segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Doutor Gama

Assisti Doutor Gama (2021) de Jeferson De na Globoplay. Eu ansiava em ver esse filme, assim que assinei a Globoplay foi o que primeiro procurei. Eu acompanhava a confecção desde as gravações, quando saíram as primeiras fotos. Que filme! Eu tinha lido uma biografia O Advogado e o Imperador.
 

Jeferson De é um dos grandes diretores da atualidade e ele é cirúrgico em Doutor Gama. Que edição inteligente, que escolhas geniais. O roteiro é de Luiz Antônio. Fala muito do que precisa ser dito, sem ser didático ou panfletário. Como o filme precisa falar da vida de um homem, seria necessário escolher alguns momentos e a edição foi brilhante. Luiz Gama era livre, vivia com a sua mãe que precisa partir e fica com seu pai branco que o vende. O filme mostra esse processo e no livro detalha mais. Quando Luiz Gama nasceu já existia a Lei do Ventre Livre, aquelas leis sucessivas que o Brasil criou para "inglês ver" que na prática não funcionava. A igreja ajudava a forjar os nascimentos das crianças, para que fossem antes da Lei do Ventre Livre, isso mesmo, a igreja. E o pai de Luiz Gama faz isso na igreja e vende o garoto. Pedro Guilherme arrasa como Luiz Gama criança. Eu adoro esse ator que tinha nos emocionado em Amor de Mãe. Ele segue da Bahia ao Rio de Janeiro para ser vendido. Lindo como é acolhido no navio pelos escravizados, um é o grande Romeu Evaristo que tem um personagem fundamental na trama.
Angelo Fernandes, que está ótimo, interpreta Luiz Gama adolescente. O filho do patrão (Johnny Massaro) ensina ele a ler, ele passa a ter acesso a livros de direito e começa a entender o que pode fazer por ele e pelos escravizados. Simbólica e emocionante a cena que ele consegue pela lei finalmente voltar a liberdade e vai embora da fazenda. Teka Romualdo contracena com ele esse momento. Muito linda a atriz que interpreta a futura esposa de Gama, Samira Carvalho, depois é a ótima Mariana Nunes. Zezé Motta interpreta sua mãe. O patrão é Nelson Baskeville  e a esposa a Paula Picarelli. 
Muito inteligente como colocam a luta dos negros no filme. Em alguns diálogos e momentos, Luiz Gama diz que ele escolheu as leis pra lutar pelos negros, já os personagens de Dani Ornellas e Alan Rocha, a luta. É sutil e pontual.
O incrível César Mello faz Luiz Gama adulto, que ator, que escolhas brilhantes de texto para ele. Luiz Gama torna-se um grande advogado, não pela universidade que não o aceitou, mas por uma brecha na época que permitia que assistentes advogassem por quem ninguém queria defender. Com a lei, Luiz Gama libertou mais de 500 escravos. Esses dados aparecem em texto ao final do filme.
Escolhem um tribunal para finalizar o filme. Apesar de óbvio, porque foi onde Luiz Gama passava a maior parte do tempo, escolheram um caso onde ele poderia mostrar todos os absurdos da escravidão. E com os textos do advogado escravocrata mostraram muitos dos absurdos do pensamento de superioridade racial. Erom Cordeiro arrasa. Os discursos horrendos arrepiam por lembrar mais do que gostaríamos os momentos atuais. Sidney Santiago é o escravizado julgado. O elenco maravilhoso só continua. Agyei Augusto, a criança encantadora de Todos os Mortos é filho de Luiz Gama. Alguns outros do elenco são Clara Choveaux, Higor Campagnaro, Joca Andreazza, Daniel Rocha e Fernanda Ross. Isabel Zuáá é a mãe de Luiz. Linda demais a cena da aparição sobrenatural no julgamento. Fui às lágrimas.
Beijos,
Pedrita

8 comentários:

  1. Acredito que seja um filme empolgante de ver
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    Feliz Halloween … Saudações cordiais.
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  2. Quero ver. E fico sempre feliz quando me deparo com obras culturais que contam a história real de pessoas e eventos históricos.

    Beijoi

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    1. marly, precisamos contar nossa história. é muito bom, vc vai gostar.

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  3. nao vi mas ja ouvi falar bjs saude feliz dia dos Santos

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  4. Estou absolutamente impactada com sua resenha.
    Uma palavra define: perfeição ❤
    Simplesmente preciso assistir!

    Bjs Luli

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