quinta-feira, 28 de novembro de 2024

O Acontecimento

Assisti O Acontecimento (2021) de Audrey Diwan no Max. Eu ouvi falar desse filme pelo meu amigo Miguel Barbieri no instagram. Ele dá diariamente dicas e essa lista foi de filmes franceses. Estranhamente terminei de ver exatamente ontem, quando mais obscurantismo cobre o Brasil.
 

É difícil acompanhar o sofrimento dessa jovem. Só depois que assisti é que vi que é autobiográfico e foi transformado em livro pela Nobel, Annie Ernaux que agora quero ler com urgência. Gosto de autoras que não se eximem de escrever obras polêmicas. Em 1963, com 23 anos, a protagonista engravida. Ela estuda literatura e decide que não vai levar adiante a gravidez. Na França da época, bem como no Brasil até hoje, o aborto é proibido. Na França a legalização do aborto aconteceu em 1975. O filme dá muita agonia. Logo nas primeiras semanas ela tomou a decisão, mas não pode falar pra ninguém. Ela procura dois médicos em sigilo, mas eles desconversam. E claro, são homens. Se fosse legalizado na época, ela logo conseguiria o direito ao procedimento com toda a segurança, higiene, mas como era proibido, ela passa uma peregrinação de muito sofrimento, angústia, se prejudica nos estudos, é um sofrimento atroz. Anamaria Vartolomei está impressionante, que atriz.

Mostrando o cotidiano da jovem na escola, podemos sentir o que seria ela grávida naquele contexto. Ela vivia em um alojamento da escola. Elas ficavam nuas em fila para a hora do banho. Dividiam quartos. E o moralismo que perdura até hoje vai aparecendo. Mesmo que as outras internas não soubessem, os julgamentos estão sempre prontos. Como acontece nesses casos, a mulher que segue com a gravidez sem querer, acaba abandonando os estudos, em qualquer idade. Na adolescência, a grande maioria no Brasil nunca consegue voltar aos estudos. No Brasil quem tem dinheiro consegue logo procedimentos seguros a peso de ouro. Só fica vulnerável nas clínicas clandestinas e procedimentos perigosos caseiros quem é pobre. Exatamente pra quem um filho irá impactar muito mais no orçamento.
Finalmente um rapaz leva a jovem a uma amiga que sinaliza o caminho, mas a gravidez já está mais adiantada. Ainda no tempo mais seguro para qualquer procedimento, mas muito arriscado se não for uma cirurgia. A moça indica uma outra mulher que é acolhedora, firme, mas não deixa de ser um procedimento para provocar o aborto fora dali. Após a interferência, a jovem volta de onde veio ou para onde decidiu passar o resto do processo. A moça que ajuda a protagonista diz que se ela for hospitalizada, tem que torcer para ser um médico mais humano, que vai colocar aborto espontâneo no protocolo, porque alguns colocam aborto e a jovem iria presa. Sim, ela passa muito mal, é hospitalizada e encontra um médico humano. Ela se salva, volta aos estudos e se torna essa grande escritora.
Beijos,
Pedrita

14 comentários:

  1. It sounds like a deeply impactful film, exploring difficult themes with raw emotion. The connection to Annie Ernaux's autobiographical work adds even more depth to the story. I can see why it would be so thought-provoking. I just shared a blog post, let me know what you think.

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    1. melody, fiquei muito interessada nos livros da ernaux.

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  2. Acredito que seja um filme muito interessante de ver.
    Feliz fim de semana

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  3. Assisti. Faz muito tempo. Só lembrei lendo sua resenha. Beijo,

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  4. A gente percebe a crueldade e a hipocrisia com relação ao aborto, quando depara com um caso como o ocorrido com a menina capixaba (de dez anos, se não me engano), que engravidou depois de ser estuprada. A família conseguiu autorização na justiça, para que o aborto fosse feito, mas ainda assim, o hospital do estado dela não quis fazer o procedimento. E a menina teve que ser levada a outro estado.
    Outra coisa que dá o que pensar é a suposição feminina de que se homens engravidassem, o aborto seria legalizado desde sempre.

    Beijo

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    1. marly, e no brasil estamos muito atrasados. estão proibindo o direito de uma criança de fazer o aborto. se a gravidez seguir ela e a criança correrão riscos de vida. tb estamos proibindo aborto de crianças sem cérebro, mulheres que foram estupradas. na frança em 1975 o aborto é permitido a qq pessoa q ache que não deve ter a criança. tb acho q nao só se os homens engravidassem, mas se fossem eles a perder o ano de estudo, a arcar com o peso e os custos. iam rapidinho mudar a lei.

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  5. Nunca tinha ouvido falar, Pedrita. Mas achei inteeressante.

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    1. sergio, tb não tinha ouvido, se não fosse a indicação do miguel barbieri não saberia. acho fundamental e não só pra ser visto por mulheres.

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  6. Olá, tudo bem? A campanha do Precinho acabou na Rede Cinesystem. Snif... Bjs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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    1. fabio, espero q consiga ir ao cinema de novo. anda muita correria.

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  7. Não conhecia e acho importante debater o tema.
    Levo já a indicação.

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