domingo, 6 de fevereiro de 2011

Adeus, China de Li Cunxin

Terminei de ler Adeus, China (2004) de Li Cunxin da Editora Fundamento. Eu peguei esse livro emprestado da minha tia. O nome original e o subtítulo é O Último Bailarino de Mao. É uma autobiografia sobre Li Cunxin. Lembrou bastante a obra Cisnes Selvagens de Jung Chang. Os dois viveram no mesmo período na China. A diferença é o estilo da narrativa. Jung Chang veio de uma família engajada politicamente na revolução, onde os pais eram estudiosos. Li Cunxin veio de uma família camponesa praticamente analfabeta. Enquanto Cisnes Selvagens tem um olhar crítico e aprofundado, a obra de Li Cunxin tem um relato mais detalhista e cronológico.Há um filme baseado nessa obra.

Li Cunxin vivia em sua aldeia na época do Mao, achava que o Mao era uma divindade. É assustador a falta de didática dos professores na época. A aldeia consegue uma autorização para ter uma escola improvisada. Em vez da professora ensinar o alfabeto chinês, ela escreve frases de adoração ao Mao e pede para as crianças copiarem. Isso se repete sempre, e a maioria não sabe nem segurar o lápis. Depois eles seguem para uma escola um pouco mais estruturada. A fome era tanta, que as crianças corriam as ruas procurando algo que fosse possível levar pra casa pra comer. Uma vez eles ficam radiantes porque acham uma toca de um rato e sabem que os ratos armazenam alimentos e que terão finalmente uma boa refeição depois de pegar a comida dos ratos.

Chega então na aldeia homens para selecionar crianças, Li Cunxin tinha 11 anos. Eles testam flexibilidade, resistência, mas tudo com muita truculência e falta de habilidade. Li Cunxin não é selecionado, mas na hora de partir que a professora aponta pra ele e eles deixam ele também ir. Ele segue para Pequim. Eu achei que a China ajudasse as famílias quase miseráveis dessas crianças selecionadas, mas muito pelo contrário. A prática do trabalho escravo é aceita com muita naturalidade. Li Cunxin passa a estudar tudo incansavelmente e a família não ganha nem uma ajuda de custo.No início Li Cunxin vai muito mal em todos os estudos, odeia balé, só com o tempo e claro com professores mais didáticos é que ganha o amor pela dança. Ele participa de várias apresentações, ganha vários concursos, mas nenhum dinheiro é enviado para a sua família. Quando ele ganha autorização para participar de um concurso nos Estados Unidos ele ganha, ele guarda parte do dinheiro para trazer para a sua família, dinheiro que o seu pai levaria 6 anos pra ganhar. Assim que Li Cunxin chega a China o seu dinheiro é confiscado pelo governo. Na China eles acreditavam que o chinês vivia para o governo e é propriedade do governo.


Trechos de Adeus, China de Li Cunxin:

“No dia de seu casamento, a jovem está sozinha em casa, no povoado.”

“Sabe que as casamenteiras simplesmente contam mentiras e depois somem com o dinheiro que ganharam. No povoado onde vive, muitas mulheres estão casadas com homens mutilados e terão de passar a vida toda cuidado deles. Agressão à mulher é fato comum. Divórcio está fora de cogitação. Mulheres que se divorciam são humilhadas, desprezadas, consideradas inferiores aos animais. Ela sabe que algumas se matam e reza para não ter o mesmo destino.”




e
Beijos,

Pedrita

5 comentários:

  1. Que história mais triste.
    O duro é saber que tudo isso é realidade.

    Bjs.
    Elvira

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  2. Cisnes Selvagens é impressionante. Se você ler a biografia de Mao, da mesma autora, vai poder ver isto tudo com cores e dores muito vivas.

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  3. Pedrita, pois é a Flavia já postou sobre ele lá na Saia Justa e eu fiquei curiosa para lê-lo. Dica anotada, valeu.


    Bjao

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  4. Olá, tudo bem? Neste século a China será o Império forte... Que tal aprender mandarim? ehhe.. Bjs, Fabio www.fabiotv.zip.net

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  5. elvira, nem me fala. a ditadura sempre assusta.

    enaldo, eu quero ler a biografia do mao, mas ainda não comprei pq o preço é muito salgado.

    georgia, fui lá ler. bacana. acho q vai gostar do livro.

    fabio, a china se fortalece em cima de trabalho escravo ou quase, não vejo isso como mérito algum.

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