terça-feira, 27 de junho de 2023

Açúcar Queimado de Avni Doshi

Terminei de ler Açúcar Queimado (2020) de Avni Doshi da Dublinense. Eu queria muito ler esse livro desde que foi lançado após ler a primeira frase "Eu estava mentindo se dissesse que o sofrimento da minha mãe nunca me deu prazer". Eu debato bastante sobre essa máxima de que mães são maravilhosas e fazem tudo por amor, que não existem mães ruins e um livro que tocasse nesse tema me interessava muito. A autora nasceu nos Estados Unidos, é de origem indiana e vive em Dubai.

O marcador de livros Bailarina Olhando a Planta do seu Pé Direito de Degas que foi publicado pela Folha.

A edição de Luisa Zardo é belíssima. A protagonista Antara gostava muito de desenhar e torna-se uma artista plástica que não acredita em seu próprio talento. A mãe da protagonista começa a ter esquecimentos. A filha percebe que vai ter que passar a cuidar da mãe que sempre a abandonou. A filha conseguiu se libertar da relação, casou, construiu uma família com o marido. E a presença da mãe começa a desestruturar novamente sua vida. Foi um livro que li de forma bem diferente, me fazia querer ler aos poucos, trecho por trecho e ficava muito, mas muito reflexiva a cada pedaço. Bebia cada palavra, parava e ficava muito tempo pensando, até voltar e ir em frente. Degustei cada pensamento, que livro impressionante e profundo!
Obra Mão com Anel (1967) de Paul Thek

Antara é fascinada pelas obras de Paul Thek. Enquanto ela vai tentando administrar o que precisa fazer com a mãe e seu casamento, a obra vai indo e vindo no tempo. Passamos então a conhecer a história de Antara. Há uma constante competição entre elas. A mãe só sabia viver a sua vida e seus conflitos. Volte e meia sua filha era criada por outras pessoas. A mãe vai para um lugar religioso e passa a ter um relacionamento com o líder. Enquanto isso sua filha é criada pelas pessoas do local. O pai também é ausente. Os poucos momentos que tenta proteger a filha duram pouco. Muda de cidade sem avisar, deixa a filha pra trás aos cuidados de outras pessoas. O abandono é constante. São relações muito complexas. Incrível como Antara é cobrada o tempo todo para não ignorar o pai, para cuidar da mãe, mas poucos param pra acolhê-la e entendê-la. Antara parece só ter obrigações.

Obra Abraçando o Infinito de Rooma Mehra

Ela resolve então engravidar do marido, meio sem pensar. Interessante como a sociedade não questiona uma mulher casada engravide, parece natural. Ela resolve engravidar no meio desse caos, no impulso, e todos acham normal, agem como se a gravidez estivesse sendo processada naturalmente. E como acontece muito, só falam da criança que virá e depois do bebê, Antara continua invisível. É um livro muito complexo!


Beijos,
Pedrita

15 comentários:

  1. Não quer aparecer meu nome.
    Penso que mãe ama demais os filhos, mas tem filhos que a identificação é maior.
    Sabe que até hoje não sei o que é "artista plástico". Vejo coisas horríveis de pessoas se dizendo isso. Beijo, Liliane

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. liliane, sim, há mães q amam demais os filhos e as q os odeiam. a maternidade não é sinônimo de amor incondicional como propagam. pode acontecer ou não. e há mães muito, mas muito ruins, más mesmo.

      Excluir
  2. É certo que há mães de todos os jeitos, inclusive as terríveis, capazes até de matar os próprios filhos por razões banais, ou mesmo por nenhuma razão. Não entro nessa de endeusar uma mãe apenas por ela ter colocado um filho no mundo.
    Mas tem outro lado também, sabe? Mesmo ótimas mães passam por julgamentos e coisas tais. Em geral, é difícil ser mãe. Conheço uma mãe que adotou uma menina, encheu a criança de amor, fez tudo o que pode, exceto contar à garota que ela tinha sido adotada. Ao chegar à adolescência, a jovem descobriu a própria origem e ficou muito revoltada, foi procurar a mãe biológica, acusando a adotiva de um monte de coisa. Com o tempo a crise foi superada, mas mãe é sempre "tão culpada" por tudo, que existem até obras com o nome "A culpa é da mãe", rsrs.

    Beijo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. marly, exato. claro, as mães são muito cobradas tb. o pai da protagonista é muito ausente, cruel até, mas a mãe q é mais cobrada.

      Excluir
  3. Boa noite, Pedrita. Vi o seu comentário no blog do Ricardo falando de não lidar bem com as coisas do passado, resolvi te visitar e gostei do teu blog. A relação de todos dessa família é doentia. Não se sabe qual o gatilho foi despertado para a mãe teve tais atitudes, claro que isso causa sentimentos de menos valia. Uma relação assim, para mim, é extremamente difícil de curar. A filha destroçada e fácil de ser julgada Muito complicada a situação.
    Tenha uma semana abençoada.
    Beijos na alma

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. patricia, obrigada pela visita. exato, a família toda é doentia. sim, a filha sofre muito com os sentimentos controversos que tem após a mãe ficar doente. e os outros familiares só pioram.

      Excluir
  4. Imagino ser um livro muito interessante de ler
    *
    Quarta feira com Saúde, Paz e Amor.
    */*

    ResponderExcluir
  5. Deve ser um livro difícil de ler com muitas camadas e muito necessário por se tratar de famílias disfuncionais.
    Levo a indicação.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. luli, foi bastante pq ela se vê em dilemas de como proteger a mãe sem se ferir mais.

      Excluir
  6. Oi Pedrita. O tema desse livro já chama atenção. *Açúcar queimado. E retrata uma difícil relação entre mãe e filha. Interessante ler. E tirar lições para a vida. Parabéns por compartilhar. Bjs querida. NalPontes

    ResponderExcluir
  7. Num momento em que cuido de minha mãe retida em cadeira de roda e a viver comigo com imensas limitações e a provocar-me muitas restrições na minha vida, é um tema difícil. Nunca ouvi falar da obra nem da autora.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. carlos, não é uma leitura fácil. eu já passei por esse processo e é muito difícil. fui ler agora pra tentar entender os sentimentos controversos que tive na época.

      Excluir

Cultura é vida!