passa a narrar seu tempo na escola e seu amigo Camilo. Depois as narrações são várias, vários personagens, que se misturam e se intercalam. A mãe, o garoto e a amiga vivem em Vila Velha. Eu acho fascinante como Lúcio Cardoso consegue criar pessoas tão infelizes, tão fora do padrão, que praticam muitas maldades por egoísmo. Jacques era um egoísta, queria a liberdade, mas quando se aperta com a nova companheira manda um homem pedir dinheiro a ex-mulher, que dá as poucas economias que tem. Mas a ex-esposa Clara é igualmente desprezível, nunca ligou para o filho e raramente se importava com a amiga que sempre se sobrecarregou para cuidar da casa, do filho da outra e da família. E pior, quando Jacques volta doente, Clara o aceita e expulsa a amiga porque incomodava ao marido.
Obra (1939) de Milton da Costa

Dias Perdidos foi escrito na época que as mulheres viviam em função de marido e filhos. Clara nunca pensa em refazer a sua vida depois de ser abandonada, passa a fazer costuras junto com a amiga para sobreviver. Sua amiga Áurea também nunca pensa em ter sua vida própria e filhos. Quando Jacques volta doente e dependente, Clara o aceita já que ainda é casada. Imagina se achar casada depois de anos de abandono. Sim, aceitar para cuidar do pai do filho pode ser, mas Clara coloca ele na cama com ela, como se nada tivesse acontecido. A submissão é uma característica muito forte nesses personagens. Sílvio vive submisso a Diana, uma mimada e volúvel garota que se torna uma mulher insuportável. Todas as vidas são desprezíveis, nos envergonham. Incrível como a autor consegue despir os personagens dando vergonha alheia. Vidas infelizes, aprisionadas e egoístas.

Beijos,
Pedrita

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Kong - A Ilha da Caveira

Assisti Kong - A Ilha da Caveira (2017) de Jordan Vogt-Roberts na HBO on Demand. Eu nem pensava em ver esse filme, até ler em um jornal impresso que valia a visita. No começo achei que tinha sido ludibriada por algum marketing embutido, quando algum crítico fala bem de algo porque foi corrompido, mas não, o Kong vale realmente uma visita. Eu tinha adorado o mais recente, vivo revendo trechos, então esse não me atraía, mas gostei.
Esse é bem mais militar. Os soldados estão se retirando do Vietnã e há uma grupo secreto que vai a uma ilha encontrada. Uns cientistas querem ir juntos. Eles são muito maus com o pobre do Kong, sofri bastante. Há um contratado (Tom Riddleston), uma fotógrafa (Brie Larson). Tenho comentado que filmes de ação estão com elenco diversificado, com várias descendências, em Kong não é diferente, apesar que alguns ficam meio sem função.

Samuel L. Jackson interpreta um oficial irracional, eita personagem chato. O personagem do John C. Reilly está na ilha há décadas. Adoro esse ator. Ele vive com os nativos da ilha, gostei que os nativos não são maus.

Kong fica muito bravo porque os oficiais jogam bombas. E o oficial que mora na ilha explica que Kong é o protetor, ele mata uns monstros perigosos, mas há um grande adormecido. Aí achei um furo, do que vivia então o monstro adormecido? Há outros furos pequenos também. Os animais vivem divididos e não vão atacar os nativos, como se fosse possível restringir animais, pensaram que eram como cachorros domesticados. Visualmente Kong é lindo. Em algumas cenas parece que se inspirou em Apocalipse Now.

Kong é bem mais violento e menos romanceado. Alguns outros do elenco são: John Goodman, Corey Hawkins e Tian Jing.
Beijos,

Pedrita

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Alias Grace

Assisti a série canadense Alias Grace (2017) de Sarah Polley na Netflix. Vi na minha vizinha essa série que queria tanto acompanhar. Entre os melhores livros que já li na vida, Vulgo Grace, e comentei aqui, a série tem a orientação da própria autora, Margaret Atwood. Absolutamente incrível! São seis episódios que levam a todas as emoções que senti ao ler o livro.

Sarah Gadon está incrível com Grace. O livro é baseado em uma história real, da Grace Marks acusada de matar seu patrão e a governanta junto com um outro funcionário. Mas não há prova de nada. 

O funcionário era um mentiroso crônico e quando a série começa ele já foi enforcado. Não sabemos o quanto a Grace participou. Se ela foi a mentora como o funcionário diz, se ela combinou tudo com o funcionário, se ela foi cúmplice por não ter outra saída, se ela não queria nada daquilo. Só não me identifiquei com o ator que faz o funcionário, Kerr Logan, mas somente porque imaginei de outra forma, todos os outros pareciam que tinham saído da minha imaginação. Eu imaginava que o assassino fosse um homem mais violento e mais velho.
Como no livro um médico da mente vai na prisão tentar descobrir o que realmente aconteceu e a série, bem como o livro, passam a Grace contando a sua história e o incidente que a levou até ali. Adorei o ator que faz o médico, Edward Holcroft.

Como no livro, a série fala muito da condição da mulher, principalmente da mulher em trabalho subalterno. O tempo todo, quando questionada, ela diz os abusos que acontecem nas relações entre patrões e empregados. Os guardas do presídio também parecem tomar liberdades, espancar, bem como os do hospício. O corpo da mulher pobre é de todos. Também a série coloca a dúvida, se Grace queria contar histórias para o médico para mantê-lo interessado, ou se realmente aconteceu daquela forma. Nós mesmos vemos cenas feitas sob os depoimentos, bem diferentes da que Grace contou, mas a própria Grace pensa e vemos cenas diferentes também. Todas as dúvidas como no livro estão ali. Fantástico! Alguns outros do elenco são: Rebecca Liddiard, Zachary Levi, David Cronenberg, Paul Gross, Stephen Joffe e Anna Paquin.
Gostei que as colchas estavam lá. No livro Grace Marks fala muito da confecção de colchas, de que toda moça tem que ter uma certo número de colchas antes de casar. Do significado dos desenhos e colocaram as colchas como descritas e imaginadas por mim. As colchas na trama são personagens e contam histórias.

Beijos,
Pedrita

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Cícero Dias, O Compadre de Picasso

Assisti ao documentário Cícero Dias - O Compadre de Picasso (2016) de Vladimir Carvalho no É Tudo Verdade do Canal Brasil. No início Amir Labaki fala sobre o documentário. Eu conhecia uma ou outra obra de Cícero Dias, mas foi no filme A Coleção Invisível em 2013 que fiquei tentada a conhecer muito mais. E depois tive o privilégio de ver a exposição Cícero Dias - Um Percurso Poético no CCBB. Fiquei eufórica quando vi que o documentário ia passar e coloquei pra gravar. Amei!

Tinha lido um pouco da história do Cícero Dias na exposição, mas ver um documentário é muito mais ilustrativo. Fiquei fascinada com os painéis. Um deles, Eu Vi o Mundo e ele começava em Recife foi censurada uma parte e um entrevistado diz saber onde está esse pedaço mas prometeu nunca contar. Esse pedaço tinha cenas de bordel. Cícero Dias é de Recife, vivia no Engenho, infelizmente a belíssima casa está praticamente destruída, muito triste. De uma família de posses, sua casa promovia muitas festas e jantares. Cícero Dias tinha proximidade com Mário de Andrade, Manuel Bandeira e vários intelectuais da época. No Estado Novo Cícero Dias foi preso, depois seguiu para o Rio de Janeiro e foi convidado por Di Cavalcanti de ir para Paris. Também teve um convite para expor lá.

Foi lá que conheceu sua futura esposa Raymonde que é entrevistada no documentário, bem como sua filha Sylvia Dias. Na guerra, por ser muito famoso, ficou protegido em Paris, até ser sequestrado para ser trocado por alemães. Cícero Dias disse que ficou em um hotel, mas em grande tensão. A ordem era voltar ao Brasil, mas pela esposa ser francesa ficou em Portugal. E depois Picasso o chamou de volta a Paris. Cícero Dias era muito próximo de Picasso, chegaram até a dividir moradia. Mesmo em Paris vinha regularmente ao Brasil.

Obra Galo ou Abacaxi (1940) de Cícero Dias

Em uma dessas vindas expôs na Faculdade de Direito de Recife. Suas obras tinham agora aspectos do abstracionismo e chocaram os conservadores acadêmicos. As cores e detalhes regionais continuavam, mas já misturavam com outras técnicas. O documentário é muito rico, mostrou Recife, vários entrevistados, uma entrevista com Cícero Dias, várias imagens de época ou mesmo de acervos. Na trilha sonora uma obra de Guerra Peixe.


Beijos,
Pedrita

domingo, 18 de fevereiro de 2018

7 Desejos

Assisti 7 Desejos (2017) de John R. Leonetti no TelecinePlay. Eu adoro esse gênero, gostei bastante desse. Eu vejo até os ruinzinhos e esse é bem feitinho, não chega a ser um filmão do gênero, mas é bem realizado e gostei do roteiro. Começa com um enforcamento de uma mãe. A filha vê tudo.

Vem para os dias de hoje, a garota está adolescente. Muito bonitinha a atriz que faz a menina, Joey King. Muito bem feita a destruição da casa. Era uma casa bonita, bem cuidada, agora só entulho, tudo caindo aos pedaços. O pai da menina vira sucateiro. Ela sofre bullying na escola e é amiga das enjeitadas também. O pai acha uma caixa, a menina estudava chinês e entende a palavra 7 desejos. Até leva a caixa para um amigo, mas ele diz que é chinês arcaico e fala de uma prima. A menina se sente seduzida pela caixa e faz um pedido bobo. No segundo pedido é que eu entendi a relação com as mortes, a cada pedido, uma morte. Ela demora um pouco a perceber, mas mesmo assim reluta em se desfazer da caixa e de tudo o que conquistou.

Inteligente o final e claro, bem feitinho a possibilidade de continuação, mas terão que pensar bem no roteiro para ficar interessante. Os amigos são interpretados por Ki Hong Lee, Shanon Pusse e Sydney Park. O crush por Mitchel Slaggert. O pai é interpretado por Ryan Phillippe e o colega do pai por Kevin Hanchard. Interessante como os filmes recentes estão misturando bem mais raças.

Beijos,
Pedrita