quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

No Fundo do Poço de Buchi Emecheta

Terminei de ler No Fundo do Poço (1972) de Buchi Emecheta da Dublinense Editora. Eu fui no stand da editora na Feira de Livros da USP procurar um livro, os vendedores ótimos, logo perceberam os meus gostos e me indicaram essa autora nigeriana que era a "Chimamanda deles". Depois eu descobri que foi a Chimamanda que indicou essa autora. É uma bela edição com ilustrações de Luiza Zardo.

O marcador de livros é magnético e parte de uma obra de Tomie Ohtake

Buchi Emecheta (1944-2017) escreve parte da sua história nesse livro de nome original Na Vala, misturada a ficção. Conta a história que viveu em um condomínio miserável na Inglaterra com seus 5 filhos. Vala era o buraco no colchão que um filho ficava no apartamento anterior que era lotado de ratos. Um assistente social consegue outro apartamento. As vizinhas acham o lugar ruim que ela iria, mas ela fica muito feliz com o apartamento porque agora tem um banheiro. O anterior o banheiro era coletivo. Imagine usar um banheiro coletivo com 5 crianças.
Obra de Joseph Eze

O estilo da autora é impressionante, que qualidade de texto. No condomínio ela trabalhava de dia em um museu e estudava sociologia à noite. A assistente social a procura, os vizinhos reclamam que ela deixa os filhos sozinhos. E claro, o preconceito e a curiosidade fazem eles quererem saber o que ela faz toda noite. A autora acaba falando muito de preconceito, miséria. Ela não queria largar o emprego e viver do dinheiro social, queria ter dignidade, trabalhar, mas as regras na Inglaterra a impedem. Ela sente que nunca mais vai sair daquele lugar de dependência e miserabilidade. A assistente social arranja jovens pra cuidar dos filhos dela à noite.

Obra de Akpokiere Karo.

Apesar da hostilidade inicial dos vizinhos, ela acaba se adaptando e tendo apoio. Quando o condomínio vai ser desativado ela reluta demasiadamente em se inscrever para outros apartamentos. Buchi fala muito da situação da mulher. Ela casou aos 16 anos e foi viver com o marido na Inglaterra, vieram os cinco filhos e a separação. Ela se vê sozinha para criar os filhos e estudar. O olhar sociológico, dos estudos, estão em seu texto, há um olhar aprofundado dos fatos que é muito impressionante. É daquelas obras que eu fico querendo que todo mundo leia, por ser tão fundamental.
Obra de Rufus Ogundele

Trecho de No Fundo do Poço de Buchi Emecheta:

“A polícia não podia fazer muito por uma esposa espancada. Às vezes parecia que o matrimônio, além e ser uma maneira dos homens conseguirem sexo gratuito quando quisessem, também uma forma legalizada de cometer agressões e sair impunemente”.

Os pintores são nigerianos como a autora.


Beijos,
Pedrita

8 comentários:

  1. Nunca ouvira falar da autora, pesquisei e descobri que tem 2 livros editados em Portugal, com títulos diferentes e publicados em 2000 e 2002.

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    1. carlos, eu descobri pq os vendedores q me mostraram. é incrível. foi uma surpresa e tanto. q qualidade de texto e de observação.

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  2. Olá Pedrita
    Ainda não li nada dá autora.
    Creio que essa obra deve ser fascinante, uma vida tão difícil, mas vivida com dignidade e esforços para melhorar as condições básicas e formação.
    E com olhar ao mesmo tempo realista e sensível.
    Já anotei aqui a indicação.
    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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    1. luli, é incrível, fico querendo indicar pra todo mundo essa obra.

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  3. Gosto quando as pessoas marginalizadas ou sujeitas a dificuldades especiais escrevem sobre os seus problemas. Foi por isso que gostei do livro da Carolina de Jesus (Quarto de despejo). O livro resenhado vai na mesma direção e parece ser bem mais explícito e um pouco mais complexo. Vou ver se o encontro.

    Beijo

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    1. marly, quero muito ler quarto de despejo. mas realmente o fato da autora ter cursado sociologia dá um olhar bem interessante sobre essa vida invisível.

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  4. Deve ser interessante esse livro.
    big beijos

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