domingo, 23 de outubro de 2022

Maria Bonita de Adriana Negreiros

Terminei de ler Maria Bonita (2018) de Adriana Negreiros da Objetiva. Queria muito ler esse livro quando soube do lançamento. Em uma das últimas feiras virtuais do livro, comprei.

O marcador de livros é magnético e com um trecho da obra de Tomie Ohtake

O livro fala muito da situação das mulheres no cangaço. A autora mostra o que como acontece com muitas mulheres da história, um apagamento dos fatos. Interessante que o nome Maria Bonita surgiu depois que ela morreu, porque na verdade ela era chamada de Maria de Déa. Como infelizmente ainda acontece muito, crianças se casavam ou eram estupradas. Maria de Déa era casada quando passou a se relacionar com Lampião. Ela casou aos 13 e era traída pelo marido com uma prima dela de 11 anos. As mulheres eram estupradas pelos maridos ou por quem se interessasse por elas. Hoje em dia muitos pais ou parentes querem ser os primeiros na vida da mulher, então cada vez mais cedo crianças tem sido violentadas. A idade média tem sido 9 anos.
Incrível imaginar que essas fotos só foram possíveis graças a Benjamin Abrahão, mas esse trabalho o desgraçou. Primeiro seus filmes e fotos foram confiscados pelo governo de Getúlio Vargas, depois as poucas fotos que conseguiu manter e publicar para sobreviver foram fruto de ameaça. Uma pena que ele não tenha levado esse material ao exterior e lá vivido em paz e ter seu trabalho reconhecido. Mas se não fosse ele, não teríamos essas fotos pra conhecer um pouco os famosos cangaceiros. 

Era praticamente uma época de bang bang. Cangaceiros e policiais viviam em guerra. Destruíam, matavam, estupravam, queimavam. Cada um decidia com quem faria acordos para ter proteção, mas nada era efetivamente garantido. Tudo incerto e um período de muita violência.
Foi com Maria da Déa que começou a permissão para ter mulheres no bando. Em geral os cangaceiros iam na cidade onde a mulher estava pra ficar com elas. Também estupravam por poder e iam a prostíbulos. Quando Lampião levou Maria de Déa para o acampamento, levou outras pra que ela não fosse a única. Dadá não gostava de Maria de Déa. São histórias cheias de lendas. Tudo indica que Maria da Déa não usava armas. Adriana mostra que a vida sexual não era tão intensa como se imaginava. Pela dificuldade dos acampamentos, pela aproximação das barracas, pelas regras por crendices, enfim, eram mais raras do que se imaginava. Mas sem métodos contraceptivos, elas engravidavam naquela precariedade toda. E como criança não era viável no acampamento, até mesmo pelo choro que chamava a atenção, eram dadas pelo caminho. Eu sabia que as cabeças tinham ficado expostas na cidade, mas fiquei mais chocada ainda em saber que eram colocadas em latões pra conservar e levadas de cidade em cidade pra ser expostas, quanta morbidade. E eu sabia daquela pesquisa pavorosa na época onde estudavam os cérebros e criavam teorias abomináveis pelo formato e tamanho da cabeça. A obra é incrível. Há um vasto índice remissivo da pesquisa.



Beijos,
Pedrita

14 comentários:

  1. Sempre tive a curiosidade em saber a história dela.
    big beijos
    www.luluonthesky.com

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    1. lulu, tempos difíceis. fico imaginando como devia ser difícil viver sempre fugindo, em acampamentos precários. tantas violências.

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  2. Não conhecia essa realidade no brasil nem a personagem, essa forma de violação de mulheres crianças é uma situação que me irrita e me choca, mas não é uma surpresa, só muito recentemente a sociedade despertou para a realidade da pedofilia e penso que mais por preconceito na homossexualidade do que por razões de idade, pois quando novo vi casos de mulheres muito novas comprometidas, com relações e casadas e a comunidade fechava os olhos.

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    1. carlos, lampião e maria bonita são muito importantes no brasil e repletos de lendas. vidas trágicas e violentas. sim, infelizmente aqui a prostituição infantil e o abuso infantil ainda é muito presente.

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  3. Acredito que seja um livro muito interessante de ler.
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    Saudações cordiais.
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  4. Eu também tenho vontade de ler este livro. Dá pra fazer um estudo sociólogico sobre a situação das mulheres da época só lendo esta biografia, rsrs.

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    1. marly, exato, adriana negreiros foi precisa em mostrar a violência à mulher.

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  5. Uma obra necessária!
    Esse livro deve ter uma escrita mais do que didática, deve ser envolvente e prender a atenção do início ao fim, cheio de nuances e história viva.

    Bjs Luli

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