Mãe! permite inúmeras interpretações e li uma entrevista com o diretor onde ele se divertia com as inúmeras visões que os jornalistas da coletiva tinham tido com o seu filme, mas há uma questão, a que acho mais impactante, que passa a ser fundamental para debatermos nos dias de hoje. Na entrevista o diretor fala da indiferença há duas questões ambientais no Canadá e Estados Unidos, mas que você traz a questão para dentro de sua casa, quando pessoas entram na sua casa sem você convidar e queimam o seu tapete, as pessoas ficam indignadas. E é esse o grande trunfo de Mãe! Colocar a terra como uma mulher constantemente violentada, desrespeitada, invadida, dentro de sua intimidade, dentro de sua própria casa. A terra é a casa e nós invadimos sem a menor cerimônia, mudando como bem entendemos a casa do outro.
No finalzinho que eu achei que a protagonista era a terra e tudo se encaixou junto com a perplexidade. As relações bíblicas são alegorias para contar a história. Um casal está arrumando a casa que já tinha sido totalmente destruída por um incêndio. A protagonista cuida de cada detalhe, enquanto um marido narcisista, egoísta e egocêntrico a ignora por completo. Talvez aí o ódio de muitos para esse filme já que esse homem pode ser deus. Até que o diretor não errou muito com essa imagem de deus que tudo vê e nada faz, um verdadeiro omisso que adora ser idolatrado e pouco se importa com o resto, inclusive pouco se importa com a terra. E se existe não é mais ou menos assim? As crianças continuam morrendo de fome no mundo, na Etiópia, nas travessias de fugas de imigrantes e se existe alguém que "olha por nós", porque continuam morrendo? O homem tem a mesma arrogância quando a terra cobra dele alguma proteção, alguma posição. Ele sempre a menospreza, maltrata e a violenta, mas ele vai muito mais longe, um verdadeiro monstro.
As pessoas vão entrando nessa casa sem pedir autorização ou dizem que o marido convidou e vão usando tudo, quebrando tudo e pasmem, até pintando a casa porque viram a tinta... Ela fica indignada, mas todos riem, ou reclamam dela e continuam. Ela diz que a casa é dela e todos riem. E não é como fazemos com a terra? Compram uma fazenda e a primeira coisa que fazem é derrubar todas as árvores, inúmeras raras e centenárias. Constroem uma casa e aí plantam umas poucas árvores onde poucas vão sobreviver como "reposição". Mas se enjoam da casa naquele lugar, destroem tudo de novo, tiram as árvores de novo e plantam outras de novo depois em outro lugar. Mas fora esses exageros monstruosos, o que cada um de nós faz por essa casa de outra pessoa? Realmente simbolizar a terra na casa de alguém fica tudo mais claro. A convidada deixa inúmeras cascas de limão espalhadas pela cozinha com inúmeras outras sujeiras e a "terra" que limpe. E a pia que não estava soldada? Ela avisa várias vezes para não sentarem nela e riem dela. E o quanto rimos de quem fala para cuidarmos melhor do planeta, quantos já vi rirem quando você fala pra não jogar lixo no chão. E voltamos de novo para nossas pequenas ações, o quanto consumimos lixo e jogamos "lá fora", no próprio planeta.
As referências bíblicas foram as que menos interessaram. Elas permitiram a história ter um roteiro, Adão e Eva, Caim e Abel, e no final o apocalipse. O diretor falou ainda que tinha o sacrifício de Jesus e outras referências, mas é o de menos. Servem para mostrar como o homem tudo invade, como cada um de nós não respeita a nossa casa que é a terra que de forma tão generosa nos acolhe. A terra é a Mãe que tenta a todo custo preservar a casa, cuida, cozinha, ama e nós só usamos, destruímos. No "apocalipse" os homens matam uns aos outros sem explicações claras. E o parto? É insuportável. Ela está em trabalho de parto e continua sofrendo violências, não é protegida, a empurram, a agridem. O filme é contundente demais, insuportável demais, como somos desumanos. Qual a parcela de culpa de cada um de nós para a destruição da terra? No filme há os monstros, os radicais, mas eu fiquei desconfortável várias vezes e me perguntava o que eu fazia para proteger a terra? Nunca vou esquecer esse filme.
Todo o elenco está impressionante. Que incrível a atuação da Jennifer Lawrence. Como Javier Bardem está insuportável como esse homem omisso, agressivo e assassino. Os personagens do Ed Harris e da Michelle Pfeiffer também dão vontade de esganar. Ela pede que não fumem na casa, ele finge que aceita, mas continua fumando, até mesmo na cara dela. E a esposa ridiculariza o tempo todo a anfitriã. Fala mal de tudo, o quanto não reclamamos do que ganhamos de graça da terra?
Beijos,
Pedrita
Quero ver este filme também, pensava que o veria agora, que estreou nos canais pagos, mas perdi a estréia. Logo que soube dele também entendi que a tal mãe era uma alegoria para algo maior.
ResponderExcluirVejo a questão do mal com relação a Deus do seguinte modo: acho que a intervenção direta de Deus, nas questões que você colocou (sofrimentos de inocentes, fome, etc.) resultaria na quebra do livre arbítrio humano, pois os seres humanos é que causam as malignidades existentes na Terra (e é muito possível, como muitos sábios acreditam, que até mesmo os males naturais, como os terremotos, as explosões de vulcões, etc. sejam impulsionados pelas energias negativas da humanidade). Por outro lado, a Terra tem o suficiente para todos, mas alguns tomam a maior parte para si, doa em quem doer.
A existência do mal no mundo - resultado direto da ação humana - tornou-se - digamos - 'necessária' para que a gente entendesse que também o bem (a beleza, a bondade, a justiça, a esperança, o bom senso...) poderiam não existir do modo como o conhecemos, o mundo podia perfeitamente ser um campo de guerras eternas, em que a gente mal pudesse respirar, que dirá experimentar alguma felicidade. No entanto, todos conhecemos pessoas que tendo vivido em grande penúria material, dor ou sofrimento moral, relatam ter - a despeito de tudo - experimentado alegrias.
De resto, há muitas questões no mundo que não compreendemos: Não sabemos de onde viemos nem se vamos para algum lugar, depois que morremos (refiro-me à nossa consciência, conhecimento e experiencias).
Também não entendemos o tempo, que é um elemento fundamental de nossas vidas; pode ser que o tempo que experimentamos, que muitas vezes, nos parece muito longo, especialmente quando é preenchido por coisas difíceis de suportar, não passe de instantes, se contraposto a outro tempo, que desconhecemos. Enfim, acho que essa questão é muita complexa.
Beijoca
marly, cada um interpreta como quer. mas no filme deus é desprezível. talvez fosse melhor não existir mesmo para ser aquele homem horrível.
ExcluirÉ uma experiência bizarra com diversas referências a fatos bíblicos e simbolismos religiosos.
ResponderExcluirÉ mais polêmico do que um grande filme, mas não chega a decepcionar.
Bjs
hugo, eu achei incrível. as referências bíblicas se tornam desnecessárias. eu preferi focar no q a humanidade é capaz de fazer com a terra.
ExcluirComecei a vê o filme mas não terminei.
ResponderExcluirDepois dessa sua resenha, vai ser difícil continuar.
Não vi, até onde vi, esse simbolismo.
liliane, eu cheguei a conclusão que a mãe seria a terra no final. mas os outros simbolismos achei desnecessários. a parte ambiental já é tema suficiente para reflexões sobre o que fazemos com o planeta.
ExcluirGosto muito dos dois atores, mas ainda não vi.
ResponderExcluirbig beijos
www.luluonthesky.com
lulu, é muito forte. impactante.
ExcluirTenho certa curiosidade de conferir apesar das críticas.
ResponderExcluirBeijos,
Pri
www.vintagepri.com.br
pri, eu não ia ver até ver que era suspense. mas vale ver. não é um filme fácil.
ExcluirOlá, querida Pedrita!
ResponderExcluirPela resenha eu assistiria, fique curiosa.
Há muitas coisas acontecendo que estão na Bíblia.
Beijinhos
andréa, o diretor usa a bíblia como fio condutor da trama.
ExcluirOlá Pedrita
ResponderExcluirMesmo com muitas avaliações negativas, estava curiosa com esse filme, e fiquei ainda mais instigada depois da sua resenha.
Excelente resenha como sempre.
Bjs Luli
https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br
luli, como falaram que tinha religião não ia ver. mas depois vi suspense e fiquei curiosa. a parte de meio ambiente é muito impactante. obrigada.
ExcluirNa primeira vez eu não aprovei muito, mas após entender as metáforas, passei a gostar bastante. Belo texto Pedrita! Comentei sobre esse filme aqui: https://consideracoessobrefilmes.blogspot.com/2017/12/mae-2017.html
ResponderExcluirjosé, as metáforas foram o q menos me interessaram. gostei muito da mãe ser a terra e o q fazemos com ela.
ExcluirComplexo o texto e ainda mais quando o título seja algo forte e impactante de triste: MÃE.
ResponderExcluirBJ.
isa, foi muito inteligente fazer a mãe ser a terra.
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