sábado, 28 de setembro de 2019

Orfãos da Terra

Assisti Órfãos da Terra (2018-2019) de Thelma Guedes e Duca Rachid na TV Globo. Eu adoro essas autoras. Fiquei bem chateada quando tiraram essa novela que iria estrear às 21h. Era, desde que começou, a melhor novela no ar.

A novela começou muito forte e com um tema muito espinhoso, a imigração. Povos que precisam sair do seu país pela violência, pela guerra, pela destruição. A casa da família de Laila é bombardeada na Síria. Eles andaram quilômetros atrás de algum campo de refugiados. Nessa longa e dolorosa caminhada, carregavam no colo o filho doente. Cenas de cinema e de cortar o coração. Impressionantes Julia Dalavia, Ana Cecília Costa e Marco Ricca.

Um sheik se encanta com Laila, promete pagar o tratamento do irmão dela. Todo esse núcleo com interpretações impactantes: Herson Capri (Sheik Aziz), Letícia Sabatella (Soraia), Alice Wegmann, Bruno Cabrerizo (Hussein) e Renato Góes (Jamil). Laila foge com a família para o Brasil. Assustadoras as cenas no bote inflável que atravessaria o oceano.

O núcleo da Síria passa a ser desativado. Com a morte de Aziz, começou a vingança de sua filha Dalila. Muitos críticos e público disseram que a novela ficou cansativa com essa "brincadeira" de gato e rato da Dalila, não sei, essas autoras trabalham como nunca as tramas paralelas. Novelas mais recentes e menos conservadoras são mais amplas de conteúdo. Talvez a pressão do script fizeram elas alongarem essa trama, mas as outras eram tão fascinantes, que novela, quantos temas profundos foram abordados. Primeiro sobre a força das mulheres. Soraia já era uma mulher com uma história trágica, forte e determinada, que foge com o seu amado que era o seu amante e é morta pelo Sheik. A própria Dalila, que mulher forte, e estudada, tinha feito faculdade na Inglaterra. E as vinganças permitiram falar de muitos temas como o tráfico de pessoas e a incapacidade de Dalila de se permitir de ser feliz. Mesmo amando Paul (Carmo Dalla Vecchia), ela não desistia da vingança e ainda o mata.
O centro de refugiados em São Paulo abriga a família da Laila. Nesse espaço então foi possível falar de inclusão, culturas diferentes, povos que fogem da guerra, fome. Além dos personagens volte e meia tinham depoimentos de refugiados que vieram ao Brasil. Tiveram atores falando do Congo, da Venezuela. Do Congo estava a família da Marie (Eli Ferreira). Seu namorado no começo da novela era interpretado pelo congolês Blaise Musipere. Seu personagem não administra a chegada do filho da namorada, Martin (Max Lima). Ele se separa e se apaixona pela cantora Teresa (Leona Cavalli). Ela segue carreira internacional e a novela debate várias questões, realmente ia ser difícil conseguir que espaços europeus fechassem show com um imigrante. Desiludido ele tenta fugir do Brasil, não consegue, o dinheiro acaba e vai viver nas ruas. O cuidado com que trataram do tema, o acolhimento de todos com a dificuldade do rapaz com a bebida e questões sociais.
Lindo o amor de Davi (Vitor Thiré) e Cibele (Guilhermina Libanio), fiquei muito triste que ele morreu, mas permitiu abordar tantos temas. Primeiro o ódio que o avô (Osmar Prado) incutiu no rapaz fazendo ele se alistar no exército judeu para defender o seu povo. Falou muito da projeção de pais, nesse caso do avô, no filho, para que ele realize os seus sonhos. Davi acaba se apaixonando exatamente por uma pacifista, a descendente de árabe, Cibele. Foi delicada a explicação da morte, para não projetar mais ódio por um tema tão espinhoso, ele teria morrido em treinamento, assim nenhum lado foi culpado. Mas mostrou a inutilidade da guerra. Achei que Davi ficou fantasminha por tempo demais e forçado o novo romance da Cibele.
Davi estava em um núcleo apaixonante. Duas famílias vizinhas, uma árabe e outra judia, tiveram que lidar com suas diferenças. Sara (Verônica Debom) e Ali (Mohamed Harfouc) se apaixonam. Seus avôs em pé de guerra. O grupo alternava em cômico e dramático: Mamede (Flávio Migliaccio), Eva (Betty Gofman) e Mona (Lola Fanucchi). Se uniu a esse núcleo depois Abner (Marcelo Médici), Latifa (Luana Martau) e Ester (Nicetti Bruno). Abner era muito mau caráter, mas ficou engraçado quando se apaixonou pela Latifa. Achei engraçado no twitter uma participante dizer que era muito surreal que, em plena crise de desemprego, o Abner conseguisse tanto trabalho. Achei essa repetição de perder emprego demasiada.

Gosto muito como as autoras trabalham com atores que não são conhecidos da televisão. Elas apostam mesmo em seus personagens. Foi assim com o grande Faruq (Edu Mossri). Médico, ele não podia exercer a profissão no Brasil, conservador, de cultura antiquada, tinha muita dificuldade de aceitar o acolhimento da namorada (Paula Burlamaqui). Ela era médica também. As mulheres eram fortes e determinadas. Ótimos diálogos. Lembro de um com a psicóloga (Carol Castro), que também namorou um sírio, da dificuldade delas de lidar com o machismo deles.
Muito bem feitas as amizades masculinas, mesmo as machistas como de Norberto (Guilherme Fontes) e Gabriel (Anderson Mello). Os conselhos pessoais do advogado para o empresário eram absurdas e conservadoras, mas muito realistas. Eram muitas amizades de confidência entre personagens como Elias e Caetano (Glicério Rosário), Zoran (Angelo Coimbra) e Rogério (Luciano Salles). Fiquei triste que Missade não assumiu o amor com o Zoran e seguiu com o marido para a Síria, mas foi coerente. De criação conservadora, mesmo eles sendo cristãos, seria muito difícil para ela ter outro relacionamento. Eram muitas histórias maravilhosas, tramas com grandes atores: Eliane Giardini, Paulo Betti, Rodrigo Simas, Filipe Bragança, Danton Mello, Emmanuelle Araújo, Simone Gutierrez, Gabriela Munhoz e Yasmin Garcez.

Eu e minhas amigas não ligamos quando Kaysar Dadour foi cotado para o elenco. Não era um participante que gostávamos. Mas ficamos impressionadas com o desempenho dele. Chegamos a esquecer que ele era o Kaysar e só lembrávamos do personagem, o Fauze. No começo ele interpretava o capanga do Aziz, quase não abria a boca, a internet delirava a cada frase que ele dizia. Quando o personagem veio para o Brasil integrou o núcleo cômico com a Santinha (Cristiane Amorim) e passamos a torcer pelo casal.
Foi uma grata surpresa o romance da Valéria (Bia Arantes) com a Camila (Anaju Dorigon). Duas trambiqueiras que queriam se dar bem, a amizade delas floresceu. Aos poucos elas foram se regenerando enquanto curtiam a vida e se apaixonavam. A direção da emissora vetou o beijo em uma data que não poderia ser pior, quando o prefeito do Rio de Janeiro enviou agentes de censura a Bienal do Livro para vetar um livro de quadrinhos juvenil que tinha um beijo entre pessoas do mesmo sexo. O público esperneou o que pode nas redes sociais e a emissora resolveu permitir vários beijos entre pessoas do mesmo sexo em várias novelas na semana que terminou a novela. Viva o amor!

Beijos,
Pedrita

18 comentários:

  1. Não curti muito.
    Beijos boa semana
    www.bellapagina.blogspot.com.br

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  2. Essa novela eu assisti inteira porque sou fã do Marcelo Médici.
    Houve um começo ótimo porém as autoras mataram o vilão principal da novela logo no começo, se o assassinassem no meio ficaria mais interessante.
    O casal central não ganhou tanta empatia do público.
    O núcleo cômico foi divertido e depois que o Abner se apaixonou pela Latifa, perdeu a força e algumas situações realmente forçadas como ele arranjar emprego a toda hora.
    A causa dos refugiados foi interessante abordar na novela, mas ficou em segundo plano.
    A obsessão da Dalila em querer prejudicar Jamil e Laila foi forçada, talento da Alice Wegmann que segurou a novela até o fim.
    Detestei o troca troca de personagens fiquei um pouco perdida.
    E o beijo da Missade no padre pra não ficar com ele??
    big beijos,
    Lulu
    www.luluonthesky.com

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    1. lulu, tb assisti inteira. agora q posso gravar qd não vou ver simplificou muito. eu gostei do abner se apaixonando pela latifa. acho q só dpeois do casamento que ficou repetitivo. eu entendi a decisão da missade baseada no conservadorismo cultural dela.

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  3. Olá, Pedrita!
    Há muitos anos não assisti mais nenhuma novela.
    Pela resenha, imagens e atores era muito boa.

    Beijinhos, ótima semana ♥

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    1. andréa, eu adoro o gênero. agora estou órfã por um tempo de novelas. não estou acompanhando nenhuma.

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  4. Bem, Pedrita, vc já sabe minha opinião. Achei a novela maravilhosa no primeiro mês, mas depois só ladeira abaixo. Me decepcionou muito. Pra mim já foi tarde. beijão!

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    1. sérgio, eu gostei bastante. estou desanimada com as atuais. vou esperar estrear alguma próxima.

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  5. Olá Pedrita
    Mais uma que eu queria ter assistido e não deu :/
    Eu sou fã número um de novelas e meus horários não ajudam :(
    Não vejo a hora de poder voltar a acompanhar :)
    A proposta temática era muito interessante, deve ter tido muitos bons momentos.
    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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    1. luli, é o melhor horário pra mim. faço uma pausa no trabalho. se preciso voltar faço depois. e em geral qd tenho que sair é depois tb. mas agora dá pra gravar caso não consiga ver ao vivo e faço isso de vez em qd. sim, teve momentos incríveis.

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  6. Assisti um pouco, era bem na hora que eu chego do trabalho. Mesmo sem acompanhar todos os detalhes, gostei bastante. O final foi lindo.

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  7. Adorei a novela. Inteligente, abordou temas polêmicos e atuais, fez críticas à indiferença de nosso governo para o problema dos refugiados, da miséria de nosso povo, do desmatamento, de nossos índios, etc. Muito boa mesmo. Essas autoras são diferenciadas e muito profundas em suas abordagens. Parabéns meninas!

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    1. não acho que a novela só falou do brasil. acho que falou do problema mundial com os imigrantes.

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  8. Pedrita,
    Não consigo me ligar em novelas. Reconheço que, para quem gosta, é uma boa diversão.

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    1. heloísa, essa novela foi muito mais q diversão. foi informação.

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Cultura é vida!