terça-feira, 12 de julho de 2011

O Livreiro de Cabul

Terminei de ler O Livreiro de Cabul (2006) de Åsne Seierstad. Minha irmã que me emprestou esse livro que é da BestBolso, inclusive esse livro é fácil de achar em livrarias virtuais por 9 a 10 reais. O Livreiro de Cabul  ficou por muito tempo entre os livros mais vendidos. Me surpreendi no início por descobrir que a autora é norueguesa e que era correspondente internacional da guerra no Afeganistão. Sempre admiro a coragem de jornalistas que cobrem conflitos. Em geral esses livros desses países são escritos por pessoas que vivem neles, é diferente alguém olhar de fora e narrar aquelas vidas. O desing da capa é de Leonardo Iaccarino sobre a foto de Kate Brooks/Polaris. Foi o primeiro livro conforme a Nova Ortografia que li. A Georgia escreveu sobre esse livro no blog O Que Elas Estão Lendo? 

Enquanto cobria a guerra,  Åsne Seierstad conheceu um Livreiro de Cabul e pediu se poderia retratar a sua família e que para isso precisaria morar e passar um bom tempo com eles. Ele concordou e ela escreveu esse livro. Como muitos, ela se chocou com a forma com as mulheres são prisioneiras de um regime retrógado e violento. Ela mostra inclusive que a rigidez piorou nas últimas décadas, fala que a burca foi instituída muito recentemente. Relata que a maioria da população é analfabeta.  A preocupação da maioria é em seguir os rígidos costumes, há muito medo, principalmente das mulheres em estimular pensamentos nos homens. Eles passam a maior parte do tempo com medo, rezando e combinando casamentos onde o casal, em geral, só vai se conhecer na cerimônia. Estudo, informação e cultura parecem não existir para essas famílias. Tanto que Åsne Seierstad relata que escolheu uma família diferente de uma maioria, já que o pai é um livreiro. E eu me surpreendi que apesar do pai ser livreiro, ele quer que os filhos trabalhem desde pequeno horas a fio, sem dias de descanso e impede que os filhos estudem. Mesmo vivendo dos livros e amando os livros, ele não autoriza os filhos de estudar. Åsne Seierstad relata inclusive que mesmo quando alguns governos são menos rigorosos nas leis castradoras, que as próprias famílias não aceitam e seguem tradições. Como sempre as mulheres são vítimas de um sistema opressor, o que significa muitas vezes serem assassinadas pela própria família e o ato ser aceito no grupo porque era preciso limpar a honra.

Eu anotava muitos trechos, chegou uma hora que achei melhor parar. Vou escolher alguns.

Trechos de  O Livreiro de Cabul de Åsne Seierstad:

“Quando Sultan Khan achou que estava na hora de procurar outra esposa, ninguém queria ajudá-lo.”

“Eu havia passado seis semanas com os comandantes da Aliança do Norte no deserto perto da divisa com o Tadjiquistão, nas montanhas de Hindu Kush, no vale do Panshir e nas estepes ao norte de Cabul. Acompanhei suas ofensivas contra o Talibã, dormi em chão de pedra, em cabanas de barro, na linha de frente. Viajei na boleia de caminhões, em veículos militares, a cavalo e a pé.”

“-Primeiro os comunistas queimaram meus livros –ele contou-, depois os livros foram saqueados pelos mujahedin, e em seguida queimados de novo pelos talibãs.”

“A família de um livreiro é incomum em um país onde três quartos da população não sabem ler nem escrever.”

“O que me revoltava era sempre a mesma coisa: a maneira como os homens tratavam as mulheres. A crença na superioridade masculina era tão impregnada que raramente era questionada. Em discussões, ficava claro que, para a maioria deles, as mulheres são de fato mais burras que os homens, que o cérebro delas é menor e que não podem pensar de maneira clara como os homens.”

“Também vestia a burca par saber como é ser uma mulher afegã. Como é espremer-se num dos três bancos traseiros de um ônibus quando há muitos bancos livres na frente. Como é dobrar-se no porta-malas de um táxi porque há um homem no banco de trás.”


Não consegui localizar pintores do Afeganistão. Pelos relatos no livro, a cada novo governo no país muitos lugares históricos eram destruídos.






Beijos,
Pedrita

4 comentários:

  1. Eu adorei a leitura do "livreiro de Cabul". Confesso que tinha um certo receio pois o livro tinha ficado na lista dos mais comprados e nem sempre são livros legais.
    Denise

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  2. Pedrita, esse livro é muito bom mesmo.

    Uma das cenas do livro que gostei foi em relacao as mulheres.

    Mesmo com tanto sofrimento elas achavam um caminho para buscar a felicidade. Procuravam manter a esperança no esmalte de unha ou vestidos que podiam usar, em sandálias que podiam mostrar ou na cumplicidade de um olhar. Queriam estudar e trabalhar livremente.

    Hoje em dia como já viajei para o Egito, Tunísia, pude comprovar um pouco dessa cultura de perto.

    A realidade que vim a conhecer. Fiquei com raiva do machismo e desigualdades desses países.

    Um ótima dica, parabéns!


    Bjao

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  3. Oi, Pedrita. Eu fico imaginado é como um cara consegue sobreviver como livreio num lugar desses. Se bem que deve ser venda exclusiva para turistas, já que apesar de uma zona de constantes conflitos, há um turismo muito intenso naquela região. A humanida ainda está a anos luz de uma evolução. Do lado de cá, democracia e consumismo quase obrigatórios, o que torna a democracia uma farsa. Do lado de lá o oposto e mais opressão por cima. É difícil demais ser feliz num mundo assim. Só mesmo fechando os olhos para a realidade. Abraços. Paz e bem.

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  4. dê, eu tb tinha receio, menos q vc pq vc me indicou.

    georgia, elas até tentam buscar a felicidade, mas em geral desistem no meio do caminho pelas dificuldades e pressão contra.

    cacá, o livro conta como esse livreiro começou, foi na infância, ele lia um livro, precisava de dinheiro pra ler outro, vendia por mais do q tinha comprado e assim começou. ele até escondia os livros já q várias vezes queimaram vários. mas ele fica mais especialista em esconder em vários lugares.

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