segunda-feira, 16 de abril de 2018

A História da Princesa Isabel

Terminei de ler A História da Princesa Isabel (2014) de Regina Echeverria da Versal. Eu tenho tido muito interesse em diminuir as lacunas sobre a História do Brasil e minhas péssimas aulas de história. Quando vi esse livro na Feira do Livro da USP, com 50% de desconto não exitei.

Preciso pedir inúmeras desculpas a memória da Princesa Isabel pelos equívocos. Sim, a Abolição da Escravatura aconteceu porque o mundo pressionava. O Brasil foi o último país a abolir os escravos e fez de tudo para evitar o ato. A Inglaterra já tinha proibido o comércio entre os dois países para pressionar e Dom Pedro II criou a Lei do Ventre Livre em uma tentativa de adiar mais ainda a abolição. Mas eu desconhecia que a Princesa Isabel sempre deu demonstrações de ser contrária a escravidão. Quando li nesse livro que em seu casamento pediu a abolição de escravos que a atendiam para continuar com eles, mas agora livres, achei que era somente um capricho, ou uma forma de resolver a mudança dos escravos de propriedade. Mas em vários outros momentos a Princesa Isabel se mostrou contrária a escravidão. Seu marido inclusive, o Conde D´Eu era contra a escravidão. Tanto que após a abolição, surgiu uma Guarda Negra para proteger a família real. Foi a abolição que causou a derrocada final da monarquia e a entrada da república. Mas para os negros, a monarquia teria sido muito melhor. Os republicanos eram ligados aos fazendeiros de café e mais conservadores.
Obra de Jean-Baptiste Debret

Recentemente há uma determinação que sejam incluídos nos livros de história do ensino histórias de negros e sempre ouço dizer sobre a dificuldade de levantar os fatos. Eu fico me perguntando se a dificuldade é real. Sim, deve ser muito difícil saber da história dos antepassados dos escravos na África, mas no Brasil há inúmeras histórias de negros e mulheres que foram sempre escondidas. Esse livro traz várias histórias de negros e mulheres que atendem a essa determinação. O primeiro capítulo é um deles. Conta um fato que eu não conhecia. Um delegado voluntário de uma pequena cidade foi morto a pancadas porque parecia nada fazer para enviar oficiais atrás de escravos fugidos e também parecia que escondia alguns. Isso aconteceu bem próxima a abolição da escravatura. Esse livro conta que um pouco antes da abolição eram inúmeras as fugas de escravos em todo país e que os quilombos estavam cada vez mais fortes, o livro enumera inclusive esses quilombos.
Mas outro fato me surpreendeu, a própria Princesa Isabel escondia negros. Dom Pedro II não era a favor da abolição. Eu li a biografia de Dom Pedro II, que sempre foi um amante do conhecimento e fez de tudo para os seus filhos terem toda a instrução necessária. E ainda acompanhava e estimulava as aulas. Isabel tornou-se numa mulher culta e de opinião. Ela escrevia muitas cartas, inclusive para o seu pai e o reprimia sempre que discordava de algum tema do reino. E não era fofa na discórdia, era sempre clara e objetiva, talvez por isso incomodasse tanto os políticos. Dom Pedro II gostava de viajar muito e a Princesa Isabel ficou no trono várias vezes e a câmara questionava sempre o fato dela ser mulher. Uma vez ela precisou se ausentar a uma audiência porque tinha abortado e os parlamentares fizeram questão de usar esse fato como argumento de prova da incapacidade de uma mulher  em governar pelas suas questões femininas. Outros preconceitos assombravam Isabel. Os políticos não aceitavam em hipótese alguma o seu marido, o Conde D´Eu, como decisor, ele, junto com Isabel faziam parte do conselho, que não o aceitava por ser imigrante. Como se os brasileiros fossem donos dessa terra. Somente os índios poderiam usar esse argumento. Todos os outros ou eram imigrantes ou filho de imigrantes.
Gostei que o livro contar a história da Princesa Isabel no exílio. Quando ela, seus pais e sua família seguem para a Europa. Até o inventário se realizar eles foram se endividando, principalmente Dom Pedro II. Depois o casal Isabel e Gastão compram uma casa. Não sabia que Assis Chateaubriant foi entrevistá-los. Ia ficar 2 dias na casa e passou 4. Depois Chatô comprou a casa. Posteriormente vendeu e tudo o que era de Isabel foi enviado ao Brasil. Muitos fatos do exílio puderam ser conhecidos porque a neta da Isabel escreveu relatos.

Gostei da bela edição, só não entendi as cartas serem em papel amarelado e com letra rosa.

Quero muito ler agora o livro da Mary Del Priore.

Beijos,

Pedrita

16 comentários:

  1. Olá, Pedrita!
    Não tem como a gente esquecer da 13 de maio de 1888 da Lei Áurea. Os negros sofriam muito e hoje em dia sofrem com preconceitos, apesar que os preconceitos não são mais só com os negros. O povo precisa aprender a lidar com as diferenças, cada pessoa é um ser único e merece ser feliz do jeito que escolheu.
    A História da Princesa Isabel é muito bonita, quando o professor de história falava sobre a vida dela, a minha imaginação ia longe, é como se eu fosse ela, rsrs.

    Beijinhos, ótima semana ♥

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. andréa, aprendi com pouca profundidade esse momento histórico. muito triste que deram a abolição mas largaram os negros a própria sorte. sem perspectivas, analfabetos.

      Excluir
  2. Respostas
    1. isa, a princesa isabel era neta de dom pedro, filho de dom joão que foi rei de portugal.

      Excluir
  3. Desconheço estes aspetos da história do Brasil e inclusive não sabia que o Brasil demorara tanto a revogar a escravatura.
    Nas biografias, por vezes, há que ler várias pois os autores tem tendência de transferir para o biografado as suas simpatias ou antipatias.
    Estranho os fazendeiros estarem com a república, pois por norma as terras tinham sido atribuídas aos nobres.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. carlos, o brasil foi o último país a abolir a escravidão. já sofria embargo da inglaterra para ver se abolia. os fazendeiros queriam a continuação da escravidão e como a república não era abolicionista estavam com os republicanos. tanto que a monarquia perdeu o trono pela abolição.

      Excluir
  4. Gosto muito de ler histórias do Brasil e personagens da nossa história. Tive um ótimo professor de história no Colegial. Fui incentivada por ele (Amaro Quintas).
    Acho que a história não pode ser mudada. É passado. E pra frente é que se anda. Eu simplesmente leio e grifo o que me interessa.
    Machado de Assis cita num dos livros um escravo que foi alforriado e que em seguida comprou escravo e tratava mal e com agressão o escravo comprado. Como se pode vê seria igual aos contrários a abolição.
    Leio história para conhecer.
    Tenho carta da Princesa Isabel que até hoje, se leio, choro.
    Não sei se essa autora é historiadora.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. liliane, eu gosto, mas tb sinto necessidade. acabo achando que estou desinformada. eu não tive bons professores de história. só de outras matérias. alguns escravos libertos compraram escravos e tb os maltratavam. mas era ínfimo o número de escravos libertos que tinham posteriormente dinheiro para ter escravos. a maioria ficou miserável depois de liberta pq a sociedade não os incluía por preconceito e pq não tinha como tb. a autora é jornalista e anda escrevendo várias biografias.

      Excluir
  5. Sempre gostei de história e essa obra deve ser bem interessante.
    Um ótimo dia pra você.
    big beijos
    www.luluonthesky.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. lulu, eu tive professores ruins. só depois, no cursinho, é que passei a tomar gosto.

      Excluir
  6. Olá Pedrita
    Fiquei encantada com sua resenha!
    Detalhada e com singularidades que descreve um livro interessante, instigante e completo.
    Siiiiiiiiiiiiim concordo que há lacunas lamentáveis na História do Brasil que só agora ( e aos pouquinhos) tem sido mediante grandes esforços e trabalho de formiguinha e muita dedicação sido trazido à luz das narrativas e conhecimento dos leitores.
    Levo a indicação, vai já para a lista dos desejados.
    Bjs Luli
    Café com Leitura na Rede

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. luli, seria muito bom q esses estudos fossem incorporados no material das escolas. pena que tudo seja muito lento na atualização do material didático e muitas vezes são superfaturados com a preocupação no levantamento rápido de dinheiro via corrupção e não na melhora do conteúdo.

      Excluir
  7. Olá, Pedrita,

    Eu também venho tentando suprir as lacunas deixadas por nossa insuficiente educação, no que se refere à história. Mas não sou lá tão otimista quanto à melhoria desse ensino para a atual geração, pelo contrário. Estamos a atravessar uma fase em que há grupos no Brasil tentando - de todo modo - fazer uma revisão da História (não apenas a brasileira), com o propósito claro de atenuar - no que cabe - as culpabilidades dos - digamos - mandantes, e fazer recair sobre as vítimas a responsabilidade pelas suas próprias tribulações. Para isso, livros já foram lançados, bem como programas de TV e o escambau. À vista disso, não dá para a gente ter esperanças de que a nossa história nos seja agora relatada de forma integral e isenta.
    É um alento saber que a princesa Isabel era verdadeiramente contra a escravidão.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. marly a própria autora coloca divergências de biografias. há uma dúvida por ex se o conde d´eu queria mesmo ir a guerra e como se comportou por lá. uns disseram que ele foi muito cruel. sanguinário. outros que foi justo e com ótimas decisões. é muito bom qd uma obra coloca várias versões, não só a que lhe interessa. tb ando preocupada com as distorções de fatos para atender um ou outro ideal político.

      Excluir
  8. Os ingleses não proibiram o tráfico negreiro porque eram "bonzinhos". Eles proibiram porque já estavam planejando a superprodução de objetos inuteis a serem consumidos. E com a boa onda da Revolução Industrial precisavam de gente para consumo Los!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. claro fatima, por interesses comerciais. e com a escravidão o brasil ficava muito mais produtivo e de difícil competição.

      Excluir

Cultura é vida!