quarta-feira, 14 de março de 2018

Hibisco Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie

Terminei de ler Hibisco Roxo (2003) de Chimamanda Ngozi Adichie da Companhia das Letras. Queria muito ler esse livro, quando ganhei um vale presente não relutei e que capa linda. Chimamanda é da Nigéria e antes de começar a ler fui pesquisar o país. A Nigéria é praticamente dividida em duas religiões, a muçulmana e a católica. Um pequeno percentual é de nigerianos que ainda mantém suas tradições e religiões nativas. Foi na Nigéria que sequestraram aquelas centenas de meninas nas escolas para serem estupradas, e recentemente novamente praticaram o mesmo ato hediondo.

Obra de Joseph  Eze

Hibisco era a flor da minha infância, tinha na casa alugada da minha avó. E é a flor da casa da tia da protagonista. A tia era universitária, e universitários criaram em laboratório o Hibisco Roxo, já que em geral a cor natural é rosa ou mesmo rosa avermelhada. 

Hibisco Roxo é um livro difícil de ler. O pai da protagonista é um monstro. Enquanto ele posa de bom homem para a comunidade católica, em casa espanca todos, põe chá fervendo nos pés das crianças, espanca a esposa até ela abortar duas crianças. E da onde vem tanto dinheiro? Todos em casa tem atividades escritas, tudo é milimétrico, cada obrigação tem hora, insuportável. Não há alegria, só há medo. O pai proíbe contato com o avô porque ele mantém suas tradições. O avô passa necessidades, o filho diz que dará muito dinheiro, carro, casa, se o pai se converter. É uma arrogância achar que a sua fé é superior a dos outros. E praticar muitas, mas muitas maldades em nome de uma religião.

Obra de Akpokieri Karo

O catolicismo é tão prepotente na Nigéria, que as crianças que vão ser batizadas ou crismadas precisam trocar seus nomes para nomes ingleses. Como se o nome nativo do país não tivesse valor, só o inglês.

É na casa da tia que os irmãos tem um pouco de paz. Lá que eles começam a ter mais contato com o avô, mas o pai tem sempre chilique quando descobre que as crianças dormem no mesmo teto que o avô. O avô está velho e doente, mas o pai das crianças está preocupado com a fé do pai. A própria neta por medo está preocupada em dormir sob o mesmo teto que um "pagão" e pelo medo, não consegue perceber que teria que abandonar os horrores da proibição e ter um pouco de compaixão e empatia por um velho doente. 

Fotografia de J.D. ' Okhai Ojeikere

A autora coloca também as incoerências humanas. O pai é um industrial e tem um jornal, se opõe ao governo opressor, é admirado por suas ideias. 

Na casa da tia tudo é difícil, ter combustível, água, luz, tudo que é essencial falta. Não há água para banhos como na casa do parente rico. As comidas estragam na geladeira, mas eles reaproveitam colocando muito tempero. Tudo trágico e desumano. Em muitas questões, corrupção, falta de saúde pública, inúmeras greves, lembrou muito o Brasil.

Tanto os artistas plásticos bem como o músico são nigerianos. Uma personagem adorava ouvir Fela Kuti. A família católica proibia rádio e televisão. Também proibia o idioma nativo.

Beijos,
Pedrita

17 comentários:

  1. Hibisco deve ser o que conheço por Papoula.
    E também foi muito presente na minha infância.
    Os muros das casas no bairro que eu morava, tinha Papoula.
    E a gente nem achava a flor bonita de tanto que tinha.

    Sim, a capa do livro é bonita.

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    1. liliane, eu sempre conheci hibisco como hibisco e papoula como papoula. hibisco tinha bastante no brasil quando era moda, desapareceu um pouco. papoula foram trazidas para serem plantadas, mas acho que não se adaptam muito ao nosso clima quente, diferente dos hibiscos. eu estou pensando em reclamar na net, mas a atendentes são terceirizadas e mal treinadas, raramente entendem de problemas tecnológicos. qd eu vencer a preguiça devo tentar.

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  2. Acha que devemos ligar para a NET, reclamando por não gravar?

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  3. Nunca ouvi chamar o hibisco de papoula, é uma árvore/arbustos eis uma imagem; https://www.safarigarden.com.br/muda-de-hibisco-hibiscus-rosa-sinensis
    Todos os livros de denúncia tem aspetos chocantes, umas vezes exagerados ou outras realistas para atingirem o objetivo. Contudo achei o livro fácil de ler.
    Os raptos foram efetuados por guerrilheiros para a obtenção de mulheres (como no caso das sabinas da história de roma) e de dinheiro por resgate.
    Gostei muito deste romance, já li Americanah que é bem maior e também gostei e tenho em casa Meio sol amarelo.

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    1. carlos, eu conheci hibisco. papoula só vi de fotos. eu não misturo os dois. não li os outros. esse foi o primeiro que li da autora e gostei muito. soube que meio sol amarelo tem filme.

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  4. Olá, Pedrita!
    O hibisco faz parte da minha vida, não fico sem essa preciosidade. Faço chá, risoto, coloco na cachaça e muito mais.
    Esse livro tem a capa linda, mas a história é cruel, muito triste o sofrimento da família.
    Juntando o fanatismo religioso e maldade desse pai é só mesmo sentindo na pele. As imagens são lindas!

    Beijinhos ♥

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    1. andréa, acho que nunca experimentei hibisco na comida. faz tempo que não vejo essa flor. triste demais o livro andrea. as pinturas são de artistas plásticos nigerianos.

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  5. Olá Pedrita
    Aaahhhhh meu livro tb tem essa capa roxa!
    É um livro difícil de ler e uma narrativa triste e dolorida.
    Achei interessante como ela e o irmão se dão bem quase que em um "diálogo silencioso" e como ela fica surpresa de ver os primos conversarem e expressarem suas opiniões.
    É nítido o amadurecimento da protagonista durante a leitura
    Interessante o padre Amadi que ao contrário do pai dela não tem problemas com as outras religiões, inclusive utilizando músicas tribais nas missas.
    Um livro que é abrangente, fala de intolerância religiosa, violência doméstica, ditadura, sociedade patriarcal, qualidade da educação, desigualdade social.
    Nesse contexto hibisco significa "liberdade de ser"
    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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    1. luli, essa capa é maravilhosa. nem me fale, apesar de não ser um livro extenso demorei muito pra ler. ficava um tempo sem conseguir ver. a protagonista só tinha a visão de mundo imposta pelo pai. só qd vai olhando o entorno é q percebe que há formas de relacionamentos saudáveis. mas acho que ela mesmo assim não tem noção da doença que é a relação familiar dela. da profundidade dos desvios comportamentais do pai. o padre amadi não é fanático.

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    1. isa, tem saído muitas matérias sobre essa autora aqui no brasil.

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  7. Esse livro deve ser bem forte denso de ler, daqueles com lencinho do lado.
    Big Beijos,
    BLOG LULU ON THE SKY

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    1. lulu, me irritava mais do q dava tristeza. fiquei triste em alguns momentos, mas mais com raiva das monstruosidades e desculpes para justificar o injustificável.

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  8. A Chimamanda Ngozi Adichie tem se saído bem como denunciadora dos costumes cruéis e dos abusos de toda ordem contra a dignidade humana. Não li ainda este livro, só o Americanah.

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    1. marly, o q eu gostei é q o livro não é panfletário, vai mostrando pelo olhar da filha o q acontece. só li o hibisco.

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  9. Oi, Pedrita. Deve ser um livro cheio de dor, denso, reflexivo e muitas críticas. Acho que pode ser interessante num outro momento da vida, mas não agora. ;)

    beijos!

    https://ludantasmusica.blogspot.com.br

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    1. lu, eu acho importante para refletir sobre o mundo q vivemos.

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Cultura é vida!