Uma mulher, quer dizer, uma alma, vai ser despejada da sua casa. Finalmente a casa que a mulher viveu foi vendida, seus objetos vão embora. E a alma vai se despedir do local. Assim, a personagem lembra de sua vida. Adorei ela falar das palavras, que mudar uma única letra muda todo o sentido. Na narração descobrimos que na infância ela tinha paixão pelas palavras, estimulada pelos seus familiares, algo que acontecia muito e pouco acontece hoje em dia. E esse brincar com as palavras, letras, seguiu na sua vida. Li que Clarice Lispector era muito ligada as palavras, ficava sempre procurando uma palavra que realmente expressasse o significado do que queria dizer. Eu tenho esse fascínio igual por palavras, me encantei na hora pela peça nesse momento. E, ah, os objetos. Sou fascinada pelos objetos. A personagem ouvia que tinha que desapegar, como ouço isso.
Fotos de João Caldas Filho
A peça é muito feminina e fala muito do universo da mulher. Ela era professora, mas acabou enriquecendo, porque o marido enriqueceu, mas mesmo assim o dinheiro continuava sendo juntado. Ela fez o que muitas mulheres infelizmente ainda são aconselhadas a fazer, a fingir que não veem, fingir que concordam. Como ela mesma diz na peça, ela fingia que não via, dizia que estava tudo tão bem assim. Para não ter conflito, para viver em paz, muitas mulheres são aconselhadas a não contrariar o marido, a fingir que concordam. A personagem pelo jeito preferia não fazer perguntas. É muito raro que alguém mude de classe social. Se o marido ficou rico, sim, pode ser porque teve muita sorte nos negócios, mas na maioria das vezes é porque algo no processo não está certo. Na época do café, os cafeicultores ficaram milionários porque usaram mão-de-obra escrava. Não tinham gastos com funcionários, não gastavam com acomodações e alimentação descente. É muito difícil alguém enriquecer tratando e pagando bem funcionários, não sonegando impostos. E a personagem conta depois o motivo, o marido se envolveu em corrupção.
A peça parte do pressuposto que há almas e que elas podem voltar e ver suas vidas depois. Então a personagem fala que há um ajuste de contas logo após a morte e que todos nós erramos e vamos ter que ter contato com os nossos erros. Sim, ninguém é perfeito. No verniz social a gente até tenta. Foi muito legal que na peça eu encontrei a Andreia Inoue do Papeando, blog que gosto tanto. É a primeira peça que vejo em 2020. Alma Despejada fica no Teatro Folha até 28 de março.
Beijos,
Pedrita
Esta peça parece ser ótima. Todos os temas abordados são do meu interesse. Sempre fui apegada às palavras (tanto que devemos ter aqui em casa, uns 15 dicionários, a maior parte de português, mas também de outras línguas).
ResponderExcluirE tem também a questão feminina, e aquele modo de proceder - que muitas mulheres adotam - fechando os olhos para as 'aprontações' dos maridos... é tudo muito interessante.
marly, acho que vai gostar muito desse espetáculo. ah, vc tb tinha ligação com dicionários em casa. era algo comum. sim, fingir q não ver. não confrontar. algo q nunca concordei nem pratiquei.
ExcluirDeve ser bem interessante e gosto muito da actriz.
ResponderExcluirBeijinhos e uma boa semana:))
isabel, é ótima a peça.
ExcluirOi, Pedrita,
ResponderExcluirParece ser muito boa. Fiquei interessada. Bj.
heloísa, acho que vai gostar.
ExcluirPedritaaaa, bom dia! nossa, é sempre uma alegria vir aqui no seu espaço e ler as suas postagens. Essa peça é maravilhosa,que texto incrível e super rico em sentimentos, é uma vrdadeira montanha russa,né? a gente se diverte e se angustia em várias situações. E é um privilégio ver a Irene Ravache em toda a sua grandeza. E claro que foi maravilhoso ter te encontrando, fiquei muito feliz em te conhecer fisicamente,pq pelos seus textos eu já me sentia intima.Um abração e espero que Alma Despejada seja a primeira de muitas!
ResponderExcluirandreia, tb adoro o seu blog. tb achei a peça maravilhosa, com texto muito rico em sentimentos. sim, verdadeira montanha russa. realmente é muito privilégio ver no palco a irene ravache. sim, tb adorei te conhecer pessoalmente. tb me sinto íntima de vc pelo seu blog. cultura é tudo.
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