segunda-feira, 8 de outubro de 2007

A Fugitiva

Terminei de ler A Fugitiva de Marcel Proust, publicado entre 1913 e 1927. É o penúltimo livro de Em Busca do Tempo Perdido. Esse comprei em um sebo por R$ 17,00 e pelo jeito nunca foi lido. As páginas estavam intactas. Só a lateral é que azulou em vez de estar na cor original, lilás, parece que ficou em uma prateleira por bastante tempo, mas nunca foi folheado.


Tela Boat at Giverny - Claude Monet

Nesse último livro, Albertine partiu. Nosso ciumento protagonista, depois de incomodar sua amada, praticamente enlouquece com sua partida. São incríveis os seus pensamentos sobre o ciúme, sobre a perda. Mas tudo fica muito pior quando ela morre em um acidente. Seu ciúmes só aumenta, ele deseja saber tudo o que sua amada fez escondido, sobre suas inúmeras traições com mulheres.

Tela Vida de Casada (1912) de Roger de la Fresnaye

Sempre ouço algumas pessoas comentarem que não lêem os clássicos porque são livros antigos e me surpreendo com tanta desinformação. Várias obras que li são profudamente revolucionárias e ousadas até mesmo para os dias de hoje. Em Busca do Tempo Perdido é uma dessas obras. Nosso protagonista nunca assume sua amada, vive com ela, mas por ela não ter uma posição social e financeira adequada, ele nunca enfrenta sua família. Está confortável viver com ela sem assumir, mas tem um ciúmes possessivo e avassalador. É doentio o desejo dele de saber detalhes das relações homossexuais da mulher com quem viveu. Depois de sua morte ele se aproxima das amantes da sua amada e pede que elas mostrem a ele como eram as carícias, pede inclusive que façam nele pra demonstrar.


Tela Oliver Tress de Georges Braque

Depois ele conhece uma mulher por quem se interessa, mas em sua confusão e ciúme, perde a possibilidade de casar. Há um relato complexo sobre a origem dessa moça, que é protegida e mudam seu nome, já que a família que descende tinha se envolvido em escândalos. Essa moça se casa e nosso protagonista fica inconformado de saber que o marido dessa moça é amante de um amigo seu e que só se casou visando o dote da moça. Relações complexas, com muita futilidade da alta sociedade da época.



Tela Três Mulheres (1921) de Fernand Leger

Trechos de A Fugitiva de Marcel Proust:

“A srta. Albertine foi-se embora! Como, em psicologia, o sofrimento vai mais longe do que a psicologia! Ainda há pouco, ao analisar-me, julgara que essa separação sem no termos visto outra vez era justamente o que eu desejava, e, comparando a mediocridade dos prazeres que Albertine me proporcionara com a riqueza dos desejos que me impedia de realizar, eu me achara sutil, e concluíra que não queria tornar a vê-la, que já não a amava.”

“Muitas vezes não prestamos bastante atenção, no momento, em coisas que já então podiam parecer-nos importantes; não ouvimos bem uma frase, não notamos um gesto, ou senão os esquecemos. E quando, mais tarde, ávidos por descobrir a verdade, remontamos em dedução, folheando nossa memória como uma coleção de testemunhos, chegamos a essa frase, a esse gesto, é impossível nos lembrarmos; recomeçamos vinte vezes o mesmo trajeto, mas inutilmente: o caminho não vai mais adiante.”

“Os homossexuais seriam os melhores maridos do mundo, se não representassem a comédia de amar as mulheres.”

Beijos,



Pedrita

8 comentários:

  1. Vc chegou a se questionar do pq que ninguem leu este livro até chegar às suas mãos? Ou que caminho ele percorreu até chegar no sebo? Será que alguem ganhou e depois vendeu pro sebo? Será que ganhou de alguem importante, ou foi só mais um presentinho???
    Dá pra viajar pensando nisso... e sem perspectivas de confirmações... Passei pra desejar uma semana maravilhosa e cheia de luz pra vc, grande beijO!

    ResponderExcluir
  2. Verdade, Andréa, o que será que aconteceu para este livro acabar num sebo? Curioso pensar nisso...

    Beijos

    ResponderExcluir
  3. Ahhh Pedrita... que post fantástico, pelo texto e pelas imagens escolhidas.
    Um post que eu gostaria de ter feito.
    Parabéns por ele!

    Proust e esse mergulhar na alma humana...

    ResponderExcluir
  4. Trata-se "apenas" de uma das melhores obras alguma vez escritas.

    ResponderExcluir
  5. eu sempre gosto de pensar o caminho dos livros. e a coleção do em busca do tempo perdido me fascina também por esse motivo. cada um veio de um lugar diferente e traz uma história diferente. o anterior tinha um cheiro de mofo terrível e claramente tinha sido muito lido. as páginas até dobravam muito. esse foi comprado no mesmo sebo e no mesmo dia e já é totalmente diferente, possivelmente de outra pessoa. tenho fascínio por esses caminhos. os livros que lia de bibliotecas eu tinha as mesmas sensações.

    obrigada teresa. gostamos igualmente de unir imagens e textos.

    realmente josé quintela soares

    ResponderExcluir
  6. Ai, e eu só li o primeiro livro de "Em busca do tempo perdido". Os outros 3 estão aqui comigo e eu ainda não criei coragem. Acho que é porque a letra é muito pequena e eu preciso trocar meu óculos!

    ResponderExcluir
  7. A mim chocou-me profundamente o facto de ter aquele ataque de ciúmes após a morte de Albertina. Mas é nisso que o livro é bom: sentimentos fortes e pensamentos profundos a condicionar a vida do narrador.
    Quanto è ideia de os clássicos serem livros do passado; são, sim. Mas é nesse passado que encontramos as melhores reflexões sobre a alma humana, sobre a vida. E a vida não é passado, portante os clássicos são actuais :) Beijinhos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. manuel, verdade, clássicos são muito atuais. realmente ataque de ciúmes pós morte é muito estranho. macabro. mas essa coragem de ser despir, de ir ao ridículo é que tanto fascina.

      Excluir

Cultura é vida!