domingo, 10 de abril de 2022

A Assistente

Assisti A Assistente (2019) de Kitty Green na HBO Go. Eu não fazia ideia do que era esse filme e foi uma grata surpresa. É desconfortável e fala de muitas questões abusivas de trabalho. Passa-se em um único dia de trabalho da assistente. Julia Garner está impressionante.

Quando está escuro ela acorda para ir ao trabalho. Um carro vai buscá-la e ela vai meio dormindo. É a primeira a chegar, prepara o café quase dormindo e começa a preparar tudo. Ela é praticamente invisível no trabalho. Todos só falam com ela quando precisam de algo. Ela trabalha com mais dois colegas, mas eles só falam com ela pra pedir algo. Eles dois conversam entre si, mas não com ela. 
Os dois também ajudam a ela escrever os humilhantes pedidos de desculpas ao chefe. Ela faz tudo, limpa as salas de reuniões, a louça, a sala do chefe. E logo percebemos que é uma produtora de filmes, ela prepara os roteiros, vive no xerox preparando tudo, a parte financeira, agendamentos, mas nem por isso deixa de fazer serviços de limpeza que estranhei ela assumir. Ela é invisível. Todos parecem nunca vê-la e nunca dirigir a palavra, como disse, só quando precisam dela.

Quando chega uma nova assistente (Kristine Froseth), a "paciência" da jovem se esgota. Ela segue para o RH, mas tão cega dos seus afazeres, que o que ela se incomoda mesmo é imaginar que a jovem é mais um caso do seu chefe. É o chefe do RH (Matthew Macfadyen) que vai percebendo que a jovem exerce funções além da sua competência, principalmente abaixo do seu cargo como limpeza. Ele inclusive sabe que ela é a primeira a chegar e a última a sair e essa abuso de carga horária igualmente não parece ser um problema. Ele vê que o escritório claramente abusa dela. Ele comenta que tem pessoal de limpeza para fazer alguns trabalhos que ela faz. Mas a conversa no RH é machista, ele é meio debochado com ela, desqualifica as suas queixas, mostra que muitos queriam estar no lugar dela, humilha como todos os outros. O responsável mostra a jovem que é melhor esquecer a queixa, que ele nem vai catalogar, e induz a jovem a desistir da reclamação.
Quando ela volta ao escritório, o chefe do RH, nada ético, espalhou as reclamações dela. Todos ficam sabendo. É quando ela deixa de ser invisível e todos passam a se preocupar com ela. A oferecer ajuda. De novo ela tem que escrever um email humilhante ao chefe e só aí ele responde elogiando o trabalho dela, algo que nunca ninguém fez. Ela começa então a deixar de ser invisível e receber elogios. Todos vão indo embora e tarde da noite o chefe a dispensa. Que filme profundo e atual. Fiquei pensando se a diretora não se inspirou nela mesma já que é hoje em dia produtora e diretora. A jovem quer ser produtora no futuro e por isso se sujeita a tudo, como diz o pai dela ao telefone, é uma grande oportunidade. Todos inclusive falam isso pra ela, que muitos queriam estar no lugar dela, como se todos os abusos tivessem que ser aceitos porque ela é uma privilegiada, não uma escravizada.
Beijos,
Pedrita

12 comentários:

  1. Bom dia. Obrigado pela dica. Bom início de semana.

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  2. Parece ser muito bom. E a questão do abuso é muito atual. Aqui no Brasil, ao que parece, depois das mudanças nas leis trabalhistas, a exploração está 'correndo solta'. Horas atrás eu li num post (de jornal) do FB, a reclamação de um funcionário que havia descoberto, por acaso, que a água servida no escritório era cobrada dos funcionários. Mas o pior foi ler dezenas de comentários, dos tais neo liberalóides e dos perfis pagos para defender os empresários. Todos diziam que tem mesmo que ser assim e que a alternativa seria o funcionário levar a própria água para o trabalho.

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    1. marly, exato e esse abuso subliminar, que parece oportunidade de carreira. q é assim mesmo. começo é assim mesmo, depois melhora. sim, essa ideia de meritocracia. q se não está satisfeito outros estão. um horror.

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  3. Parece interessante hein?

    juliamodelodemodelo.blogspot.com

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  4. Não conhecia.
    Deve ser impactante e bastante desconfortável
    Já levo a indicação

    Bjs Luli
    https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

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    1. luli, é incrível. sutilmente a diretora foi no ponto.

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