sexta-feira, 27 de março de 2020

Em Nome dos Pais

Assisti a série documental Em Nome dos Pais (2020) de Matheus Leitão Netto na HBO Mundi. Faz tempo comprei o livro mas ainda não li. Até pensei em gravar a série e ler primeiro, mas queria muito ver do documentário. Acho muito corajoso quem tenta contar parte dessa história que ninguém quer que seja contada, até mesmo muito perigoso.

Matheus Leitão Netto queria conhecer mais a parte da história dos seus pais na época da Ditadura Militar. Seus pais foram presos e torturados em Vitória entre 1972 e 1974. Sua mãe com 19 anos, Míriam Leitão, estava grávida do irmão dele. Míriam Leitão fazia alguns trabalhos de resistência, pichar muros, entregar panfletos. Seu pai ficou 9 meses preso, passando fome, sendo torturado. Os policiais levaram os pais deles para o quartel, sem avisar ninguém, sem direito a visitas, advogados, julgamentos. No silêncio de uma confidencialidade perversa, pessoas decidiam como seriam os interrogatórios, quais torturas usar e se as pessoas teriam direito ou não a vida.
Não há direito a reparação da história. É proibido ter acessos aos documentos, como é proibido não entendo, já que há a lei de acesso a informação. Mas uma minoria se acha no direito de impedir que a história seja contada. Com os documentos de prisão dos pais, por 13 anos, Matheus Leitão Netto pesquisou os nomes das pessoas que assinaram esses documentos, tentou visitar o quartel, mas não teve autorização. Estranhamente o quartel, um lugar público, pode ser alugado pra festas, festas de formaturas, casamentos, mas não pode servir para pesquisa histórica. Fiquei pensando quais são as licitações que autorizam que um espaço público possa ser alugado e qual o destino do dinheiro.
Um dos torturadores de Míriam Leitão foi Paulo Malhães. O documentário lembra que o coronel confessou as torturas na Comissão Nacional da Verdade e foi assassinado logo depois. O coronel diz não ter culpa do que fez. O olhar sádico e perverso é assustador. Um prazer no olhar em falar da tortura, mesmo que o discurso não seja empolgado.

Pelo fato de todos serem jornalistas, conhecerem os direitos dos entrevistados e pessoas nas ruas, o documentário é muito cuidadoso em preservar a imagem das pessoas que não querem aparecer. O documentário mostra que vários países já fizeram a reparação. Eu vi o filme do Mandela: O Caminho para a Liberdade e lá na África do Sul os torturadores ficavam em uma mesa e um a um dos torturados iam ao microfone relatar os fatos, só isso, e que foi fundamental para a reconstrução da nação. E se achavam que os comunistas precisavam ser parados, que usassem a lei com prisões, julgamentos, jamais com desaparecimentos, torturas e mortes. Se os comunistas não podiam matar, sequestrar, roubar pela causa, os militares também não. O exército tentou impedir a realização do documentário.

Beijos,
Pedrita

10 comentários:

  1. Boa tarde:- No Brasil foram os coronéis que fizeram a ditadura. Em Portugal foram os capitães que "mataram" a ditadura e, 25 de Abril de 1974

    Por vezes penso: Como é possível um ser humano fazer ao seu semelhante o que tantos monstros fizeram nas ditaduras. Malditos sejam.
    .
    Votos de um dia feliz

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    1. ricardo, tb não entendo essa capacidade do ser humano de fazer mal ao outro, até mesmo por sadismo e prazer.

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  2. Acho que a história de países como o nosso é muito difícil de ser contada de forma fidedigna, porque há interesses poderosos em jogo. Mas a história do mundo também nos mostra que apenas os povos que - depois de muito sofrimento - se tornaram mais aguerridos e atentos ao governo do país é que se livraram das ditaduras e das diversas formas de subjugação.

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    1. marly, verdade, cada um quer contar a sua "versão" da história.

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  3. Uma postagem muito importante para quem aprecia História. Vou aprendendo.
    -
    Tudo se recomeça...
    -
    Beijos. Bom fim de semana!

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  4. Olá Pedrita
    Que post impactante.
    Essa parte da biografia da Míriam Leitão conheço por alto, mas não sei os detalhes que devem ser muitos e perversos.
    Concordo com o Ricardo como um ser humano é capaz de infligir a outro ser humano tortura?
    Imagina essas famílias sem notícias?
    Simplesmente um dia a pessoa sai para trabalhar/estudar e não volta?
    E a angústia da procura?
    Penso que é muito triste lembrar, mas absolutamente necessário para que nunca mais se repita.
    Levo a indicação do doc e tb do livro que eu tb não conhecia.
    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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    1. luli, o q mais me apavora na tortura é q alguns sentem prazer e excitação na prática. exatamente, de repente o parente desaparece. muitos conhecidos da míriam leitão nunca mais apareceram. é uma busca eterna. muito perverso.

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  5. Gosto muito desses documentários que abordam épocas difíceis da nossa história. Já assisti alguns no canal Arte1.

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    1. heloísa, são fundamentais. a história tem q ser contada.

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