terça-feira, 10 de janeiro de 2023

As Benevolentes de Jonathan Littell

Terminei de ler As Benevolentes (2006) de Jonathan Littell da Alfaguara. Desde que vi a peça com essa obra, queria ler. O post está aqui. São 896 páginas, então era uma obra cara pra adquirir. Finalmente em um feira do livro virtual a obra apareceu com 50% de desconto e pude adquiri-la. Que livro, que obra difícil! Me revirei por dentro. Essa capa é baseada na obra de Lucio Fontana e é belíssima! Geocrusoé também falou desse livro aqui.

O marcador de livro foi uma amiga que me presenteou, tem um trecho da obra Tenture de Saint Etienne de Colijn de Coter.

 

O livro conta a Segunda Guerra pela ótica do carrasco. É insuportavelmente contundente. A crueza desse monstro nos revira por dentro. Eu fiquei bastante surpresa com a condensação do livro na peça. Usaram muito o texto filosófico inicial e alguns pontos específicos. A peça é maravilhosa! Muito bem adaptada. Mas o livro é uma verdadeira saga, com uma riqueza de detalhes desconcertante.

Defensores da Fortaleza de Brest  (1951) de Piotr Krivonogov

Após o texto filosófico inicial, começa a saga do protagonista pela sua ascensão no Nazismo. Assim que começa as ações e vai em locais por onde a guerra passou ele tem vômitos, dores de cabeça, pesadelos, insônia. Tanto que é enviado a um sanatório, onde oficiais estressados iam se restabelecer.

Obra No Caminho para o Campo de Concentração de David Friedmam

O nazista passa a ser um exímio relator. Começa a ser elogiado pelos chefes, receber condecorações e subir. Jonathan Littell (1967) é americano, formou-se na França e trabalhou em grupos humanitários da Ação contra a Fome trabalhando na Bósnia, Chechênia Congo e Afeganistão. Em 2001 passou a dedicar-se aos estudos da Segunda Guerra para escrever o livro em francês. É perceptível a compreensão do autor pelas rações. O protagonista visita os campos de concentração e faz todo um planejamento pra melhorar as rações nos campos. A obra fala muito de corrupção, dos desvios dos mantimentos. Como se fosse possível em tempos de guerra, com escassez de alimentos, que os carregamentos chegassem como foram enviados ao seu destino. Mostra muito a utopia dos organizadores, que em suas casas confortáveis, onde nada faltava, achavam que organizar as rações resolveriam muitas questões. 
Obra O Bunker (1944) de Halina Olomucka

Inclusive o personagem conhece Mengele em Auschwitz. Se ele conhecesse os métodos de Mengele saberia que o médico costumava deixar as pessoas passando fome pra ver o quanto suportavam.
O livro fala de inúmeros relatórios, reuniões, de modo patético, querendo criar logísticas para resolver suas questões. As rações eram para os judeus aptos ao trabalho. Com o tempo, começa a faltar mão-de-obra e os nazistas passam a querer que os judeus exerçam as funções, mas mortos de fome, cheios de doenças, não conseguiam. E os nazistas passam tempos em reuniões infindáveis, relatórios imensos, para tentar soluções de aumentar o desempenho deles. A obra mostra o quanto os militares de altos escalões viviam completamente alienados da realidade. Em uma segunda visita do personagem à Auschwitz, ele encontra mais confusão que antes, já que o envio de vítimas é absurda, e não há condições de executar qualquer uma das ordens dos burocratas, igualmente insanas. Inclusive no começo o autor mostra como foram aperfeiçoando as técnicas abomináveis de execução. Que começavam com tiros em valas, depois caminhões com gás carbônico voltado para as cargas, até chegar aos fornos monstruosos. Mostram os burocratas comemorando o aumento de produtividade, leia-se, o aumento de extermínios em larga escala.

Obra A Contagem em Auschwitz (1944) de Mieczyslaw Koscielniak 

É um livro indigesto, mas muito, muito necessário. Primeiro para que fique claro que Hitler não fez aquelas barbaridades sozinho. Inúmeros oficiais tinham prazer naqueles horrores, achavam necessário matar os judeus, deficientes, ciganos e homossexuais. Esterilizar pessoas. O extermínio só foi possível porque uma infinidade de pessoas tinha prazer em massacrar os outros, porque outra infinidade cumpria ordens sem menor remorso e outra infinidade por pura covardia. Essas barbáries só foram possíveis porque um bando de lunáticos seguiram fielmente as ordens e os extermínios. Inclusive o autor mostra o quanto a maioria justificava que os judeus que eram culpados de tudo o que lhes acontecia, como alguns fundamentalistas evangélicos fazem hoje em dia no Brasil. Como hoje em dia também, inventavam uma infinidade de mentiras dos judeus. Se algo acontecia, sempre diziam que os judeus que tinham feito, que tinham matado. Os judeus já estavam em guetos, severamente vigiados, mas sempre davam um jeito de culpar os judeus por tudo de ruim que acontecia na guerra. Obra mais que necessária nos dias obscuros que estamos vivendo!


Beijos,
Pedrita

12 comentários:

  1. Com tantas páginas nunca me candidataria. Só se fosse um Diário, uma biografia. Beijo,

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  2. Ainda bem que ficou satisfeita!:)
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    O que dizem os meu olhos
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    Uma excelente semana.
    De melhoras, muito poucas! Beijos

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  3. Que resenha sensacional!

    Concordo plenamente com você quando diz que em uma guerra não existe só um vilão... infelizmente, são muitos os que sentem prazer em praticar maldades 😕😕

    Bjs Luli

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    1. luli, sim, há uma infinidade de abutres ávidos por discursos fascistas.

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  4. Um livro assim com tantas páginas até assusta só de pensar em começar a lê-lo.
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    Saudações poéticas
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  5. Realmente, parece um livro necessário. Se você quiser tomar conhecimento de algo importante sobre o assunto 'nazismo', recomendo um livro (também grande), que eu já li. Chama-se "A guerra contra os fracos" e o autor é o historiador estadunidense (porque americanos somos todos nós, né? rsrs) Edwin Black.

    Beijo

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  6. Um dos livros mais marcantes que li em toda a minha vida, muito duro, mas que descreve, ensina e faz refletir sobre a parte mais negra da segunda guerra e o espírito alemão de então.
    O autor capaz de escrever obras assim e também de análise social, também pode escrever coisas chocantes sem qualquer interesse ou valor como "Uma história antiga" mais porno que erótico e sem nenhuma mensagem ou formação que nem consegui concluir.

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    1. carlos, sim, um dos livros mais marcantes q li tb. fase q não podemos esquecer pq periodicamente nos assombra.

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